Mário Coelho
Após a confusão causada ontem pelo presidente em exercício da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), foi a vez dos governistas abaixarem ainda mais o nível das discussões sobre as investigações contra o governador José Roberto Arruda (sem partido). Na abertura da sessão da CPI da Corrupção, o vice-presidente Batista das Cooperativas (PRP) partiu para o ataque contra o presidente em exercício da Câmara, Cabo Patrício (PT). Leu títulos de matérias contra petistas e fez várias críticas aos distritais da oposição. Além disso, o distrital Geraldo Naves (DEM), leu uma nota de repúdio pelo encerramento da sessão de ontem. Após muito bate-boca, a reunião foi encerrada sem qualquer tipo de deliberação. A eleição do novo presidente da CPI, principal item da pauta de hoje, ficou para amanhã, às 15h.
O comportamento de Batista foi similar ao de Cabo Patrício ontem. Ao iniciar a sessão da CPI de hoje, o presidente em exercício do colegiado citou duas reportagens do jornal Correio Braziliense contra o petista. A primeira apontava que uma ONG de um irmão de Patrício recebeu R$ 6 milhões do Ministério da Justiça. A segunda dizia que o petista tinha usado a condição de deputado para ter um atendimento mais rápido pela polícia. Depois, lembrou de uma matéria da revista colombiana Cambio, que denunciou a ligação dos deputados distritais petistas Erika Kokay e Paulo Tadeu com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
“Deputado nenhum tem direito a fazer o que o deputado Patrício fez ontem. Repudio o que foi feito nessa Casa. Sei que não é uma posição da bancada do PT”, disparou Batista. Ele ainda criticou a postura de parte da imprensa, que chegou a vaiar parte de discursos de parlamentares nos últimos dias. Para ele, isso não é postura de “mestres de cerimônias [sic], jornalistas e afins”. E usou a tribuna da CPI para dizer que a comissão deve convocar o jornalista Ricardo Noblat para dizer quais deputados receberam R$ 4 milhões para votar contra o impeachment do governador José Roberto Arruda (sem partido). “E ele não pode sentar nessa cadeira como testemunha”, disse Batista.
Depois, Batista ainda voltou à carga nas críticas a Patrício. Disse que, ao ler a nota publicada pelo blog do Noblat, se sentiu ofendido. E que não recebeu nem quatro centavos. “Eu não recebi, sou honesto. Meu pai disse que quem diz o tempo todo que é honesto tem problema, mas vou fazer isso agora. Essa Casa não é uma tribo, é um colegiado”, disse. Ele afirmou ainda que Patrício deveria se comportar como um general, e não como “um cabo de segundo, terceiro escalão”.
Após as declarações de Batista, a distrital Eliana Pedrosa (DEM) pediu a palavra e anunciou sua renúncia à posição de membro da CPI. Sobre as declarações do presidente em exercício da CPI, a deputada do DEM disse que “não existem cabos de primeiro, segundo, terceiro escalões. Todos são cabos. Todos merecem respeito”.
Nota de repúdio
Além de disparar contra Patrício, os distritais governistas apresentaram uma nota de repúdio contra a atuação do presidente Patrício. Eles elencaram uma série de pontos que, na visão de governistas, justificariam a sua não permanência à frente da presidência da Casa. Por exemplo, o fato de os manifestantes terem permanecido por seis dias dentro do plenário da Casa, de permitir a “interferência do Judiciário no Legislativo” e o processo por quebra de decoro que ele enfrenta na Casa. Batista, ao encerrar a sessão, solicitou que a nota de repúdio fosse anexada ao pedido de afastamento contra Patrício que tramita na Câmara.
“Isso não constrói para o parlamento, não constrói para a democracia”, afirmou o relator da CPI, Raimundo Ribeiro (PSDB). Ele disse que a Câmara chegou ao limite, que “não há mais porque a sociedade ficar a todo momento esperando as respostas”. Ele afirmou também que é o momento de parar de fazer manobras, “independentemente de ser base ou oposição”. “Pessoal, eu acho que é necessário que se faça uma reflexão urgente e que a gente possa fazer com que a Casa assuma o seu papel, que ofereça a verdade dos fatos para que a população”, apontou, afirmando que “está muito triste” com a situação.
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