Apesar de recente, o termo fake news revela o conceito de uma prática que vem de séculos na historia da humanidade.
A divulgação de informação falsa sempre esteve presente nas relações em sociedade, ao longo da história.
Mudou a nomenclatura, o termo que a identifica, mas o potencial destrutivo, o poder de persuasão da informação falsa adquiriu, nos últimos anos, notadamente a partir das eleições norte-americanas de 2016, como prática da candidatura Trump, o status de modus operandi da mentira na cena política, principalmente, com efeitos ainda mais danosos.
Mesmo os países de língua inglesa, que antes utilizavam o termo “false news” passaram a identificar os boatos de grande circulação como fake news.
Sem dúvida, um dos piores males da atualidade, com contingente crescente de quem professa e adota, na prática cotidiana, a difusão de mentiras e falsas informações.
Um cenário que impõe aos veículos tradicionais de Imprensa um novo e hercúleo desafio que é a “checagem de notícias”, a investigação sobre notícias falsas que dão a impressão de que, enquanto sociedade, estamos enxugando gelo, tal o volume e intensidade de mentiras produzidas e difundidas diariamente.
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Eu aprendi que, na comunicação, “mais importante do que o que se diz, é quem diz”. E aí, talvez vejamos o mais danoso do quadro que temos, hoje, no Brasil, quando a autoridade, o ocupante de um cargo a quem o povo brasileiro outorgou o mandato de presidente da República, adota a prática da fake news como método e protocolo de governo. Parece impossível calcular a magnitude do desafio imposto à nossa Nação.
PublicidadePara ilustrar o tamanho dessa adversidade, cito apenas a última mentira produzida nos porões e gabinetes do Planalto Central, quando o próprio presidente da República veio a público dizer que a vacina contra a covid-19 tem relação com o aumento de casos de HIV.
Versão imediatamente desmentida pela Sociedade Brasileira de Infectologia.
A insanidade parece criar um mundo paralelo onde a irresponsabilidade e a inconsequência passam a habitar o imaginário do governante, orientando suas ações efetivas.
A difusão desse tipo de conteúdo falso passa a ocupar o cotidiano nacional, numa disputa ensandecida entre os que difundem e os que combatem tal prática. Como consequência, temos algo ainda mais grave: o tempo que se destina a esse duelo seguramente suprime a energia não vai para a busca de soluções dos verdadeiros problemas e dilemas nacionais, ficando o nosso povo na fila do desalento do desemprego, no desespero da fome, na desesperança da crise moral e sanitária.
A fake news não tem uma data oficial de origem, mas sabemos que pelas possibilidades advindas com as mídias digitais, seu rastro deletério que vem de séculos passados provoca, no tempo presente, toda a gama de malefícios e prejuízos.
Hoje, a produção e veiculação de fake news consolidam um verdadeiro mercado em ascensão, com técnicas muito próprias e eficazes para a destruição de reputações e alcance de objetivos políticos, direcionando linhas de interesses fora do foco daquilo que realmente importa.
Esse universo da mentira é alimentado geralmente por políticos em campanha eleitoral, que utilizam técnicas de produção, expansão e difusão de conteúdo viral.
Esses produtores de fake news chegam até a comprar endereços de e-mail e números de telefone celular para garantir o disparo do conteúdo falso.
E como combate-las?
Neste último caso, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro por causa das afirmações relacionando a vacina contra a covid-19 ao vírus HIV.
O ministro solicita que o procurador-geral da República, Augusto Aras, tome providências que entender cabíveis e, se for o caso, ofereça denúncia pela prática de crime comum contra o presidente da República. A notícia-crime foi ajuizada no STF por deputados federais do PDT e do Psol.
No documento, está dito que o presidente cometeu uma série de delitos, como infração de medida sanitária preventiva, improbidade administrativa, perigo para a vida ou saúde de outras pessoas e crime de responsabilidade ao associar a vacinação contra o novo coronavírus como forma de contrair o HIV.
Não podemos deixar de cobrar das instituições sua atuação no combate a esse crime que considero hediondo.
Minha expectativa é que a retomada da CPMI das Fake News no Congresso Nacional lance luzes ao País no combate a esse crime que ameaça, sobretudo, a saúde do povo brasileiro.
É imprescindível que os poderes da República busquem os caminhos para punir os responsáveis por essa prática, como fora a recente decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de cassar o mandato de um parlamentar do Estado do Paraná, exatamente por difundir fake news.
Como disse, enquanto o exercício contumaz da mentira tira o foco das reais questões de interesse do País, a fila pela carcaça do frango e a disputa pelo resto de alimentos no lixo deixam envergonhada uma nação inteira que se sente impotente diante da falta de solidariedade, exatamente por quem deveria trabalhar por nossa população mais vulnerável !!!