O assassinato do jornalista Carlos Barbon Filho, na madrugada do último domingo, em Porto Ferreira (SP), foi destaque na abertura da II Conferência Legislativa sobre a Liberdade de Imprensa, organizada pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e a Unesco, braço da ONU voltado para a educação, ciência e cultura. O evento vai debater durante todo o dia a situação da imprensa na América Latina.
Participaram da abertura da conferência o vice-presidente da República, José Alencar, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), além do representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, e do presidente da ANJ, Nelson Sirotsky. O ministro Sepúlveda Pertence representou o Supremo Tribunal Federal (STF).
Em 2003, Barbon Filho denunciou em várias reportagens um esquema de exploração sexual de menores que envolvia cinco vereadores e quatro empresários locais, apontados como suspeitos do crime. O jornalista foi assassinado no último fim de semana enquanto conversava com amigos num bar. “Esperamos que a Justiça puna exemplarmente os criminosos”, afirmou Sirotsky, o primeiro a falar.
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O presidente da ANJ disse que democracia e liberdade de imprensa são pressupostos indissociáveis e que vê com preocupação uma tentativa de determinados governos, na América Latina, de censurar o trabalho da imprensa. A conferência fará um diagnóstico dos meios de comunicação na região.
Vincent Defourny, que também citou a morte de Barbon Filho, cobrou mais segurança para os jornalistas. O vice-presidente José Alencar afirmou que o compromisso do “governo e da imprensa pela liberdade de expressão deve ser o mesmo: ser mais justo”.
“Quando um jornalista é impedido de noticiar alguma coisa, estamos prestando um grande desserviço à nação e à democracia brasileira”, declarou. José Alencar chegou, inclusive, a falar números sobre a circulação dos jornais, afirmando que ela aumentou a partir de 2004, depois da expressiva queda nos primeiros anos deste século.
PublicidadeArlindo Chinaglia afirmou que é “necessário que a imprensa exerça sua função livre e sem nenhum tipo de pressão”. (Lucas Ferraz)
"Imprensa condena em uma semana", diz Sepúlveda
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Sepúlveda Pertence disse hoje (8), durante a 2ª Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa, na Câmara dos Deputados, que a imprensa brasileira julga e condena em uma semana. "A imprensa acusa, julga e condena em uma semana e o Judiciário não pode fazer isso. E vem então a cobrança da impunidade", avaliou.
O ministro criticou esta postura que, segundo ele, só encontra equivalente na ditadura militar. "Na verdade, quem acusava, julgava e condenava em 24 horas não era da geração de vocês jornalistas. Eram os atos institucionais, era a ditadura", afirmou. "A liberdade de imprensa tem um preço da responsabilidade de imprensa. E ao Judiciário cabe o papel antipático de, às vezes, ter que impor essa responsabilidade".
Além do ministro do STF, participaram da conferência, entre outros, o vice-presidente da República, José Alencar, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Nelson Sirotsky.
Ao discursar, os convidados ressaltaram a importância da imprensa livre. "É uma missão que envolve todos os segmentos da sociedade", disse José Alencar. "Para garantir a liberdade de imprensa, é preciso unir todos os esforços vertentes", afirmou Chinaglia.
"A liberdade de imprensa não é um direito do meio de comunicação ou do jornalista, mas, antes de tudo, do cidadão", completou o presidente da ANJ. (Carol Ferrare)
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Furacão: PF acusa juíza carioca de receber propina
Gravações feitas pela Polícia Federal na investigação da Operação Furacão indicam que uma juíza do Rio de Janeiro recebia dinheiro da máfia dos caça-níqueis. De acordo com o telejornal Bom Dia Brasil, a juíza Sonia Machado, titular da Vara de Família de São Gonçalo (RJ), recebia dinheiro do esquema por meio de um policial civil.
Quem falaria com a juíza, conforme apontam as investigações da Polícia Federal, era o policial Marcos Bretas, conhecido como Marcão, um dos principais articuladores da quadrilha. Em uma conversa gravada pela PF, ela liga para cobrá-lo.
"Pra sábado, hoje eu vou saber", diz Marcão. "Ah, então tá. Então depois você me diz porque eu quero ver se pinta alguma ‘coisica’ aí pra eu chegar mais perto dos meus dez mil faltantes", responde a juíza.
No dia seguinte, Marcão fala com outra pessoa, identificada apenas como Francisco: "Me diga uma coisa, o cara lá da doutora ligou?", pergunta. "Já ligou. Já ligou, entendeu?", afirma Francisco. "Ela está indócil. Falou com ele hoje?", pergunta Marcão. "Falei, falei também. Tá tranqüilo", responde a voz do outro lado da linha.
Um dia depois, a juíza volta a falar ao telefone com Marcão. "E aí? Soube de alguma coisa? Existe alguma possibilidade de eu arrumar esse empréstimo?", pergunta. "É, acredito eu… do tio Chico?". "É, empréstimo sem devolução", ela diz. "Tio Chico falou que sim", afirma Marcão.
A juíza Sonia Machado, por meio da assessoria do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, negou que tenha aceitado propina e disse que nunca tomou decisão a favor da máfia dos caça-níqueis. Mas, de acordo com as investigações da PF, a juíza recebia dinheiro do grupo todo mês. A polícia quer saber agora como era exatamente a atuação dela no esquema. (Carol Ferrare)
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