Se o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, confirmar sua renúncia amanhã, no mesmo dia toma posse no cargo o primeiro vice-presidente, deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL). A partir daí, começa a valer o prazo de cinco sessões legislativas para que ele convoque eleições para a escolha do novo presidente da Casa. Para ser eleito logo no primeiro turno, o candidato precisa ter, pelo menos, o voto de 257 parlamentares. A votação é secreta e pode haver segundo turno, caso os concorrentes não atinjam a marca.
Os partidos de maior bancada, o PT e o PMDB já tentam promover nomes que possam ocupar o cargo. Entre os peemedebistas, o mais cotado é o presidente da legenda, deputado Michel Temer (SP). No PT, os correligionários se dividem entre José Eduardo Cardozo (SP), Sigmaringa Seixas (DF) e Paulo Delgado (MG). A idéia desta vez é definir um candidato que seja consenso entre as bancadas dias antes das eleições e evitar episódio semelhante ao ocorrido no último dia 15 de fevereiro, quando os parlamentares elegeram o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Casa.
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A eleição de Severino contrariou todas as análises de comentaristas políticos, jornalistas e dos políticos mais experientes. Em uma espécie de protesto dos parlamentares contra a tutela do governo sobre a Câmara, a escolha de Severino, um típico representante do baixo clero (grupo de parlamentares com pouca representatividade dentro do parlamento), foi uma forte afronta ao PT, que ficou sem nenhum cargo na Mesa Diretora. Foi a primeira vez na história da democracia brasileira que o partido do governo não conseguiu eleger um diretor da Câmara.
Escolhido por 300 dos 513 deputados da Casa, Severino desbancou, no segundo turno, o candidato petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), indicado pelo partido embora a mando do Planalto. Greenhalgh não era o principal nome dentro do PT e, principalmente, na base aliada, que preferia um candidato com maior trânsito entre os partidos. Mesmo assim, os petistas insistiram na candidatura do parlamentar e, dessa insistência, outro deputado do PT, Virgílio Guimarães (MG), decidiu entrar na disputa como candidato avulso do partido.
O PT não conseguiu resolver o impasse dentro de sua própria bancada e a base aliada, insatisfeita com a briga interna do partido, colocou Severino Cavalcanti na presidência da Casa. A votação, que começou às 14h do dia 14 de fevereiro, só foi encerrada às 6h30 do dia seguinte.
Desde então, a primeira passagem de um membro do baixo clero pelo cargo mais importante da Câmara correu sem grandes sobressaltos, até o dia em que o empresário Sebastião Buani denunciou a existência do mensalinho, pagamento de propina mensal a Severino, quando ele ainda era primeiro-secretário da Casa.
PublicidadeO dinheiro serviu para garantir a concessão de um restaurante que o empresário mantinha até sexta-feira no 10º andar do anexo IV da Câmara. Buani aceitou pagar, em 2002, R$ 40 mil a Severino em troca de um contrato que prorrogava, sem licitação, a concessão para operar o restaurante por mais três anos. O documento não tinha valor legal e, para manter o restaurante aberto, o empresário pagava R$ 10 mil todos os meses ao parlamentar.
No mês passado, ele denunciou a fraude e deu início à crise individual de Severino, que vai resultar no pedido de renúncia do parlamentar e encerrar a história do baixo clero na presidência da Câmara.