Adultos molestarem sexualmente crianças é algo repulsivo. A humanidade, porém, está produzindo algo seguramente ainda pior: crianças que abusam sexualmente de outras crianças.
Acaba de ser divulgado, no Reino Unido, um chocante relatório noticiando nada menos que 30 mil casos de abusos sexuais entre crianças, acontecidos nos últimos quatro anos – 2.625 deles verificados em escolas. Dentre os abusos reportados, 255 estupros.
Constatou-se que este sério problema só tem se agravado: de 4.603 casos em 2013 passou para 7.866 em 2016 – um aumento de 71%. Se considerados apenas os atos praticados por menores de dez anos, estaríamos a falar em mais do dobro: 204 em 2013 contra 456 em 2016.
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Como explicar-se este fenômeno? Começo por um outro estudo, igualmente realizado no Reino Unido, segundo o qual nada menos que um terço das crianças até dez anos de idade veem pornografia na internet. E oito a cada dez na faixa dos 14 aos 16 anos o fazem regularmente.
Localizei uma terceira pesquisa, indicando que na década de 1990 havia, quando muito, sete mil imagens indecentes de crianças circulando na internet – hoje, segundo estimativas conservadoras, este número já passa dos 100 milhões.
Em recente julgamento acontecido naquele país, um juiz culpou tal quadro ao deparar-se com uma criança de 12 anos de idade que estuprou sua irmã, de apenas sete anos, após jogar um videogame no qual o objetivo era violar mulheres.
Vamos a outro episódio: uma criança de dez anos de idade estuprou sua irmã, que mal havia completado oito anos, após tornar-se viciado em fotografias pornográficas que via na internet. Há ainda o caso da menina russa viciada em pornografia, que contava apenas 12 anos de idade. Proibida pelos pais de acessar a internet, suicidou-se.
O pior é que nada se faz – afinal, reza a hipocrisia corrente ser “politicamente incorreto” criticar-se a disseminação da pornografia, protegida que seria por uma certa “liberdade de expressão”!
Diante desta realidade, somente nos resta recordar Joubert, segundo quem “as crianças tem mais necessidade de modelos do que de críticas”. Ou Karl Menninger, a nos alertar para o fato de que “tudo o que você faz por uma criança ela fará pela sociedade”. Ou, finalmente, Gabriela Mistral: “O futuro das crianças é hoje. Amanhá já é tarde demais”.