Brasília ainda é quase uma criança. Aos 53 anos de idade, que completa amanhã (21 de abril), a cidade está em plena infância, quando comparada com outras metrópoles brasileiras já várias vezes centenárias, como Rio de Janeiro, que conta 448 anos, e São Paulo, no alto de seus 459 anos. Isso sem falar nas milenares Roma, Paris e Londres, que já existiam quando o Brasil ainda nem sonhava em ser descoberto por Pedro Álvares Cabral.
Portanto, nossa cidade ainda está em fase de crescimento, o que explica as tantas dificuldades que ela enfrenta. Como todo menino ou menina que dá os primeiros passos, nossa criança ainda não consegue se firmar, tropeça, cai, levanta-se, tropeça e cai de novo. Mas não desiste e segue em frente. Felizmente, à medida que for crescendo, ela caminhará com desenvoltura, até que um dia será capaz de correr sem cair.
É assim que eu vejo a Brasília de hoje. Minha Brasília querida, minha cidade, minha paixão! Eu a abraço com carinho e lhe dou os parabéns emocionado, a você que me acolheu pequeno e me transformou em homem, em professor, em pai de família, em Cidadão – com cê maiúsculo; em tudo o que sou. Só tenho a lhe agradecer, e muito. Não nasci aqui, mas é como se tivesse nascido, tal a afinidade que tenho com a cidade e seu modo de vida, suas peculiaridades, seu jeito de ser. Além de brasiliense honorário, reconhecido pela Câmara Legislativa, sou brasiliense de coração, e muito me orgulho disso.
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Para quem não sabe, nasci numa pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte, de nome poético e sugestivo: Encanto. Migrei para a capital do país com minha mãe e meus irmãos, para reencontrar meu pai, que aqui trabalhava como pedreiro na construção de casas em Ceilândia. Eu tinha 8 anos de idade e Brasília 11, de modo que crescemos juntos.
Sempre me emociono ao lembrar o passado difícil, de menino pobre, ajudante de pedreiro do pai e aluno da rede pública que precisava de livros emprestados para estudar. Emociono-me mais ainda ao recordar como era a cidade daquele tempo, que também crescia em meio a muitas dificuldades. Havia pouco transporte, mas muitas obras, muita poeira na seca e muita lama na chuva. Por um longo tempo, nem eu estava formado, nem ela. O Plano Piloto continuava incompleto: apesar dos muitos prédios já erguidos, ainda havia imensos espaços vazios. Na Esplanada dos Ministérios, pouco do que temos hoje estava construído, e nos arredores o que dominava era o barro vermelho.
Mas essa paisagem aos poucos se modificou. No início, a mudança foi devagar, tanto que quase não dava para notar. No entanto, com o tempo, as coisas começaram a acontecer mais depressa. Foram traçadas novas vias e erguidos novos viadutos. Pode-se dizer que a paisagem que vislumbramos hoje surgiu ao longo dos últimos dez, vinte, trinta anos. Não se pretendia crescimento tão acelerado para a cidade, mas ele tornou-se inevitável. A explicação é óbvia: aqui se concentra o poder político, que, por sua vez, atrai o poder econômico. Ao mesmo tempo em que se firmava como cidade onde eram tomadas as grandes decisões nacionais, Brasília atraía mais gente, que nela encontrava oportunidades sem igual em outras cidades brasileiras.
Então, as pessoas foram chegando, e junto com elas o capital. Empresas se instalaram na cidade, e a infraestrutura urbana melhorou, tornando a vida no Planalto Central mais agradável e cada vez mais atraente para novos moradores. O mesmo ocorreu na periferia, com as chamadas cidades-satélites. Sobretudo Taguatinga e Ceilândia passaram a concentrar a maior parte da mão de obra empregada na construção civil e também grande número de servidores públicos, comerciários e profissionais de diversas áreas.
Enquanto isso, também eu fui crescendo e amadurecendo, em caminho paralelo ao percorrido pela cidade. Para mim, tudo deu certo, depois da infância e da juventude vividas em meio a dificuldades inimagináveis de uma família de migrantes pobres. Consegui estudar, me formar, entrar para o serviço público e, por fim, me tornar empreendedor de sucesso no ramo que escolhi. Posso dizer que sou um brasiliense feliz, que ama a cidade onde vive. Aliás, amar é pouco: sou apaixonado por Brasília, e meu amor só aumenta a cada dia. A Capital é minha segunda paixão. A primeira, claro, é a família, minha mulher e meus dois filhos, todos brasilienses natos, um presente que Deus me deu para toda a vida.
