Sônia Mossri |
Na última semana, o Grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma), organização não governamental criada em 1998 por militares e civis de direita, começou a distribuir convites em Brasília para “comemorar o quadragésimo aniversário da contra-revolução de 31 de março de 1964” em frente ao Congresso Nacional. “No local serão cravadas 122 cruzes brancas, referentes àqueles que foram mortos por maus brasileiros que, sob pretexto de combater uma ‘ditadura militar’, inventaram impor ao Brasil a tirania comunista”, afirma o Ternuma no convite ao qual o Congresso em Foco teve acesso (leia mais). Mesmo militares distantes do radicalismo do Ternuma se sentem incomodados com os movimentos de familiares de desaparecidos políticos em busca dos corpos das vítimas dos anos de chumbo. Recentemente, o ministro da Defesa, José Viegas, afirmou que os arquivos sobre a guerrilha do Araguaia foram queimados. Leia também Nos órgãos de informação do Exército, Marinha e Aeronáutica, praticamente não há vestígio de documentos ou relatórios sobre o combate ao terrorismo durante a ditadura militar. O destino desses papéis permanece no mais profundo mistério. O site da ONG Ternuma (www.ternuma.com.br) tem uma análise do golpe de 64 e faz um alerta: “compreendam, no entanto, eles (os terroristas) e seus insanos sequazes – antes que se sintam tentados a uma nova aventura – que aqui encontrarão o Exército com as mesmas convicções de 1935 e 1964, vigilante, coeso e identificado com seus irmãos da Marinha e Força Aérea e com a imensa maioria do povo brasileiro, que repele os pequenos grupos de radicais e extremados, incapazes de viver fora da baderna ou do arbítrio”. Para outros militares que não são associados da Ternuma, porém, o governo Lula pode ser melhor para as Forças Armadas do que o período Fernando Henrique Cardoso. O historiador militar Aguinaldo Del Nero Augusto, general-de-divisão autor do livro “a Grande Mentira” sobre o movimento de 64, elogia o governo Lula pela sua preocupação com o desenvolvimento nacional. “O governo Lula tem preocupação nacionalista. Não acho que vai ser tão ruim como foi o FHC. Ele tem preocupação com militares, mas está cercado por uma carrada de caras que foram presos políticos e têm o ranço”, observou Del Nero. Quarenta anos depois do golpe, que os militares insistem em classificar como contra-revolução, Del Nero avalia que as Forças Armadas não souberam se comunicar com a sociedade civil. “Nós perdemos a batalha da comunicação porque o autoritarismo que tivemos aqui foi criado por eles. Estamos agora em uma democracia. É uma democracia vagabunda. Vagabunda porque a corrupção continua. A falta de ética na política continua. É educação nossa. Nós aceitamos esses caras. Politicamente nós ganhamos, perdemos no campo psicossocial, com a carga feita contra as Forças Armadas”, disse Del Nero. Del Nero acredita que o resultado do movimento de 64 foi a consolidação da democracia. Ele afirma não entender como alguns setores do PT chegaram a manifestar informalmente temor de que os militares não deixariam o partido assumir o governo. “Eu não creio que tão cedo venha a ter outro golpe”, observou. |