Diante da indicação de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) à embaixada do Brasil nos Estados Unidos, a Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB) decidiu sair em defesa da carreira diplomática. A entidade frisou que o Itamaraty tem profissionais treinados e qualificados para atuar em qualquer lugar do mundo e declarou que, diante disso, a indicação de qualquer pessoa de fora da carreira para a chefia das missões internacionais brasileiras representa um demérito para o Itamaraty.
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“Não quero citar nomes, porque nossa posição não tem nada a ver com ser Eduardo ou Fulano. Nosso princípio básico é que nós temos uma carreira estruturada e profissionais que passam por um treinamento de vida para fazer o que fazem. Por isso, consideramos que indicar uma pessoa de fora é um demérito para o Itamaraty”, afirmou a presidente da ADB, a embaixadora Maria Celina, lembrando que há anos nenhum profissional de fora da carreira diplomática é chamado para assumir uma embaixada brasileira.
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Em conversa exclusiva com o Congresso em Foco, a embaixadora contou que ela mesma levou 30 anos para assumir a chefia de uma missão diplomática, pois antes disso fez cursos, teses e diversas viagens internacionais para assistir as equipes diplomáticas e, assim, aprender in loco como funciona o trabalho de um embaixador. “Ninguém assume a chefia de uma grande embaixada aos 35 anos. Você leva muito tempo, no mínimo 20 anos de carreira”, revelou Marina Celina, contando que decidiu se manifestar sobre o assunto, mesmo sem citar nomes, porque precisava defender a carreira. “A ideia não é atacar ninguém, mas lembrar que há pessoas qualificadas para isso. Esta é uma carreira séria, com pessoas sérias. Então, por que não encontraram gente nos quadros?”, questionou Maria Celina.
Junto com a diretoria da ABD, a embaixadora ainda assinou uma nota pública sobre o assunto, lembrando que há pelo menos 1,5 mil diplomatas brasileiros representando o País mundo a fora. “Embora ciente das prerrogativas presidenciais na nomeação de seus representantes diplomáticos, a ADB recorda que os quadros do Itamaraty contam com profissionais de excelência, altamente qualificados para assumir quaisquer embaixadas no exterior”, destaca o documento.
Mesmo assim, Eduardo Bolsonaro foi indicado pelo pai, o presidente Jair Bolsonaro, para assumir a embaixada do Brasil nos Estados Unidos apenas um dia depois de completar 35 anos – idade mínima exigida de um embaixador. Depois disso, ele afirmou que tinha credenciais para assumir o posto porque sabia falar inglês e espanhol e tinha habilidades apreciadas pelos americanos, como fritar hambúrguer. A declaração, por sinal, gerou diversos memes na internet – memes que, segundo Maria Celina, têm atacado ainda mais o prestígio dos diplomatas.
“Surgiram memes dizendo que, para ser embaixador da China, você precisa fritar pastel. Esses memes deixaram de ser engraçados para nós porque, nesse pacote, vai junto a diminuição da nossa carreira, de tudo que nos esforçamos, trabalhamos e lutamos. Eu não estudei para fazer concurso e fazer uma tese para depois virar chacota como fritadora de pastel”, lamentou a presidente da Associação Brasileira dos Diplomatas.
Diplomata de carreira, o deputado Marcelo Calero (Cidadania-RJ) também lamentou a indicação do filho do presidente para a embaixada nos Estados Unidos. Na sexta-feira (13), ele apresentou até um projeto de lei que exige que os embaixadores sejam diplomatas para proteger a carreira e, assim, evitar a nomeação de Eduardo Bolsonaro. Uma proposta de emenda à Constituição sugerida por um aliado do governo, porém, corre no sentido oposto, para garantir que, além de ser nomeado, Eduardo Bolsonaro não perca o mandato de deputado federal por conta disso.
Veja a íntegra da nota publicada pela associação que representa os diplomatas brasileiros:
“A Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB) recorda que, atualmente, mais de 1.500 diplomatas representam o País e defendem os interesses nacionais nas embaixadas, consulados e delegações junto a organismos internacionais, além de trabalharem em diversos órgãos do governo federal — inclusive na Presidência da República -, nos quais se encontram, hoje, mais de sessenta diplomatas cedidos.
Os diplomatas atuam em questões fundamentais nas áreas cultural, ambiental, econômica, comercial, proteção e defesa dos direitos humanos, cooperação, paz e segurança internacionais, dentre outras.
Iniciamos a carreira com uma formação ampla e consistente, por meio de um dos concursos mais rigorosos da administração pública, proporcional às exigências da atuação que precisamos ter dentro e fora do País.
Embora ciente das prerrogativas presidenciais na nomeação de seus representantes diplomáticos, a ADB recorda que os quadros do Itamaraty contam com profissionais de excelência, altamente qualificados para assumir quaisquer embaixadas no exterior.
Há mais de 100 anos os diplomatas brasileiros têm a construção da imagem e do desenvolvimento do País como seu objetivo maior, pelo qual norteiam, todos os dias, o seu desempenho. Esse é o papel para o qual foram e continuam sendo diligentemente treinados e preparados.
Associação dos Diplomatas do Brasil”
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