Lúcio Lambranho, enviado especial à América Central
Manágua (Nicarágua) – O governo de Roberto Micheletti, que assumiu o poder depois de um golpe de estado em Honduras no final de junho, determinou ontem (16) um novo toque de recolher em todo o país. O governo tinha suspendido a medida há dois dias, mas voltou atrás para tentar conter novos protestos contrários à deposição do então presidente, Manuel Zelaya.
Segundo o governo de Micheletti, o retorno da medida de estado de sítio foi renovada por que “continuam abertas ameaças de parte dos grupos que buscam provocar distúrbios e desordem no país”.
Ontem, milhares de manifestantes fecharam as principais estradas no norte e no sul de Honduras e nas maiores avenidas da capital Tegucigalpa. Desta vez, os protestos também se estenderam nos estados caribenhos de Colón, Atlântida e Cortes; Comayagua, no centro do país; Yoro, ao norte, e no oeste, em Santa Bárbara e Copán.
Greve geral
Caso a situação não seja resolvida com o retorno de Zelaya ao poder, os opositores de Micheletti reunidos na Frente Nacional de Resistência Popular prometem um greve geral a partir da próxima semana. A estratégia foi revelada ontem por Rafael Alegría, dirigente dos trabalhadores rurais de Honduras e que faz parte da Liga Campesina, uma organização que também agrega o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
Escondido fora do país desde o golpe, o candidato presidencial do Partido de Unificação (UD), César Ham, disse à agência espanhola Efe que Zelaya retornará ao país em breve. O UD é um dos partidos da esquerda hondurenha e teve um dos seus líderes assassinado, como mostrou o Congresso em Foco, no último dia 12 deste mês (leia mais).
Golpe contra Alba
O presidente da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Miguel D´Escoto, afirmou que o golpe não foi contra Zelaya, mas contra as pretenções políticas da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) na região.
Como mostrou o site (leia mais), o governo interino tenta barrar a entrada dos vizinhos nicaraguenses desde o golpe de estado. A Nicarágua faz parte da Alba, comandada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chavez. Todos os países da Alba condenam o golpe, especialmente Venezuela que tem apoiado Zelaya desde os dois últimos anos do seu governo.
D´Escoto também acredita que as negociações para resolver a crise política, mediada pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, tendem ao fracasso. “Temos que estar alertas por que este golpe não é só contra Zelaya. É contra a Alba”, acredita o presidente da Assembleia Geral na Organização das Nações Unidas.
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