O Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), responsável pela invasão à Câmara na última terça-feira, se mantinha às custas de recursos do governo federal. A Associação Nacional de Apoio à Reforma Agrária (Anara), entidade fundada e comandada por líderes do MLST, recebeu cerca de R$ 5,7 milhões dos cofres públicos nos últimos sete anos. Desse total, R$ 5,6 milhões apenas do governo Lula. Dos recursos transferidos à Anara, a maior parte (R$ 4,2 milhões) foi repassada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Levantamento feito pela ONG Contas Abertas, no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), revela que o líder do MLST, Bruno Maranhão, é responsável por três dos quatro convênios firmados entre a Anara e a União. Outro integrante do movimento, Edmilson de Oliveira Lima, aparece como responsável em outro. Maranhão e Edmilson estão entre os 42 indiciadas pela Polícia Federal que responderão na Justiça pela invasão à Câmara dos Deputados, que deixou 41 feridos e mais de R$ 100 mil em prejuízos materiais.
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De acordo com o Siafi, os recursos transferidos à associação financiariam cursos e oficinas de capacitação em diversos estados, além de 21 encontros regionais e um nacional. Em agosto de 2004, por exemplo, a Anara recebeu R$ 1,1 milhão do Incra, repasse feito pouco depois de visita de 14 líderes do MLST, entre eles Bruno Maranhão, ao Palácio do Planalto. Na ocasião, Lula prometeu aos coordenadores do movimento dar especial atenção à estruturação dos assentamentos e até autografou o boné dos militantes.
Em coletiva ontem à tarde no Setor Hoteleiro Norte, Jutaí Moraes, da coordenação de informação do MLST, confirmou o repasse de verbas federais para a Anara, que nos extratos do Siafi aparece com sede no Conjunto I da QI 22 do Guará I. “A Anara é uma associação que auxilia o MLST, acompanhando a situação dos assentados e dando apoio logístico, mas só recebeu dinheiro do governo por meio de convênio no início do ano”.
Questionado sobre a origem do dinheiro descrito na agenda de Maranhão apreendida pela Polícia Legislativa e, agora, em poder da Polícia Federal, Jutaí sugeriu aos repórteres que fossem pesquisar no Siafi.
O levantamento no Siafi demonstrou que os repasses de recursos federais aos líderes do MLST não se restringiram à Anara. Os coordenadores do movimento também receberam diárias financiadas com dinheiro público para servirem de colaboradores eventuais em Brasília. Ainda na gestão de Fernando Henrique Cardoso, Bruno Maranhão recebeu R$ 250 em diária para participar como palestrante no Fórum Nacional de Prevenção e Mediação de Tensões e Conflitos Sociais no Campo.