O advogado Alexandre Martins de Castro, pai do juiz morto em março de 2003 no Espírito Santo, procurou ontem (terça, 3) o Congresso em Foco para dar sua versão sobre as investigações do assassinato do filho. Alexandre, que mantém escritório de advocacia no Rio e em Vitória e é professor de Direito na capital capixaba, havia sido procurado antes de este site publicar a primeira reportagem sobre o tema. Disse que demorou a dar retorno porque a repórter Maria Elena Azevedo havia deixado recados em um celular que ele raramente usa.
No seu entender, o homicídio de Alexandre Filho está esclarecido e não tem conexão com as denúncias de envolvimento do governador Paulo Hartung (PMDB) e do deputado federal Lelo Coimbra (PMDB-DF) com o crime organizado no Espírito Santo. Ele elogiou o empenho de Hartung para esclarecer a morte do seu filho. Afirma não acreditar na veracidade do depoimento da personal trainer Julia Eugênia Fontoura, segundo a qual o juiz Alexandre temia ser morto por Paulo Hartung. E diz que somente a defesa dos acusados tem interesse em vincular o assassinato do seu filho com as supostas ligações do governador e seu ex-vice com o crime organizado.
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Veja as principais afirmações feitas pelo advogado Alexandre Martins de Castro:
“Não há nenhuma evidência de qualquer participação de autoridades no mando, especialmente o governador do estado, Paulo Hartung. Pelo contrário, ele se empenhou e tem se empenhado muito nas investigações e sempre esteve à frente de tudo e disponibilizou sempre o que eu precisei. Essa participação do governador nessa história é uma estratégia que só interessa à defesa dos acusados.
Agora, isso é uma estratégia da defesa. Só interessa a eles, que participaram do crime. Eles usam dois argumentos, que são muito contraditórios, mas eles usam. Uma é dizer que foi latrocínio, não tem mandante. E ora eles dizem que há autoridades maiores envolvidas. Porque isso ira tumultuar a própria competência de atuação, deslocando a competência de atuação para o Superior Tribunal de Justiça, aí em Brasília. Uma série de artimanhas que estão sendo feitas exatamente para evitar que essa apuração continue.
PublicidadeSe eu tivesse alguma coisa contra, eu seria o primeiro a falar. Eu não tenho nenhum compromisso com o governador. Eu não ocupei nenhum cargo do governador. A única coisa é que ele prometeu foi empenho para apurar a morte do meu filho.
O Thor é condenado por um homicídio, ele deu três depoimentos diferentes. Num ele acusa, no outro não acusa e no outro ele diz que recebeu dinheiro para falar aquilo. Então a apresentação de três depoimentos completamente diferentes e ainda a confissão de que ele recebeu dinheiro para fazer um depoimento faz com que ele não tenha a menor credibilidade. Há um aspecto de que ele foi ouvido pelo meu filho. Mas a isso não demos muita importância.
[Lembrado que a Polícia confirmou a participação do ex-vereador José Coimbra na morte do segurança José Carlos Preciosa, como afirmara Thor, ele prossegue] Eu não tenho dados para afirmar. Esse crime era anterior e não teve nenhuma relação com o caso do Alexandre. Agora, o fato de o Thor ter alguma coisa que possa ter verdade… agora eu não vejo e nem ninguém apurou isso: qualquer ligação entre o assissinato do Preciosa e a morte do Alexandre. Não há qualquer ligação entre o crime do Preciosa e o do Alexandre, são dois crimes completamente diferentes. Não há nenhum ponto comum entre eles.
Não entendo porque, quatro anos depois, ainda há um hábeas corpus no Supremo Tribunal Federal em um processo cuja bateria de provas contra o juiz Antônio Leopoldo é gritante. Agora há uma certa tendência em protelar o julgamento. Minha angústia é exatamente a demora no julgamento de um processo. Não é a palavra de Thor. São inúmeras provas que convergem para a convicção de que o juiz foi o mandante.
O depoimento da personal trainer. Eu não acredito. Ela teria dito que meu filho teria confidenciado a ela que estava com medo de sofrer alguma represália por parte do governador. Ela não gozava de tanta intimidade com o Alexandre, a ponto que pudesse fazer uma confidência grave dessas para ela. A última vez que eu conversei com o Alexandre foi três dias antes de ele ser assassinado. Quatro dias. Eu estive com ele e eu, sendo pai dele, seria o primeiro a saber. Ele me falava tantas coisas. Ele nunca me falou isso.
O crime organizado não é privilégio do Espírito Santo, do Rio de Janeiro nem de São Paulo. O crime organizado existe no mundo inteiro. Quando aparece alguma acusação com o mínimo de suporte, as autoridades investigam. Se não investigou A ou B, é porque não tem elementos de prova para acusar A ou B. O que eu posso lhe dizer é que o crime organizado sofre um baque muito grande no Espírito Santo com a condenação do José Carlos Gratz [ex-presidente da Assembléia Legislativa] e com o indiciamento do ex-governador [José Ignácio Ferreira]. Agora se há um outro ponto que não esteja esclarecido…”