A ideia em um segundo Em democracias modernas as pesquisas de intenção de voto fazem parte do cenário eleitoral. Críticas aplicam-se à idoneidade dos institutos e à incapacidade de as pesquisas preverem o resultado da eleição. Mais ainda, não condiriam com o que o cidadão vê à sua volta. Embora a idoneidade seja questão particular a cada caso, o acerto no alvo e o retrato da realidade que vemos não são objetivos das pesquisas, que tanto trazem fotografias de momento quanto criam uma abstração desconhecida mas fundamental, “o eleitor brasileiro”. |
Leia também
Eleições e pesquisas caminham juntas. No entanto, muitos eleitores duvidam de sua verdade e questionam seus resultados. Céticos contestam a lisura dos institutos de pesquisa crendo que interesses não profissionais e não republicanos deturpam os resultados. Outros já duvidam da capacidade técnica de uma pesquisa prever a contagem final dos votos e também seu descolamento em relação à realidade que veem.
Quanto à lisura, trata-se de um fato da vida que haja bons e maus profissionais. Para esclarecer o caso, importa a reputação do instituto de pesquisa. Longevidade e imagem pública fazem a diferença, afinal não se pode imaginar uma organização que tenha sobrevivido décadas apenas produzindo pesquisas fraudulentas para clientes inescrupulosos. Assim, antes de duvidar de uma organização de pesquisa deve-se avaliar sua história.
O segundo ponto, a incapacidade técnica de uma pesquisa prever o resultado de uma eleição, exige outros esclarecimentos.
O alvo móvel
Uma crítica usual às pesquisas baseia-se na comparação entre os levantamentos realizados e o resultado da eleição. Para o crítico, o fato de uma pesquisa não predizer com certeza quem vence, quem perde e o número de votos seria prova de sua fragilidade.
No caso, o erro do crítico reside na crença de que todas as pesquisas devem “acertar” o resultado da eleição. Uma pesquisa retrata o instante em que ela é realizada. Desta forma, a pesquisa que objetiva retratar o resultado é aquela chamada “pesquisa de boca de urna”, a qual questiona eleitores ao longo do dia de votação, pesquisa que atualmente não é permitida no país.
Então qual o valor das pesquisas?
Pesquisas retratam o momento, mostram trajetórias de comportamento de eleitores, funcionam como sequências de fotos que terminam por gerar um filme. Em alguns casos, os eleitores movem-se lentamente, com poucas variações nos números, como a corrida presidencial de 2022 até o momento. Em outros, em prazo de dias algum candidato de destaque colapsa e outro desconhecido avança para os primeiros lugares. A razão desses movimentos não é objeto de uma pesquisa de intenção de voto, mas elas costumam dar pistas ao mostrar quais temas preocupam os eleitores – se o candidato lidera mas é frágil naquele tema, quando a campanha esquentar uma queda pode acontecer.
Um detalhe não trivial refere-se à própria influência das pesquisas nos resultados que elas tentam prever. Ocorre, por exemplo, que a pesquisa ao predizer uma eleição apertada acaba por deslocar eleitores que praticam o voto “útil”, e isso influencia o próprio resultado que ela tentava prever.
“O eleitor brasileiro”, uma abstração
Se há sutilezas na temporalidade de uma pesquisa, há também em seu objeto.
O “eleitor brasileiro” é uma abstração, a figura imaginária que decide quem vence a eleição. A maioria, segundo John Locke, é a força resultante de uma sociedade em que vários movimentos se somam e anulam-se. A resultante, como diz o nome, vê-se apenas pelo resultado.
É usual ouvir que a pesquisa não reflete o que o crítico “está vendo”. Da mesma forma criticam-se os índices de inflação, pois para o consumidor esses são sempre menores do que a inflação que ele “viu no supermercado”.
Uma pesquisa de intenção de voto para presidente deve criar uma abstração que consiga reunir todas as características que determinam o comportamento eleitoral. Entre nós, por exemplo, costuma se considerar a região de residência do eleitor, sua faixa de escolaridade, de renda, de idade e também o gênero. Por vezes ainda se considera a religião do eleitor.
