Em meio às discussões das reformas da Previdência e trabalhista, os trabalhadores se converteram no segmento social mais atuante no Congresso Nacional. Essa é a avaliação das principais lideranças da Câmara e do Senado, ouvidas pelo Painel do Poder, ferramenta criada pelo Congresso em Foco para mostrar o que pensa e para onde vai o Legislativo brasileiro.
Para a elite parlamentar do país, os trabalhadores estão mais fortes, por exemplo, do que o empresariado rural e urbano, conhecido por, muitas vezes, dispensar interlocutores e ocupar boa parte das cadeiras do Legislativo. Em uma escala que vai de 0 a 100, os trabalhadores lideram o ranking dos mais influentes, com 69 pontos. Abaixo deles aparecem outros 13 importantes segmentos mencionados pela cúpula do Congresso.
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Na sequência, estão o agronegócio, com 64 pontos, as cooperativas e a indústria, com 53, e o movimento feminista, com 52. Setores importantes, como o de alimentos, o da mídia, o da comunicação e o da construção aparecem praticamente empatados com 49 e 50 pontos. Já entre os segmentos avaliados como sendo os de menor influência, estão o farmacêutico (35), o de mineração (37) e o de bebidas (38) (confira o ranking completo ao lado).
As avaliações sobre a atuação de alguns dos principais atores econômicos na maior arena legislativa do país foram colhidas pelo Painel do Poder entre líderes partidários, membros das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, presidentes de comissões permanentes e os mais importantes influenciadores das bancadas temáticas. O produto, lançado oficialmente na semana passada, foi desenvolvido pelo Congresso em Foco em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (Ibpad).
Só na pressão
Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip), Floriano Martins de Sá Neto, a pesquisa confirma que os trabalhadores, da iniciativa privada e do setor público, estão mais unidos e conscientes da necessidade de juntarem forças para impedir a retirada de direitos.
PublicidadeNa avaliação dele, essa união está se refletindo, por exemplo, no recuo anunciado ontem pelo governo em pontos sensíveis da reforma da Previdência, como a mudança nas regras da aposentadoria rural. “Político e feijão só funcionam com pressão”, diz Floriano.
Uma das entidades mais engajadas contra a reforma previdenciária, a Anfip entende que o reconhecimento da força dos trabalhadores pelas principais lideranças do Congresso deve estimular o movimento se manter coeso. “Percebemos que as entidades que tentam defender só o seu umbigo estão sofrendo rejeição. Precisamos manter o discurso unificado”, defende o vice-presidente da entidade. “A reforma trabalhista praticamente já passou, com a terceirização”, observa.
Segundo Floriano, o trabalhador não deve se deixar levar pelas promessas de recuo do governo. “Muitas vezes são uma pegadinha para desmobilizar. A classe política está em plena campanha de renovação de seus mandatos. É preciso ser mais efetivo na pressão.”
Tendências e articulações
O objetivo do Painel do Poder é captar e antecipar tendências de votação em relação às pautas mais importantes, o grau de articulação e influência dos diversos grupos organizados da sociedade dentro do Parlamento e a avaliação que os congressistas fazem do governo e de diversas instituições, além de aferir a temperatura do poder em Brasília.
Dos parlamentares ouvidos nesta primeira rodada de pesquisa, realizada entre os últimos dias 14 e 17, 74% pertencem a partidos da base governista e 26% a legendas da oposição. A amostra abrangeu todas as regiões geográficas do país, dividindo-se da seguinte forma: Sudeste e Nordeste, ambos com 27% cada; Sul, 24%; Centro-Oeste, 15%; Norte, 7%.
Como mostrou o Congresso em Foco no último dia 31, as principais lideranças da Câmara e do Senado apostam que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-presidente Lula são os políticos com maiores chances de vitória nas eleições presidenciais de 2018, respectivamente com 27% e 20% das menções.
Quer saber mais?
O Painel do Poder tem caráter inédito tanto pela concepção metodológica quanto pela variedade de aplicações que permite. As informações serão colhidas trimestralmente, de maneira a apresentar a evolução de tendências do termômetro e de outros índices apurados (para saber mais a respeito, envie uma mensagem para paineldopoder@congressoemfoco.com.br). Para isso, algumas perguntas vão se repetir em todos os levantamentos de campo.
O propósito do Painel do Poder é criar uma ferramenta temporal, mas não só uma fotografia no tempo, como as pesquisas de opinião geralmente fazem, mas um conjunto de dados em permanente evolução. Essa metodologia possibilitará compreender como as opiniões dos líderes parlamentares mudam de acordo com as diferentes coletas de dados a serem feitas. Novas rodadas de pesquisa serão feitas em maio, agosto e outubro.
Para ter a íntegra da pesquisa, escreva para paineldopoder@congressoemfoco.com.br.