Em tempo: quando me refiro aos brasilienses natos, devo lembrar que esta cidade, tão generosa, não faz distinção entre os filhos nativos e os adotivos. A todos acolhe e para todos abre as portas, indistintamente. Digo isso por experiência própria.
Entretanto, ela também enfrenta problemas, a maioria deles típicos das grandes metrópoles. Tal como acontece com o homem-feito que se desenvolve mais rápido do que o normal, saindo da infância e da adolescência cedo demais, também com uma cidade que cresce de forma avassaladora problemas podem surgir. Isso explica por que, ainda tão jovem, Brasília já enfrenta dificuldades que só deveriam surgir dentro de alguns anos. Tudo começa pela superpopulação, de quase três milhões de habitantes, número que era para ser atingido bem mais tarde, segundo as previsões dos idealizadores da capital, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, e do grande patriarca da cidade, Juscelino Kubitschek.
Tudo que nos faz reclamar de Brasília hoje é consequência do crescimento prematuro da cidade. A despeito disso, este é o melhor lugar que conheço para viver. Temos aqui uma série de facilidades que não encontramos em outras cidades. Além disso, a Capital é motivo de orgulho sob vários aspectos. No trânsito, por exemplo, os brasilienses foram precursores na demonstração de respeito ao próximo ao parar nas faixas de travessia de pedestres. Além disso, a educação, aqui, é digna de respeito: evoluímos muito, tanto no ensino público, como no particular, com oferta de escolas do Estado para todas as crianças e ótimas opções no ensino pago. No ensino superior, a UnB foi pioneira na criação de cotas raciais, sistema hoje consagrado em todo o País, e se mantém como referência entre as universidades brasileiras, sem menosprezar as muitas e boas opções entre as instituições particulares.
As maiores dificuldades da cidade residem, sem dúvida, no transporte público e na rede de saúde. A deficiência nessas áreas não é, no entanto, “privilégio” da nossa capital. Trata-se de chaga nacional. Apesar disso, hoje já não se diz que, para ir ao médico em Brasília, o melhor é pegar um avião. Grandes profissionais estão aqui e podemos recorrer a eles com toda confiança. O que falta são investimentos do Estado, tanto do governo federal como do GDF, na rede pública de saúde, que está fragilizada exatamente por carência dos recursos necessários para sua manutenção, e não por falta de profissionais de saúde capacitados.
Brasília ainda oferece aos seus moradores qualidade de vida acima da média. Tanto assim que aqui se diz, com muita propriedade, que “quem bebe dessa água, sempre volta”. Isso explica por que tanta gente, depois de se mudar para outra cidade, acaba retornando e retomando a vida às vezes até no mesmo lugar e, em muitos casos, na mesma casa, por não se adaptar mais à rotina das “cidades comuns”. Também não ouvimos mais – ou ouvimos muito pouco – reclamações sobre a “solidão” de Brasília, a falta de “esquinas”, o pouco convívio com os vizinhos. Quem mora aqui gosta da cidade da forma como ela é e não quer mudanças.
Falta de diversão também já foi uma crítica à capital da República. Mas quem pode reclamar de uma cidade com tantos shoppings, cinemas, bares, teatros, casas de shows, cervejarias, bons e variados restaurantes e até simpáticos e agradáveis botecos para todos os gostos? Se alguém quer se divertir, é só procurar que vai achar o que fazer. Hoje se inverteu aquela situação de fugir de Brasília nos feriados e datas especiais, como Semana Santa, Natal e Carnaval. Muitos brasilienses viajam, sim, mas muito mais visitantes vêm de fora para curtir esses dias em Brasília.
Recentemente, também ganhamos importância no esporte, com a reconstrução do Estádio Mané Garrincha para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Seremos uma das sedes das duas competições, o que vai reforçar a cidade como polo de atração turística este ano e em 2014. Nosso esporte, que já é forte no basquete, pode crescer também no futebol, impulsionado pelo novo estádio, que, de qualquer forma, ainda será palco de grandes espetáculos, graças ao formato de arena multiuso. Paul McCartney já programa o seu para junho.
Para terminar, não posso deixar de falar na Brasília como capital dos concursos. Essa é outra característica muito especial da cidade, que atrai mais e mais homens e mulheres, que vêm para cá conquistar sua grande oportunidade profissional, como funcionários do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário. São milhares e milhares de pessoas que todo ano participam de dezenas de concursos públicos e se tornam também novos habitantes da cidade.
Tenho imenso orgulho de contribuir para a realização do sonho de tantos brasileiros. Nesta data, tão cara para todos nós que vivemos aqui, ao lado dos parabéns para a minha Brasília amada, quero desejar que todos esses bravos concurseiros comemorem, junto com o aniversário da cidade, o seu feliz cargo novo.
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