Bombardeado por críticas de aliados à condução da política econômica e por denúncias de corrupção referentes ao período em que esteve à frente da prefeitura de Ribeirão Preto (SP), o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, antecipou para hoje o depoimento que prestaria no Senado no dia 22. Assustado com o nervosismo do mercado, Palocci foi orientado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a pôr fim às especulações sobre sua saída do governo.
O governo aposta no bom desempenho de Palocci em público para impedir que a crise política contamine a economia. No dia 21 de agosto, o ministro tranqüilizou os investidores ao rebater, em entrevista coletiva, a denúncia de que teria participado de um esquema de corrupção em Ribeirão Preto. Com os rumores da troca de ministro, o dólar comercial subiu 2,12% na segunda-feira e bateu em R$ 2,21. A Bovespa registrou baixa de 0,96%. "Vivemos um bom momento econômico e temos de evitar que a crise política contamine a economia", observa o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), cotado para assumir o ministério em caso de mudança.
Leia também
Oficialmente, Palocci irá ao plenário do Senado para falar sobre temas como a autonomia do Banco Central, a taxa básica de juros e a privatização do Banco do Estado do Ceará, conforme o requerimento aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Mas os senadores querem ouvir o ministro mesmo é sobre a série de denúncias de irregularidades envolvendo o seu nome.
Com a antecipação do depoimento, Palocci pega a oposição de surpresa e adia, por enquanto, o desgaste de ter de depor em uma comissão parlamentar de inquérito (CPI). O depoimento seguirá o regimento da CAE, cujos integrantes terão prioridade no momento de fazer as perguntas. Nesse caso, não haverá réplica. A última palavra será do ministro.
De quebra, a participação de Palocci na CAE pode adiar outro depoimento que causa incômodo ao governo: o do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, convocado para explicar na CPI dos Bingos por que quitou uma dívida de R$ 29 mil de Lula com o PT. Integrantes da comissão admitiam ontem marcar nova data para o depoimento de Okamotto por causa da presença do ministro na Casa.
Além de investigado pelo Ministério Público em Ribeirão Preto, Palocci agora enfrenta resistência dentro do próprio governo. A grande maioria dos ministros se queixa das retenções de recursos que dificultam a execução de seus planos. Boa parte dos parlamentares do PT e de partidos aliados, além de empresários, ativistas sindicais e economistas, consideram exageradas as atuais taxas de juros ou as metas de superávit (que obrigam o governo a investir menos).
PublicidadeNa semana passada, na CPI dos Bingos, o advogado Rogério Buratti voltou a responsabilizar Palocci por um esquema de corrupção no interior paulista que teria como destino o caixa dois do PT. Blindado até recentemente pela oposição, que apóia a atual política econômica, o ministro está sendo questionado agora pelo PFL e pelo PSDB. “Não importa o desempenho do ministro, mas é certo que Palocci nunca mais terá a mesma força”, avalia o líder dos tucanos, o senador Arthur Virgílio (AM).
Denúncias em série
A oposição já manifesta o desejo convocar Palocci a depor na CPI dos Bingos por causa da denúncia de que o comitê eleitoral de Lula teria recebido dinheiro de Cuba em 2002. Além de Buratti, outro ex-assessor do ministro, o economista Vladimir Poleto, confirmou a denúncia em entrevista à revista Veja. O montante teria sido entregue ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares por Ralf Barquete, ex-assessor de Palocci morto em 2004. A CPI dos Bingos pretende ouvir o secretário particular do ministro, Ademirson Ariovaldo da Silva, sobre o elevado número de ligações telefônicas trocadas, entre março de 2003 e agosto deste ano, com Poleto: 1.434.
O inferno astral do ministro da Fazenda começou em agosto, quando foi acusado por Buratti de receber uma mesada de R$ 50 mil da empresa Leão e Leão em troca da manutenção do contrato de serviços de coleta de lixo e varrição de rua em Ribeirão Preto. O dinheiro, segundo o ex-secretário de Palocci, teria como destino o caixa dois eleitoral do PT.
De acordo com o Ministério Público, há indícios de que a prefeitura superfaturou os serviços de coleta de lixo, favorecendo a Leão e Leão. Os responsáveis serão denunciados até o final do mês. Segundo o promotor Aroldo Costa Filho, o ministro poderá até ter seu indiciamento solicitado pelo MP ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas, por enquanto, ressaltou, ainda não existem provas sobre a participação do ministro no caso.
Em depoimento ao Ministério Público, Buratti também contou que Palocci teria participado de uma reunião com dois angolanos proprietários de casas de bingo em São Paulo. Em troca da promessa de legalizar a jogatina, eles teriam injetado R$ 1 milhão na campanha de Lula em 2002, coordenada pelo ministro.
Há dois meses, outra denúncia causou constrangimento a Palocci: a de que o irmão dele, Adhemar Palocci, teria feito tráfico de influência em favor de uma seguradora chamada Interbrazil. Em troca, a empresa teria doado dinheiro para a campanha do PT nas últimas eleições municipais em Goiânia, onde Adhemar foi secretário de Finanças e coordenou a campanha do ex-prefeito Pedro Wilson (PT) à reeleição.
A série de denúncias envolvendo o ministro e ex-assessores já derrubou o seu chefe de gabinete. Juscelino Dourado deixou o cargo a Fazenda após admitir ter recebido Buratti várias vezes no ministério e ter trocado telefonemas freqüentes com o advogado, acusado de cobrar propina da multinacional Gtech para facilitar os negócios da empresa na Caixa Econômica Federal (CEF).