Marcelo Ramos*
Num país que tem mais 14,8 milhões de desempregados, 800 mil microempresas fechadas e inflação em alta só poderia ter como resultado a fome. Já são 19 milhões os brasileiros e brasileiras em situação de fome.
Estes números não são só efeito da pandemia, que vinham numa crescente antes da crise da Covid. São reflexo do esvaziamento de programas de estímulo à agricultura familiar e de combate à fome, além da defasagem na cobertura e nos valores do Bolsa Família.
E não há negacionismo capaz camuflar a verdade. Basta olhar as ruas das capitais onde o número de sem-teto e de pessoas buscando alimentos no lixo saltam aos olhos. Mais novo negacionista, o ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou a metodologia de cálculo do IBGE, numa tentativa de negar o recorde do desemprego.
Paulo Guedes deveria saber que criticar o “termômetro” não contribui para baixar a febre. Desemprego se combate com políticas de incentivo ao setor produtivo e programas de qualificação profissional para os mais vulneváveis. Justamente o inverso do que faz Guedes.
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Pesquisa recente revela que de cada R$ 100,00 do orçamento das famílias brasileiras, sobram apenas R$ 41,22 para consumir e pagar dívidas. Desde 2005 as famílias não viviam com orçamento tão apertado, pressionado pela alta dos preços dos alimentos, dos combustíveis e da energia elétrica.
Neste país real, 1% da população mais rica do Brasil detém quase a metade da riqueza nacional (49,6%), apontou o relatório da Riqueza Global, do banco Credit Suisse.
Seja por negacionismo, atraso na vacinação ou suposta corrupção na compra de vacinas, o fato é que a pandemia segue esticada por mais tempo, levando parentes, amigos e postos de trabalho, aprofundando mais a nossa desigualdade. Brigar com a realidade não nos tirará da posição de segundo país com pior distribuição de renda do planeta.
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