No momento em que tomei conhecimento de que havia fortes denúncias, com gravações, que incriminam Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, e Michel Temer, presidente nacional licenciado do PMDB, me veio à mente o poema “José?”, de Carlos Drummond de Andrade:
“E agora, José?/A festa acabou,/ a luz apagou,/ o povo sumiu,/ a noite esfriou, /e agora, José? / e agora, você?/ você que é sem nome, / que zomba dos outros…”
O poema surgiu do nada e, em seguida, a pergunta: “E agora, Moro?”
Drummond não tem absolutamente nada com Moro e o contrário também deve ser verdadeiro.
Prefiro Drummond. Não sei se Moro tem algum(a) poeta preferido(a).
No Brasil das injustiças e dos justiceiros, o povo conhece mais Moro que Drummond, e creio que a maioria não conhece o poema “José”.
Independentemente de Sérgio Moro, de Deltan Dallagnol e dos demais (procuradores e policiais) operadores da lava jato, sempre tive razões para lembrar o poeta e sua obra. Mas lembrei-me porque esses operadores faziam de tudo para livrar a cara do Aécio e do Temer. Sempre davam o discurso e a desculpa de que eles têm foro privilegiado. E, quando o caso no stf (supremo tribunal federal, assim mesmo, em minúsculas) chegava, lá morria, pois o Gilmar Mendes não deixava investigar.
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PublicidadeComo a lava jato chegou no stf por outro caminho, é que se deve fazer a pergunta: e agora, Moro? E agora, Dallagnol?
Na lava jato da “república de Curitiba”, esses senhores e outros mais de PSDB, PMDB, DEM, et caterva, eram tratados como beatos incorruptíveis ou ignorados.
Aécio Neves (PSDB) e Michel Temer (PMDB), o usurpador do governo, foram citados dezenas de vezes por réus, investigados e delatores na lava jato, mas como têm foro privilegiado não podem ser investigados, diziam os operadores da lava jato.
Dilma tinha foro privilegiado. No entanto, os da lava jato grampearam o Lula e vazaram a conversa dele com Dilma. Gravação ilegal, registre-se.Enquanto a lava jato corria, o juiz Moro comparecia a vários eventos promovidos pelo PSDB ou outros eventos privados, muitos deles ao lado de tucanos. Num dos últimos, aparece em fotos rindo, alguns dizem gargalhando, com Aécio. Cobrado, Moro declara:
“Foi um evento público, e o senador não está sob investigação da Justiça Federal de Curitiba. Foi uma foto infeliz, mas não há nenhum caso envolvendo ele.”
Em entrevista, cerca de dois meses atrás, o procurador (do PowerPoint) Deltan Dallagnol tentou justificar por que não investiga os políticos do PSDB:
“Não tem como achar na Petrobras corrupção de um diretor ou presidente [tucano], até porque não existia diretores do PSDB.” Ao fazer esta declaração ele ignorava a inteligência do brasileiro e protegia os tucanos.
Sempre, mas principalmente depois que começou a lava jato, muitos fizeram e fazem discursos contra a corrupção, a fraude e os privilégios. Estes discursos diminuíram desde que foi escancarado o caso de corrupção da JBS, Aécio e Temer.
Havia também muitos discursos e manifestações de apoio às várias fases da operação e manifestações de rua a favor do golpe contra Dilma Rousseff. Manifestavam-se autoridades politicas, procuradores, juízes, delegados de polícia etc. Sobre a Operação Patmos, poucas autoridades se manifestaram. Nem o falastrão Gilmar Mendes.
Na Patmos estão envolvidos os irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS (que alguns idiotas diziam ser do filho do Lula) – que não têm foro privilegiado, portanto podendo ser investigados na república de Curitiba, pela lava jato. Se podiam, por que não foram e não são?
Não são porque a lava jato sempre foi seletiva. Na república de Curitiba, o caso Aécio não vem ao caso.
Após a Patmos, o silêncio de Moro é a “voz” mais ouvida. Ah! Também não dá para deixar de ouvir o “grito” de Gilmar Mendes. Tanto a voz como o grito se manifestam em favor da investigação contra o Aécio e o Temer.
Por conveniência política, muitas vezes Aécio citou Drummond, por isso volto ao poema “José”:
“Sozinho no escuro/ qual bicho-do-mato, / sem teogonia, / sem parede nua / para se encostar, / sem cavalo preto / que fuja a galope, / você marcha, José! / José, para onde?”
Você marcha, Aécio. Aécio, para onde? Que tal fazer companhia para sua irmã?