Ricardo de João Braga *
Olá, leitores. Vou escrever um pouquinho sobre reforma da Previdência, e a favor. Assim, já fiquem à vontade para avançar na leitura ou não.
Meu primeiro emprego foi no Ministério da Previdência, na sua área de estudos, em 1997. Saí e voltei depois, em 2000, pro mesmo lugar, mas então como coordenador-geral. Depois saí de novo. Assim, faço parte de uma minúscula comunidade de pessoas que, como se fôssemos vigias num farol distante da praia, espera um tsunami que para muitos é irreal, apenas fantasia.
Previdência envolve demografia, justiça social, finanças públicas e política. Todos esses elementos importam, não apenas parte deles ou o nosso espantalho favorito.
Desde 1997 aprendi que a Previdência brasileira, além de ser muito peculiar, é uma bomba-relógio.
Nosso grande problema está nas aposentadorias precoces. Seja no setor público em geral. Seja, no regime geral, nas aposentadorias por tempo de contribuição. Os extratos superiores da renda no mercado de trabalho contribuem por praticamente o mesmo tempo em que receberão benefício (computadas as pensões também).
O Brasil, país “injusto e desigual”, faz-se mais injusto e desigual pois drena recursos dos contribuintes para pagar aposentadorias que estão entre as mais altas do mundo (pagas pelo Estado ao serviço público) e as mais precoces (nenhum país desenvolvido paga aposentadorias tão precoces).
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Se não queremos fazer reforma porque o governo é corrupto e sem legitimidade, ok. Ou então porque a Fazenda pública administra mal os recursos da seguridade, isso pode ser discutido, deve ser discutido.
Contudo, não debater a sério a Previdência é um crime contra o futuro. A demagogia de certos grupos políticos e a desinformação plantada por dezenas de entidades no ouvido de quem desesperadamente não quer acreditar em tsunami são atos criminosos contra a cidadania.
Termino lembrando o que aprendi há 20 anos. Podemos fazer a reforma do nosso jeito ou esperar que ela se faça por si mesma, porque a demografia e os números da previdência são inexoráveis. Se nada for feito o sistema vai quebrar e destruir direitos, além das hoje brandidas expectativas de direito.
Para uma visão diferente sobre o mesmo assunto, veja:
Outros textos de Ricardo de João Braga:
<< Reformar a Previdência é enfrentar as desigualdades
<< Radicalismos, ódio, Frankenstein e subdesenvolvimento político
* Professor do Mestrado Profissional em Poder Legislativo da Câmara dos Deputados. Economista e Doutor em Ciência Política.