Se algo de violento ou inconstitucional acontecer no dia Sete de Setembro, um compromisso assumido pelo presidente Jair Bolsonaro em discurso neste sábado durante o CPAC Brasil 21, um encontro de direita promovido pelo Instituto Conservador-Liberal, estará quebrado. O presidente reforçou junto à plateia presente que estará nos eventos tanto em Brasília quanto em São Paulo. E disse que os atos serão pacíficos e que ele atuará dentro das “quatro linhas da Constituição”. Mas disse que exigirá também que os representantes dos demais poderes atuem da mesma forma.
“Não jogaremos fora das quatro linhas da Constituição. Mas não admitiremos que outros joguem fora das quatro linhas”, disse Bolsonaro. “Somos pacíficos. Nunca invadimos nem invadiremos nenhum prédio”, afirmou também o presidente.
As frases de Bolsonaro em seu discurso, na verdade, são respostas a frases ditas por outras pessoas que o apoiam. Ou respostas a ele mesmo. Quem falou na possibilidade de invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) durante os atos marcados para o Dia da Independência foi o cantor sertanejo Sergio Reis. No mesmo dia, em motociata em Caruaru (PE), Bolsonaro mencionou ameaça de “ruptura institucional”. E menos de 24 horas antes do discurso feito neste sábado, na sexta-feira (3), o próprio Bolsonaro afirmou em Tanhaçu, na Bahia, onde dava início a uma obra ferroviária: “Nós não precisamos sair das quatro linhas da Constituição. Mas, se alguém quiser jogar fora das quatro linhas, nós mostraremos que podemos fazer também”. E, há um mês, ele também já tinha feito a mesma ameaça de jogar “fora das quatro linhas da Constituição”.
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O discurso feito por Bolsonaro no evento conservador funciona, assim, como baliza estabelecida por ele mesmo com relação aos temores sobre as manifestações do Sete de Setembro. Bolsonaro chegou ao evento acompanhado de ministros e ex-ministros. Estavam ao seu lado, entre outros, Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura; Damares Alves, da Mulher; João Roma, da Cidadania; Onyx Lorenzoni, do Trabalho, e Gilson Machado, do Turismo. Os ex-ministros do Meio Ambiente Ricardo Salles e das Relações Exteriores Ernesto Araújo. Também presente o presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo. Sobre o último, o presidente não lembrava do seu nome. Mesmo com um assessor soprando no seu ouvido, Bolsonaro chamou-o primeiro de “negão” e depois de “Sergio Sampaio”.
Bolsonaro fez críticas ao ex-ministro da Saude Luís Henrique Mandetta e devolveu provocação feita pelo ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (sem partido-RJ), que fez uma piada homofóbica contra ele. “Rodrigo Maia, depois que foi trabalhar com o Doria, começou a defender a pauta LGBT. Aquele gordinho nunca me enganou”, afirmou. Maia tornou-se recentemente secretário no governo de João Doria, em São Paulo. Bolsonaro também chamou no discurso Doria de “calcinha apertada”.
O presidente reconheceu diversos problemas por que passa o país neste momento: inflação, preço alto da energia e dos combustíveis, crise hídrica. “O que acontece com esse povo que continua acreditando na gente?”, perguntou. E, como resposta, recorreu à passagem bíblica que usa desde a campanha – “A verdade vos libertará” – e acrescentou com o mote que leva para as manifestações que marca para a próxima terça-feira: “O que faz um povo perecer é a falta de liberdade”, afirmou. “Mais importante do que a vida é a liberdade”.
Disse que os atos da próxima terça-feira não serão a favor de um político ou contra alguém, mas a favor do que ele chama de defesa da liberdade. Que, segundo ele, vem sendo ameaçada pela atitude de “um ministro” do Supremo. Ele não citou o nome do ministro Alexandre de Moraes, que conduz o inquérito sobre os atos antidemocráticos. “Eu simplifico o que é poder moderador: poder moderador é o povo”, disse ele.
“Está em discussão a liberdade de expressão”, discursou. “O que vai fazer o país voltar à normalidade é a atuação de todos vocês”.
Ao afirmar que estará tantos no ato de Brasília quanto no de São Paulo, Bolsonaro convidou também seus demais ministros, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e os ministros do STF. “Será uma festa da democracia”, disse ele. Segundo a página do YouTube por onde o evento foi transmitido, havia cerca de 24 mil pessoas assistindo ao discurso, em média.