Se fôssemos um país como Botswana, ou outros países africanos, deveríamos considerar a qual tribo o eleitor pertence, e se estivéssemos na Bélgica, a língua falada pelo eleitor, já que o país conta com três grandes grupos diferentes de falantes.
Se região, escolaridade, renda, gênero, religião do eleitor influenciam seu voto, então a abstração “eleitor brasileiro” deve apresentar, em cada uma dessas características, variabilidade suficiente para valorizar cada grupo na medida de sua importância.
O Brasil conta com pouco mais de 147,5 milhões de eleitores inscritos agora em março. Como se vê no gráfico, há 8,5 milhões a mais de eleitoras. Assim, uma pesquisa deve considerar essa diferença na sua amostra, e “o eleitor brasileiro”, para ser correto, é mais da metade “uma eleitora”.
Considerada a escolaridade, vê-se que entre os 147,5 milhões há pouco menos de 25 milhões que cursaram, mesmo que de forma incompleta, um curso superior. Esses representam pouco menos de 20% do total do eleitorado. Logo, uma pesquisa que represente o eleitor brasileiro deve ter no máximo 20% de respostas de pessoas com nível superior completo e incompleto.
Quanto às regiões, o Sul, onde Bolsonaro vai bastante bem, e o Nordeste, onde seu adversário Lula domina, são importantes, mas é no Sudeste que se concentra o grosso do eleitorado. A última região tem praticamente o mesmo número de eleitores que as outras duas somadas.
O mesmo raciocínio das repartições da amostra cabe para as faixas etárias. No gráfico, dividimos os grupos de acordo com a repartição utilizada pelo Datafolha. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apresenta um número maior de faixas, mas a agregação objetiva dialogar com aquele instituto de pesquisa. Assim, se quisermos avaliar a qualidade da amostra do Datafolha, devemos esperar que o eleitorado entre 16 e 24 anos seja 13,11% da amostra ou perto disso, o de 25 a 34 seja 20,48% e daí por diante. Números que fujam muito desses padrões tornariam pior a amostra e menos acuradas suas previsões.
Um segundo nível das amostras pode ser construído cruzando as categorias. Por exemplo, a divisão das faixas de escolaridade por região. Como se vê no gráfico, no Nordeste há 7% de eleitores analfabetos, e apenas 0,1% no exterior.
Em geral, tais cruzamentos não são buscados com rigor nas pesquisas. A razão para não o fazer é que a amostra cresceria sobremaneira. Contudo, mesmo não o fazendo, não se prejudicam as conclusões gerais.
Eleição e pesquisas caminham juntas. Enquanto olhamos apenas para a realidade à nossa volta, quando realizamos “nossa pesquisa pessoal”, não conseguimos apreender a realidade mais ampla. Contudo, realizadas por institutos idôneos, as pesquisas iluminam a realidade do eleitorado antes do teste das urnas.
Termômetro
CHAPA QUENTE | GELADEIRA |
Falando, então, em pesquisas, os levantamentos mais recentes seguem demonstrando certa aproximação do presidente Jair Bolsonaro do seu principal adversário na disputa, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. A pesquisa mais recente da Genial/Quaest, por exemplo, aponta para um crescimento de três pontos percentuais de Bolsonaro, passando de 23% para 26%. Em contrapartida, Lula caiu um ponto, de 45% para 44%. Bolsonaro está em franca campanha: na quinta-feira (17), lançou um pacote de bondades com medidas de que facilitam crédito e permitem saques no FGTS. Nesta sexta (18), aproxima-se dos evangélicos, importante parte da sua base. | Há, porém, algumas ponderações que vêm sendo feitas a respeito desse crescimento. O cientista político Alberto Carlos de Almeida têm feito desde julho um levantamento da medida das principais pesquisas. E observa que, nesse média, considerando que as pesquisas têm margem de erro de dois pontos percentuais, algumas até de três pontos percentuais, os desempenhos dos candidatos não têm variado tanto assim. Lula sempre numa faixa em torno de 40%, Bolsonaro sempre numa faixa próxima de 25% e a soma dos demais candidatos sempre abaixo do percentual de Bolsonaro. Alberto Carlos de Almeida tem insistido que, assim, até agora, as eleições deste ano têm sido “entediantes”. |