O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) pediu diretamente ao empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, doações a candidatos do PSDB nas eleições de 2010. As revelações são da revista Veja. As mensagens foram localizadas pela Polícia Federal (PF) na caixa de e-mail de Odebrecht e anexadas na última terça-feira (5) a um dos processos da Operação Lava Jatoc contra o ex-presidente Lula. De acordo com os e-mails, FHC solicitou ao empreiteiro que “ajudasse” as campanhas de Antero Paes de Barros e Flexa Ribeiro, candidatos ao Senado naquele ano por Mato Grosso e Pará, respectivamente.
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Antero não conseguiu voltou ao Senado (foi senador entre 1997 e 2006). Flexa se elegeu e, ainda hoje, é senador. O ex-presidente diz que o pedido “era legal”. Escreveu FHC: “Recordando nossa conversa no jantar, envio-lhe um SOS. O candidato ao senado pelo PSDB, Antero Paes de Barros, está em segundo lugar. Seria possível ajudá-lo? Seria possível ajudá-lo? Envio abaixo os dado [sic] bancários: Eleição 2010, Antero Paes de Barros Neto -senador, Banco do Brasil, agência 3325-1, conta corrente 31801-3, CNPJ 12189840/0001-23”. Marcelo Odebrecht respondeu: “Presidente, já solicitei que fosse feito o apoio ao Antero”.
No dia seguinte ao contato eletrônico de Fernando Henrique Cardoso, Odebrecht enviou um novo e-mail ao tucano para relatar que já havia encaminhado o pedido de ajuda a Antero Paes de Barros. “Presidente, já solicitei que fosse feito o apoio ao Antero. Vou pedir para verificarem sua disponibilidade para lhe apresentar um balanço”, resumiu o empresário.
O ex-presidente incluiu o pedido de dinheiro para Flexa semanas depois, em mensagem enviada ao presidente da Odebrecht e ao empresário Benjamin Steinbruch. “Estimados amigos, desculpem a insistência e nem mesmo sei se já atenderam o que lhes pedi.” O assunto era “o de sempre”.
“Estimados amigos: desculpem a insistência e nem mesmo sei se já atenderam o que lhes pedi, mas olhando o quadro geral, há dois possíveis senadores que precisam atenção: 1. Antero Paes de Barros, de Mato Grosso; 2. Flexa Ribeiro, do Pará. Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso na verdade é manterem, a posição que os leva ao êxito”, pediu o tucano.
Embora Fernando Henrique Cardoso tenha informado ao empreiteiro sobre a conta-corrente oficial da campanha de Antero Paes de Barros e Marcelo Odebrecht tenha confirmado que faria a doação, não consta na prestação de contas eleitoral do então candidato nenhuma colaboração da Odebrecht ou de empresas que compõem o grupo. A empreiteira também não está entre os doadores da campanha de Flexa Ribeiro, diz Veja.
FHC foi citado na delação premiada de Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, que relatou supostos pagamentos de caixa dois a campanhas do tucano nos anos pré-eleitorais de 1993 e 1997. Em julho de 2017, a Justiça Federal de São Paulo arquivou a investigação sobre os supostos delitos.
Em nota à imprensa, a assessoria de FHC afirmou que o pedido “era legal”. “Posso ter pedido, mas era legal. Não se deram e não foi a troco de decisões minhas, pois na época eu estava fora dos governos, da República e do estado”.
Paes de Barros e Flexa Ribeiro disseram que não receberam doações da Odebrecht e que desconheciam a troca de mensagens entre FHC e o empreiteiro.