Mário Coelho
Assim como no futebol, uma verdade não não dura mais do que 24 horas na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Após ter sofrido muita pressão ontem (26) da base governista e ter convocado a eleição do novo presidente para hoje, o distrital Cabo Patrício encerrou a sessão extraordinária ainda como presidente da Câmara, e transferiu a escolha do novo comandante para a próxima terça-feira (2), quando o recesso já terá acabado. “Não temos todos os 24 deputados aqui para a eleição”, justificou Patrício. Para parlamentares da base, a atitude ficou clara como uma manobra da oposição para não deixar os governistas assumirem o cargo.
Durante reunião dos distritais ontem, Patrício recebeu muita pressão dos governistas para marcar a eleição para hoje. Os petistas defendiam um meio termo. Desejavam que ele não usasse os sete dias regimentais, mas que não marcasse de imediato o novo pleito. A intenção era ter tempo para fazer campanha pelo próprio Patrício, que é o nome petista para ocupar a Mesa Diretora desde o ano passado. Irritado com a maneira como a sessão desta quarta-feira se encaminhava, o petista decidiu encerrar os trabalhos, com a justificativa de “foro íntimo”. Neste momento, distritais da base aliada buscam uma forma de reiniciar a sessão e eleger Wilson Lima (PR) como presidente da Casa até 31 de dezembro.
O encerramento da sessão sem a eleição do presidente e da escolha dos novos membros das comissões de Constituição e Justiça (CCJ) e especial, que vão analisar os processos de impeachment contra o governador José Roberto Arruda (sem partido), deixou os deputados surpresos.
A confusão que possibilitou a Cabo Patrício suspender a sessão foi umã discussão em torno de uma nota publicada no blog do jornalista Ricardo Noblat. Ele disse que, nos bastidores, circula a informação de que cada deputado da base aliada a Arruda receberá R$ 4 milhões para votar contra o impeachment do governador. Segundo o blog, que ressalta que a informação não tem como ser comprovada, os distritais estão preocupados sobre como fazer para transportar a quantia, já que eles pediram, de acordo com a nota, todo o valor em dinheiro.
“É preciso investigar essa denúncia, ela coloca todos os 32 deputados sob suspeita”, protestou Raimundo Ribeiro (PSDB). O deputado Geraldo Naves (DEM), que assumiu na terça-feira (26) a presidência da CPI do Mensalão, assumiu o microfone e partiu para o ataque. Segundo ele, Patrício é “amigo pessoal de Noblat”, e que a nota foi plantada pela bancada do PT na Câmara Legislativa. “Por que ele não fala do mensalão do PT? Você não vai encontrar uma nota sequer criticando o PT”, atacou Naves.
Petistas protestaram. Chico Leite disse que estava “estarrecido” com a denúncia feita pelo blog. Já Paulo Tadeu argumentou que a eleição para a presidência estava maculada, e deveria ser postergada. “O blog muitas vezes publicou informações equivocadas e maldosas contra nossa bancada”, afirmou Paulo Tadeu. A líder Erika Kokay chegou a sugerir que Noblat fosse convocado para depor na CPI.
“Tô aqui muito tranquilo. Se eu frequento a casa do jornalista Ricardo Noblat é uma questão pessoal minha, de foro íntimo”, disse Patrício. “Não pauto minhas decisões por pressão de ninguém”, completou. Ele respondeu ainda que a Casa não deveria convocar Noblat, já que a legislação garante sigilo de fonte. “E isso seria mais um desgate para a Câmara”.
Em nota distribuída à imprensa, a assessoria de imprensa do governo informou que a Procuradoria do DF e os advogados de Arruda vão processar Noblat e que é consideram a afirmação “caluniosa e irresponsável e terá que ser provada na justiça”.
Leia a nota do GDF:
“NOTA
A assessoria de imprensa do GDF informa que:
A Procuradoria do Distrito Federal e os Advogados que representam o Governador José Roberto Arruda vão ingressar na justiça com uma ação criminal e civil contra o Jornalista Ricardo Noblat.
Em seu blog, Noblat publicou na data de hoje (27/01/10) afirmação de que o Governador teria oferecido o valor de “R$ 4 milhões a cada deputado Distrital que vote contra o impecheament dele”.
Os advogados e a Procuradoria do DF consideram a afirmação caluniosa e irresponsável e terá que ser provada na justiça.
André Duda
Assessor de Imprensa do GDF“
Leia também:
Deputados escolhem novo presidente da CLDF
Leia tudo sobre a Operação Caixa de Pandora e o Mensalão do Arruda
Impeachment já para Arruda e Paulo Octávio!