Políticos brasileiros voltaram a circular pelo Vaticano nesta segunda-feira (14). Desta vez, para falar de Amazônia. É que um grupo de deputados da oposição participou do Sínodo Especial Pan-Amazônica – iniciativa da igreja católica que tem promovido debates sobre a Amazônia. Os deputados aproveitaram a ocasião para pedir apoio da igreja na preservação da região e, para isso, entregaram ao Vaticano um documento no qual, segundo eles, estão “resultados de diligências e investigações sobre os ataques do Estado brasileiro” à floresta e aos povos tradicionais da Amazônia.
> Mourão responde a papa Francisco que Pelé e Maradona são iguais
Intitulado de “Direitos Humanos na Amazônia Legal”, o documento versa sobre temas como desmatamento, queimadas, política ambiental, mineração em terras indígenas e trabalho infantil. São mais de 90 páginas de estudos e documentos que mostram os problemas enfrentados atualmente pelos povos indígenas e pelo meio ambiente da Amazônia, além de riscos futuros como a possibilidade de o governo parar de demarcar terras indígenas e liberar a mineração nesses territórios. Com base nisso tudo, o documento ainda defende a construção de uma política de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.
Leia também
Veja aqui a íntegra do documento “Direitos Humanos na Amazônia Legal”
“A expectativa é que esse documento saia daqui como uma denúncia internacional do que está acontecendo na Amazônia e, ao mesmo tempo, seja o ponto de partida de uma atuação conjunta entre nós do Brasil e ações políticas, ações suprapartidárias unificadas entre os movimentos sociais e a Igreja”, afirmou a líder da Minoria na Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB0-RJ).
Falando aos bispos do Vaticano durante o sínodo, ela explicou que “em momentos de grande dificuldade, os partidos políticos nunca foram suficientes” e, por isso, pediu apoio da Igreja católica nos trabalhos de preservação da Amazônia. “Temos certeza que a Igreja será uma grande parceira para que possamos ultrapassar esse momento de dificuldade, até porque esses governos são efemêros e nossa luta permanece. A Amazônia é brasileira, precisa de soberania e precisa de nós todos. E nós precisamos estar juntos nessa batalha. Esta é a nossa expectativa”, afirmou Jandira.
Além de Jandira Feghali, participaram do Sínodo Especial Pan-Amazônica, em Roma, nesta segunda-feira os deputados Camilo Capiberibe (PSB-AP), Helder Salomão (PT-ES), Bira do Pindaré (PSB-MA), Nilto Tatto (PT-SP) e Airton Faleiro (PT-PA). Eles estiveram no Vaticano, apenas um dia depois de uma comitiva oficial do governo brasileiro acompanhar a canonização da Irmã Dulce, a convite da Rede Eclesial Pan-Amazônica.
Como mostraram nas redes sociais, antes de debater a situação da Amazônia com representantes da igreja católica, os deputados participaram de uma missa em memória dos mártires que foram assassinados lutando pelos povos tradicionais e pela preservação do meio ambiente. Na ocasião, eles entoaram uma música que diz: “Viemos para incomodar, com a fé e a união nossos passos um dia vão chegar”. Veja o vídeo que publicaram no Twitter:
“Viemos para incomodar, com a fé e a união nossos passos um dia vão chegar”, música de Antônio Cardoso que pudemos cantar aqui em Roma, durante a acolhida na Tenda Casa Comum – Igreja Transpontina onde acontece o Sínodo para a Amazônia. pic.twitter.com/t1SqQ9KWEl
— Helder Salomão (@heldersalomao) October 14, 2019
Acompanhando essa movimentação no Congresso, o senador Marcos Rogério (DEM-RO), que é da base do governo, pediu, então, que os representantes brasileiros tivessem cautela e deixassem o “romantismo em torno da floresta de lado” durante o sínodo para que a região não fosse tratada com um viés político e ideológico. “Sabemos que todo e qualquer tema de abrangência internacional dificilmente é tratado livre de preconcepções políticas e ideológicas. Quero crer, todavia, que o Sínodo da Amazônia esteja livre dessa polarização que vige no mundo “, afirmou o senador.
Segundo o site de notícias do Vaticano, o secretário da Comissão de Informação do Vaticano, padre Giacomo Costa, admitiu, por sua vez, que o “urgente pedido de uma aliança com a Igreja” para a defesa dos direitos sociais e ambientais na Amazônia realmente tem sido um dos temas centrais do sínodo.
O Sínodo Especial Pan-Amazônica foi convocado em 2017 pelo Papa Francisco e desde o ano passado vem promovendo ações para debater as demandas dos povos amazônicos. Neste mês o debate foi intensificado através de uma série de atividades que colocam os bispos em diálogo com a sociedade civil no Vaticano. O sínodo começou no último dia 6 e segue até o próximo dia 27. Já no dia seguinte, será realizada a 1ª Cúpula dos Governadores dos Estados da Pan-Amazônia, em parceria com a Pontificia Academia de Ciências do Vaticano, após um pedido dos governadores brasileiros que compõem a região da chamada Amazônia Legal.