Em seu segundo mandato na Câmara, o deputado João Rodrigues (PSD-SC), preso nesta quinta-feira (8) pela Polícia Federal, é mais conhecido pelas confusões em que se meteu do que por sua produção legislativa. Flagrado assistindo a um vídeo pornô no plenário em 2015, ele já se envolveu em diversas polêmicas com outros parlamentares. Em seus discursos, chamou colegas de “vagabundos”, “pilantras” e “escória”. Ameaçou dar “porrada” e “cacete” em deputados que divergiam dele. Também mandou congressistas calarem a boca.
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Condenado em segunda instância a cinco anos e três meses de prisão em regime semiaberto, por fraude e dispensa irregular de licitação, Rodrigues também desejou “boa hospedagem” na cadeia ao empresário Wesley Batista, do grupo J&F, preso desde setembro, durante depoimento do delator na CPI da JBS. Na ocasião, frisou, “a Justiça falha, mas não tarda”.
O deputado integra duas das bancadas mais barulhentas da Casa, a da bala e a ruralista. João Rodrigues, de 50 anos, entrou para a política após uma carreira como apresentador de rádio e TV. Antes foi fuzileiro da Marinha. Já apresentou programas populares e policiais no SBT e na Record e foi prefeito de Pinhalzinho e Chapecó, ambas no oeste catarinense. Antes de chegar à Câmara, foi deputado estadual. Rodrigues foi preso assim que chegou ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, vindo dos Estados Unidos.
O deputado quer continuar a exercer o mandato mesmo preso.
O Congresso em Foco selecionou algumas das principais polêmicas de João Rodrigues na Câmara:
Pornô no plenário
Em maio de 2015, o deputado foi flagrado em plenário pela reportagem do SBT Brasília assistindo, pelo smartphone, a um vídeo de sexo explícito na sessão sobre a reforma política da Câmara.
Nas imagens gravadas pelo SBT, João Rodrigues mostra as imagens aos colegas. “Abri para ver o que era, e daí apareceu uma imagem pesada, por isso, coloquei o celular embaixo da mesa e mostrei para o deputado ao lado. Eu disse ‘olha a imagem pesada que eu recebi pelo Whatsapp’ e ele falou: ‘que merda é essa?'”, explicou-se na época.
Na ocasião, ele contou que o vídeo foi apagado logo após ser visto. “Eu acho que a emissora está transgredindo a legislação brasileira com isso.” O episódio não teve consequências, mas viria a ser lembrado por colegas em discussões futuras com João Rodrigues.
Veja vídeo:
Briga com Jean Wyllys
Em outubro de 2015, João Rodrigues se envolveu em um bate-boca com o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ). Os dois voltariam a se enfrentar em 2017. No primeiro confronto, Rodrigues subiu à tribuna para criticar parlamentares que se opunham à revogação do Estatuto do Desarmamento, como Jean.
No discurso, o apresentador de TV ironizou a passagem do colega pelo BBB, da TV Globo, e a sua primeira eleição com 13 mil votos. Na sequência, atacou Jean por defender a descriminalização das drogas e o chamou de “escória deste país”.
“A sua vida pregressa eu não conheço. A sua experiência política eu sei. Tenho sete mandatos, fui três vezes prefeito. E tive a honra de ser o segundo deputado mais votado na história de Santa Catarina. Posso até ser criticado, mas vindo do senhor é elogio. Um parlamentar que defende perdão para drogas, que defende que adolescente pode trocar de sexo, mesmo sem autorização dos pais. Isso não é deputado, é a escória deste país, mas ocupa lugar como deputado”, afirmou.
Jean reagiu. Acusou o colega de ser “ladrão de dinheiro público” e de ter atitude “fascista”. “Ele e todos os fascistas vão ter que me engolir. Sou homossexual assumido, sim, e vocês vão ter que me engolir. Vocês não vão me intimidar”, declarou. Rodrigues entrou com representação contra o colega. O caso acabou arquivado.
