Integrante da primeira Bancada Trans do Congresso Nacional, a deputada Duda Salabert (PDT-MG), considera que, apesar das mudanças visíveis já alcançadas, ainda há um longo e sinuoso percurso até que a comunidade trans conquiste respeito e visibilidade política da forma como precisa. Ela, que foi a deputada mais bem votada de Minas Gerais, acredita que a luta da comunidade ainda é por conquistar “o espaço da derrota”, em uma referência à ausência de projetos em defesa da pauta trans na pauta do Congresso Nacional.
Nesta semana, quando o mundo celebrou o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, uma Pesquisa inédita divulgada pela Fundação Luminate e realizada pelo Instituto Ipsos revelou que 57% dos brasileiros afirmam se sentir totalmente confortáveis com a presença de trans em cargos políticos. Ainda assim, no Congresso, as parlamentares trans enfrentam ataques constantes. A seguir, veja os principais trechos da entrevista de Duda Salabert ao Congresso em Foco.
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Ainda que a população clame por mudanças no Parlamento, com a entrada de mais pessoas LGBTQIAPNH+ em cargos eletivos, existem resistências dentro do Parlamento. A senhora, por exemplo, tem sido alvo de ataques de colegas parlamentares. Como a senhora trabalha com isso?
O Parlamento brasileiro ele é ultraconservador. Na verdade, o Congresso Nacional nunca aprovou uma lei voltada para as pessoas LGBTQIA+. A nossa luta ainda é para conquistar o espaço da derrota, porque nem o espaço da derrota nós conquistamos ainda.
Que frase impactante, deputada.
Eu quero dizer com isso que nossos projetos nunca foram, sequer, a votação no plenário. Eles são arquivados, ou paralisados na sua tramitação. Nós sabemos que não há condições nenhuma de nossos projetos serem aprovados, devido à prevalência de grupos ultraconservadores, mas gostaríamos ao menos de ter a vitória da derrota.
Ainda vão demandar novos pleitos até conquistar esse espaço de construção?
Sim. E isso traduz o histórico de formação do país. No Brasil, a cidadania sempre foi construída a conta-gotas. Basta ver o que aconteceu com o movimento de pessoas negras no país. É uma luta antiga, desde o fim da escravidão, e o próprio fim da escravidão também se construiu a conta-gotas. E ainda há uma luta no combate ao racismo no Brasil, as pessoas entenderem o que é o racismo.
Prova que vocês estão caminhando nas mudanças, mas ainda há muito a percorrer?
Exatamente. Mas ter duas pessoas trans no Congresso já é uma grande vitória.
No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, que foi comemorado na última quarta-feira (28), qual a mensagem que a senhora deixa para as pessoas da comunidade trans que passam por dificuldades?
A mensagem é de que a gente venceu nas urnas, e nunca antes na história do país tivemos tantas oportunidades de construir políticas públicas para a comunidade LGBT. Para além de um Parlamento conservador, temos um presidente da República progressistas, que está aberto ao diálogo.