Em diversas partes do mundo, a pandemia resultou em uma forte mobilização de doações de vários setores. No Brasil, houve um movimento inédito de filantropia na história recente do país. De acordo com a Associação Brasileira de Captadores de Recursos, já foram mais de R$ 6,4 bilhões doados por mais de 543 milhões de doadores.
O setor financeiro foi o maior responsável pelas doações, com 28% do total, seguido pelo setor de alimentos e bebidas (13%) e mineração (95). Pessoas físicas, seja por meio de lives ou projetos de financiamento coletivo, por exemplo, também se mobilizaram, representando cerca de 4% do total arrecadado. A saúde foi o alvo principal das doações (75% foi destinado para o setor), seguido pela assistência social (19%).
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Os valores mostram que, apesar de ocupar apenas a 74ª colocação no ranking global da solidariedade (estudo feito pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), a cultura da filantropia pode ser considerada forte aqui no Brasil. O que pode explicar a nossa baixa colocação no ranking é que essa cultura é muito mais intensa em períodos de grandes tragédias, a exemplo do que aconteceu no rompimento das barragens de Mariana e de Brumadinho, em Minas, ou no desabamento da ocupação no centro de São Paulo.
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O que falta no país, portanto, é a cultura da periodicidade da doação. Para organizações sem fins lucrativos é muito melhor receber R$ 1 mil todo mês do que R$ 10 mil de uma única vez, pois a constância ajuda a organização a ter um planejamento.
Além disso, a cultura da doação recorrente é uma forma de a sociedade participar mais ativamente nos problemas sociais do país, sinaliza um desejo de mudança e um ato concreto de sair da indignação para a ação.
O Dia de Doar, a ser celebrado no próximo 01 de dezembro, pensa exatamente nisso. Mais do que um grande movimento para incentivar a doação, é uma mobilização que promove um país mais generoso e solidário, por meio de conexão de pessoas com causas. A ideia é fazer isso celebrando o prazer que é doar e o hábito de doar o tempo todo.
A ação foi criada em 2012 com a simples ideia de marcar um dia para encorajar as pessoas a fazerem o bem. Sempre acontece na sequência de datas comerciais já famosas, como a própria Black Friday e a Cyber Monday, realizada na primeira terça-feira depois do Dia de Ação de Graças (o Thanksgiving).
No Brasil, a data foi “lançada” em 2013, mas apenas em 2014 o país passou a fazer parte oficialmente do movimento global, que hoje conta com cerca de 60 países participando oficialmente, e ações sendo realizadas em mais de 190 locais.
Em 2019, a ação incentivou R$ 2,3 milhões em doações e 42 milhões de pessoas foram alcançadas online pelo movimento. Os números são quase 100% maior do que no ano anterior, quando 22 milhões de pessoas foram impactadas pela mensagem #diadedoar nas mídias sociais e houve o estímulo de mais de R$ 1,2 milhão em doações. A expectativa agora, inclusive por conta da pandemia, é que os números sejam ainda maiores.
Esperamos, no entanto, que eles continuem se refletindo no restante do ano. Que possamos alcançar um Brasil mais generoso e solidário, com hábitos constantes de ajudar o próximo.
*Rodrigo Leite, advogado e empreendedor social, fundador da ARCAH, atuou ativamente na área socioambiental e resolução de conflitos das principais obras de infraestrutura no país. Escolhido como Global Shaper pelo World Economic Forum como um dos jovens proeminentes para transformação do estado do mundo.
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