No bate-boca, o deputado do Psol lembrou o episódio do vídeo pornô. “Homens decentes não assistem a vídeos pornôs em plena sessão plenária, não são condenados por improbidade administrativa, como o deputado foi. Quem não tem moral para representar o povo brasileiro é ladrão. Qualquer programa de televisão é mais decente que deputado que rouba dinheiro do povo. É mais decente que deputado que usa sessão para ver vídeo pornô”, disse Jean Wyllys. “Resta saber se seu vídeo pornô era hétero ou não”, provocou.
Veja vídeo:
“Cala a boca”
Na véspera da autorização da abertura de processo de impeachment da então presidente Dilma, em abril de 2016, João Rodrigues chamou deputados do PT e do Psol de “cara de pau” em seu discurso a favor da cassação da petista. Sem meias palavras, mandou, aos gritos, os colegas calarem a boca.
“Só fico observando os deputados do PT e do Psol. Não quero agredir, mas vocês têm uma cara de pau sem tamanho. Mas, com todo respeito… silêncio, estou utilizando a palavra. Cala a boca, que estou falando. Quieto, estou falando, cala a boca, não mete o bico, PT. Fica na sua. Vocês ofendem o povo brasileiro todos os dias e todas as horas. Enquanto estou na tribuna, calem as suas bocas, porque amanhã o Brasil e este Congresso farão os senhores silenciarem”, disparou.
Veja vídeo:
“Na tua cara que vou dar”
Em de outubro de 2017, João Rodrigues e o deputado Edmilson Rodrigues (Psol-PA) quase se agrediram fisicamente no plenário. O catarinense fez um discurso em defesa da “moral e dos bons costumes” ao criticar a polêmica performance de um homem nu no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo. O caso gerou discussões por causa da presença de crianças na exposição.
“Não consigo acreditar que tenha algum pilantra, algum vagabundo, dentro desta Casa, que aplauda isso. Porque, se tiver, tem que levar porrada, tem que levar cacete, para aprender. Bando de traidores da moral brasileira, tem que ir para a porrada. Nós não podemos mais aturar isso. Se você apoia patife, se você apoia tarado, é na tua cara que eu vou dar”, disse.
Sem citar o nome de João Rodrigues, Edmilson disse que falta de moral era deputado ver filme pornô dentro do plenário. Depois desse comentário, o catarinense partiu para cima do paraense e teve de ser contido. Edmilson usou o microfone para dizer que foi chamado de “filho da puta” pelo colega. “Isso é um desrespeito com a minha mãe que é viva e tem 83 anos”, protestou.
João Rodrigues classificou os defensores da exposição no MAM como “pilantras”, “covardes” e “vagabundos”. “Semana passada o Brasil foi pego de surpresa. Aliás, tanta coisa tem sido feita em ataque a família brasileira, a moral e aos bons costumes. Que se chegou, literalmente ao fundo do poço, quando o Museu de Arte Moderna de São Paulo, dez ou vinte pessoas, insanos, sentados ao solo apreciando a entrada de um marmanjo completamente nu de mãos dadas com três ou quatro crianças, fazia uma apresentação cultural. Foi um crime cometido, de acordo com o ECA. Alguém tem que parar essa gente. Isso é pra mexer com subconsciente dos tarados do Brasil.”
Jean Wyllys mais uma vez bateu boca com Rodrigues e lembrou novamente do episódio do vídeo pornô.
Veja vídeo:
Boa prisão
Integrante da CPI da JBS, criada para investigar o grupo após a delação premiada que comprometeu o presidente Michel Temer (MDB), João Rodrigues foi um dos parlamentares mais duros com o empresário Wesley Batista. Irritado com a recusa do delator de responder às perguntas dos parlamentares, ele ironizou a prisão do empresário. Os dois não devem se cruzar na cadeia porque Wesley está preso em São Paulo.
“A Justiça tarda, mas não falha. Sei que daqui o senhor retorna para a sua cadeia e todos nós que aqui estamos, e o povo sofrido lá fora que está pagando a conta cara para manter este país em pé, [lhe desejamos] boa hospedagem e que ela dure muito tempo até que os senhores abram e falem a verdade para o povo brasileiro.”
