Welton Trindade *
Sim, teve música! Teve glitter! Mas não foram só brilho e agito! A 20ª Parada do Orgulho LGBTS (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e simpatizantes) de Brasília, realizada no domingo 25, teve objetivos sérios e políticos. Neste ano, o foco foi a defesa do Estado laico.
Sob o tema “Religião não se impõe, cidadania se respeita”, a marcha bateu recorde de público, com mais de 60 mil participantes. Foi uma celebração antecipada do 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT, comemorado hoje.
A movimentação foi anterior à caminhada. Desde meados de junho, a programação contou com exposição de fotos na Estação Central do Metrô, entrega de prêmio para quem atuou contra a discriminação, debates com apoio do Congresso em Foco, panfletaço para a população em geral com explicações sobre o que é Estado laico e pesquisa de opinião pública.
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No debate realizado em parceria com o Congresso em Foco, no Museu da República, surgiu uma importante proposta: a criação de Frente Parlamentar pela Laicidade. A ideia foi exposta pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). A organização da marcha tratará da implementação da frente com a parlamentar nas próximas semanas.
Para mostrar o que o segmento de não-LGBT do Distrito Federal pensa sobre o tema, a Associação da Parada do Orgulho LGBTS de Brasília realizou levantamento com 372 moradores do DF. A necessidade de falar sobre o Estado laico foi constatada: minoria (48,4%) acertou o conceito (Estado que tem posição neutra em relação a religiões). Maioria elencou definições errôneas ou não soube opinar.
PublicidadeO co-coordenador da associação, Michel Platini, explica a razão do tema. “Temos de conscientizar a população do DF a respeito de questões básicas. Se sua religião acha pecado ser LGBT, ok, é um direito! Agora, um projeto de lei não pode levar em consideração visão religiosa para negar direitos. Usar o Estado para impor visão teológica é inadmissível. E isso é recado para pastores que se elegem deputados e agem sem respeito ao Estado laico”.
Na mesma pesquisa, minoria se opôs ao casamento entre pessoas do mesmo sexo (33,6%) e maioria deu apoio a projeto de lei que criminaliza a discriminação contra LGBT (54,8%). Um problema constatado foi a negação ao uso de banheiros por pessoas trans de acordo com seu gênero (apenas 30,4%). Viu-se também que quanto mais jovem, mais rica e com maior nível de estudo é uma pessoa, mais ela respeita os direitos LGBT. Por outro lado, mais velhos, de baixa renda e poucos anos de estudo são os mais preconceituosos.
A marcha, que é a terceira mais antiga do gênero no Brasil e segundo maior evento de rua do DF, tem o que comemorar. Ano passado, o tema foi cobrança junto ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB) para regulamentação da Lei 2.615/2000, que pune discriminação contra LGBT. Na sexta 23, depois de mais de 16 anos de espera, a norma foi publicada no Diário Oficial do Distrito Federal.
O novo cenário vai ser importante para superar a discriminação no DF. Pesquisa da mesma associação, feita em 2016, mostrou que o número de LGBT discriminados caiu 20% desde 2008. Entretanto, ainda metade dos 376 entrevistados tinham sido vítimas de preconceito nos dois anos anteriores ao levantamento.
O DF tem importantes serviços para LGBT, tais como a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), especializada em atender vítimas de discriminação; o Creas Diversidade, órgão do GDF que presta apoio psicológico e em assistência social ao segmento; e o serviço Plurais, único no Brasil, que pelo Whatsapp tira dúvidas sobre DST, saúde e direitos. O número é 61 99371-4879, e o serviço é feito pela ONG brasiliense Palco, com financiamento do Ministério da Saúde.
* Welton Trindade é co-coordenador da Parada LGBTS de Brasília.
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