Outubro de 2020. Completamos seis meses de restrições decorrentes de uma séria pandemia. Foi um tempo de imensos desafios em nossa Câmara Criminal, lá no Tribunal de Justiça. O quadro de servidores foi seriamente afetado. Não raramente setores eram fechados para desinfecção. Tudo, absolutamente tudo, ficou mais complicado.
Tive, então, uma ideia: verificar o quanto caíra nossa produtividade naqueles seis meses, em comparação com idêntico período do ano anterior. Comecei por ele. Constatei que havíamos julgado 84% dos processos recebidos.
Ao contemplar o desempenho de 2020 tomei um susto: nossa produtividade subira robustos 11%. Parece incrível, mas havíamos julgado 95% de todos os 2.179 processos recebidos – ou 2.083 deles. Isto dá uns 20 julgamentos por dia útil.
Realço que não estamos a falar de uma diferença pequena ou ocasional. Antes, falamos de seis meses e de um número tão brilhante como consistente. O que aconteceu? Afinal, as leis processuais eram as mesmas – em contraste com a realidade bem mais complexa dos tempos de pandemia.
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A resposta, tão simples quanto chocante: houve uma mudança de mentalidade. Simplificações impossíveis de serem concebidas em tempos normais foram adotadas do dia para a noite – com a aprovação de todos, dentro e fora da instituição. Surgiu um intenso espírito de cooperação entre os servidores. O trabalho remoto revelou-se uma experiência tão nova quanto vitoriosa.
Em tempos de tantas e tão contundentes críticas à classe dos servidores públicos vi cenas simplesmente emocionantes, como a de uma servidora diagnosticada com covid-19 participando animadamente de nossas sessões virtuais – aliás, não parou de trabalhar um único dia. Um outro, devotadamente, desviou-se de suas funções para nos proporcionar ferramentas tecnológicas mais adequadas ao período.
No momento de iniciarmos o retorno ao passado fiquei a meditar longamente sobre uma frase do general norte-americano George Patton: “nunca diga às pessoas como fazer as coisas. Diga-lhes o que deve ser feito e elas lhe surpreenderão com sua engenhosidade”. Pois é. Será que, em meio ao emaranhado de leis, procedimentos e regulamentos de uma burocracia infernal, não seria providencial dar à criatividade de nossas autoridades e servidores simplesmente um pouco mais de espaço?
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