Ataque a professora
Novamente durante uma discussão sobre reforma política, em agosto de 2017, João Rodrigues voltou a ser notícia. Não por suas propostas, mas por sua língua ferina. O então líder do PSD pegou o microfone para atacar a professora Marcia Friggi, agredida por um aluno dias antes.
Ele relativizou a agressão à professora em razão de comentários publicados antes por ela em uma rede social.
“Fiquei extremamente chocado com a atitude daquele adolescente de ter batido de forma covarde na professora. Mas depois quando eu leio as redes sociais daquela educadora, não que a agressão se justifique, pelo contrário, mas ela disse que o ato de jogar ovos num deputado pode. O que é uma violência. Se uma professora que prega isso em sala de aula é obvio que desperta a revolta também de um estudante”, criticou.
Rodrigues fazia referência a comentário de Marcia a respeito de um protesto em que jogaram ovos no deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) no interior de São Paulo.
O parlamentar também criticou a professora por ela ter se posicionado contra o projeto da “Escola sem Partido”. “Escola é lugar de ensinar uma criança. Não quero que meu filho tenha a lavagem cerebral de uma ratazana dizendo o que ele deve pensar da política brasileira e de seus líderes. Não perdoarei, meu caro deputado Jair Bolsonaro, se minha filha viesse para casa com a camisa e a foto daquele bandido chamado Che Guevara, que muitos professores idolatram”, emendou.
Veja vídeo:
Balanço Geral
João Rodrigues apresentou o Balanço Geral de Santa Catarina em 2015. Ex-fuzileiro naval, ele entrou para o mundo do radialismo ainda na juventude. De 1988 a 2000, trabalhou como radialista na Rádio Centro-Oeste de Pinhalzinho. Nos últimos quatro anos conciliava a apresentação de programa com o cargo de vice-prefeito da cidade. Na mesma época também apresentou o SBT-Comunidade.
Foi eleito prefeito pelo PFL em 2000. Dois anos depois deixou o mandato na metade para tomar posse como deputado estadual. Passados mais dois anos, elegeu-se prefeito de Chapecó. Rodrigues se reelegeu em 2008. Renunciou em março de 2010, para concorrer, com sucesso, a deputado federal nas eleições daquele ano. Em 2014, ele conquistou o seu segundo mandato. Ele também já comandou a Secretaria da Agricultura e Pesca de Santa Catarina.
O crime e o processo
O Supremo Tribunal Federal confirmou nessa terça a condenação em segunda instância, determinada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) em 2009.
O ex-prefeito de Pinhalzinho é acusado de infringir a lei ao dispensar licitação para a alienação de uma retroescavadeira e ao comprar uma nova, custeada, em parte, com recursos da Caixa Econômica Federal. Ele recorreu ao Supremo, com um habeas corpus, para derrubar a decisão do tribunal de segunda instância.
Inicialmente, porém, a defesa apelou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) pedindo que o processo fosse anulado, alegando incompetência da Justiça Federal para julgar o caso e a inépcia da denúncia. Argumentou ainda que não houve dano aos cofres públicos.
Por ele ser parlamentar, o STJ remeteu o recurso para o Supremo, onde correm as ações envolvendo congressistas e outras autoridades federais. Em outubro de 2016, o ministro Luiz Fux negou o habeas corpus apresentado pelos advogados do deputado. Em março do ano passado, o Supremo havia acolhido pedido da defesa para julgar a apelação.
O julgamento de Rodrigues também foi marcado pela manifestação do ministro Alexandre de Moraes, a favor da execução provisória da pena após o fim dos recursos na segunda instância da Justiça.
Em seu voto, Moraes afirmou que a execução provisória da pena é compatível com a Constituição. Ele disse que resolveu se manifestar sobre o caso após o anúncio da presidente do STF, Cármen Lúcia.
Na semana passada, a ministra disse que não pautará o assunto novamente. Com a condenação do ex-presidente Lula pela segunda instância da Justiça Federal, há manifestações a favor da revisão do entendimento.
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Reportagem publicada às 18h42 de 8 de fevereiro de 2017 e atualizada às 8h46 de 9 de fevereiro.