Está virando moda. Na noite do segundo turno da eleição, o assessor de imprensa do presidente eleito Jair Bolsonaro, Eduardo Guimarães, chamou jornalistas de “lixo” pelo WhatsApp ao comemorar a vitória do chefe. A palavra “lixo” voltou a ser usada contra a imprensa nesta terça-feira (6) pelo deputado eleito Julian Lemos (PSL-PB), integrante da equipe de transição do novo governo. Julian reagiu a reportagens publicadas por este site e pelos dois jornais que informaram que ele já foi condenado por estelionato e enquadrado três vezes na Lei Maria da Penha – em uma delas chegou a ser preso em flagrante.
Em tom de ameaça pelo Instagram, o deputado eleito disse que os três veículos não sabem do que ele é capaz: “Quem não deve não teme, o meu “coro” [couro] é grosso e ao mendo [medo] eu não fui apresentado, sou um homem determinado e com ausência de medo, se acham que vão me intimidar, não viram nada, não fiz 1% do que sou capaz, irei cumprir minha missão, quer queira ou não!”.
Julian disse que o Congresso em Foco, O Globo, a Folha de S.Paulo e “blogs medíocres” – que noticiaram processos cuja existência ele mesmo não contesta – não têm credibilidade. “Globo, Folha de São Paulo, Congresso em Foco, e blogs medíocres vocês são lixo, vocês não tem (sic) credibilidade, é melhor Jair se acostumando comigo também”, escreveu.
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Ainda no Instagram o deputado afirmou que tanto o processo por estelionato quanto as acusações de agressão, feitas pela ex-esposa e por uma irmã, são “assuntos mais que resolvidos”. “Mais uma vez afim [a fim] de atingir Jair Bolsonaro requetam [requentam] assuntos mais que resolvidos na minha vida, eles fazem assim… Quem é sujo querem deixar ‘limpo’ quem é limpo querem deixar sujo.”
Homem forte
Um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro no Nordeste, Julian foi apresentado pelo então candidato como seu “homem forte na Paraíba e “amigo de primeira hora”. Em 2011 ele foi condenado a um ano de prisão em primeira instância, em regime aberto, por estelionato. Mas o caso prescreveu antes de ser analisado pela segunda instância.
Julian se envolveu no caso pelo uso de uma certidão falsa fornecida pela empresa GAT Segurança e Vigilância, da qual era sócio, na assinatura de um contrato para prestação de serviços à Secretaria de Educação e Cultura da Paraíba, em 2004. O crime acabou prescrevendo devido à demora do Judiciário em concluir o julgamento.
Dos três inquéritos de que o deputado eleito virou alvo com base na Lei Maria da Penha, dois foram arquivados após a ex-esposa dele, Ravena Coura, apresentar retratação e dizer às autoridades que se exaltou “nas palavras e falado além do ocorrido”. Um terceiro, movido por sua irmã Kamila Lemos, continua ativo. As agressões atribuídas a ele ocorreram em 2013 e 2016.
Ofensa e agressão
Kamila contou em depoimento à polícia que foi ofendida e agredida fisicamente pelo irmão, com murros e empurrões, ao tentar “apaziguar” uma briga entre ele e a ex-esposa. Laudo do Instituto Médico Legal confirmou que ela apresentava escoriações no pescoço, no ombro e no braço. O deputado eleito afirmou, na ocasião, que a irmã arremessou um cinzeiro contra ele. Julian, porém, não passou por exame para comprovar a agressão.Um ano depois a defesa do deputado eleito apresentou uma carta com retratação da irmã, alegando que os dois já haviam se entendido. O processo, no entanto, continua tramitando. Uma audiência preliminar estava marcada para o dia 21 de setembro, mas não foi realizada, conforme registro do Tribunal de Justiça da Paraíba.
O deputado eleito disse ao Congresso em Foco que não agrediu nem a ex-esposa nem a irmã. “É um assunto ultrapassado, requentado e acabado. Já está explicado. Já fui absolvido, as pessoas se retrataram”, disse. De acordo com Julian, o processo movido pela irmã não foi arquivado porque ela mora no exterior e ainda não compareceu para desistir oficialmente da ação. “É uma irmã que mora no meu coração. Vocês da mídia têm de procurar outro assunto porque esse aí já foi”, completou.
Na declaração ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Julian informou que tem 42 anos e nível médio completo. Diz ser empresário, mas não informou à Justiça qualquer bem. Ele foi eleito com quase 72 mil votos (3,61% dos votos válidos).
Pela manhã, enquanto esperava pela chegada de Bolsonaro à Câmara, Julian gravou um vídeo ao lado do também deputado eleito Alexandre Frota (PSL-SP), a quem chamou de irmão. Frota disse que a eleição do capitão representa a realização de um “sonho” para o país e destacou a parceria com o paraibano, que retribuiu: “Julian e Alexandre Frota, diga aí, combinação TNT (dinamite) puro”.
Flávio Bolsonaro
Esta não é a primeira agressão ao Congresso em Foco. Na véspera do segundo turno, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) acusou este site de receber “mais de R$ 100 mil por mês do governo para fazer militância política esquerdopata”.
A afirmação coincide com outras manifestações com que o Congresso em Foco foi brindado, nas redes sociais, após publicar editorial no qual deixou explícita o seu posicionamento contrário à candidatura Bolsonaro, em razão do longo histórico de atos e declarações do presidente eleito que demonstram seu desapreço por valores democráticos. Na verdade, o governo federal jamais pagou qualquer mesada a este site e sempre teve participação em nosso faturamento (clique aqui para ver os números).
Antes de ser empossado senador, filho de Bolsonaro já começa a atacar o Congresso em Foco