Dia 26 de agosto é a data que representa a luta das mulheres por equidade. Uma palavra da moda, mas que poucos entendem realmente o significado. Se formos buscar uma explicação literal, significa “julgamento justo”.
Nosso país, assim como grande parte dos países mais jovens, possui um sistema patriarcal formado por colonizadores, onde o homem é o provedor e a mulher a responsável por cuidar da casa e criar os filhos. Essa herança está intrínseca na cabeça da maioria das pessoas.
No mercado de trabalho, a inserção feminina ocorreu apenas há 59 anos. A vitória, em 1962, ocorreu com a revogação do inciso VII do Artigo 242 do Código Civil Brasileiro de 1916 – em que o trabalho feminino estava sujeito à autorização do marido.
Não precisa fazer muito esforço para perceber que apesar das conquistas, estamos muito distantes de chamar o que temos de igualdade. Basta olhar a participação efetiva no mercado de trabalho, posições de chefia, equilíbrio salarial e participação política, com ocupação de apenas 15% no Congresso.
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E mais, a grande maioria das mulheres passando por isso diariamente, tendo que acumular suas funções de desigualdade e, muitas vezes precariedade no trabalho, com funções domésticas e cuidado com os filhos. Segundo a PNAD – Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua – as mulheres correspondem a 64,5% do grupo fora da força de trabalho no país e 92% assumem as tarefas domésticas. No grupo que trabalha fora, a pesquisa aponta que os rendimentos das mulheres ainda é 21,3% menor que dos homens.
Vivemos em um país em que o presidente da República chama sua única filha de “fraquejada” e se dirige à uma jornalista com uma referência dela estar buscando “dar o furo”, em clara analogia sexual. Enquanto isso, uma parcela da sociedade o aplaude. Ainda é importante destacar que em 2020, no início da pandemia, os números de feminicídio aumentaram 22% em 12 estados brasileiros, em comparação com o mesmo período em 2019.
PublicidadeNeste momento, fechamos os olhos para a situação do Afeganistão, onde uma refugiada chamada Muskan afirma que a situação está tão grave que os talibãs, nas invasões das casas, buscam escravas sexuais e abusam de corpos, até mesmo de mulheres mortas. Lá, ser mulher – criança ou adulta – é ser considerada parte do grupo de maior risco. Os próprios extremistas indicam que todas saiam apenas acompanhadas por homens nas ruas para sua segurança e integridade.
Dentro das nossas dinâmicas sociais, apesar de grande parte dos homens terem instalado um “filtro” em suas palavras e discursos públicos como forma de autopreservação, no íntimo, as ações acabam mostrando a dura realidade desse desequilíbrio nas relações. Seja na forma de olhar uma mulher que passa na rua, o julgamento velado sobre a roupa utilizada ou ação, na redução do crédito das suas conquistas, na disparidade entre os salários correspondentes aos cargos que elas ocupam, assédios moral e sexual, elevação do tom de voz em uma discussão de trabalho e afetiva ou na prática mais comum chamada de maninterrupting, que consiste na interrupção da fala para não deixar sequer a mulher concluir o que estava falando, mesmo ela tendo claro conhecimento sobre o assunto.
É tempo de refletir. Como homem, pai, companheiro e empresário, admito que ainda transito no meio do caminho, desconstruindo conceitos, reaprendendo e ouvindo. Ao mesmo tempo que tenho mais de 50% dos cargos ocupados por mulheres em minhas empresas, sendo que 66% dos cargos de chefia são ocupados por elas, vivo uma luta interna típica de alguém que veio do interior, de uma criação em que testemunhou essa dinâmica. Confesso que ainda escorrego em grande parte dessas ações, precisando trabalhar arduamente a melhoria da minha conduta. Essa vigilância precisa e deve ser contínua.
Quantas relações profissionais, amorosas, afetivas e de amizades ficaram ao longo do meu caminho por atos impulsivos?
Essa data coincide com minha última sessão da chamada Constelação Familiar, que busca o entendimento das dinâmicas e heranças passadas e, apesar das abordagens serem as mais variadas, essa discussão sobre as relações familiares e comportamentos que atravessam gerações foi um tema amplamente debatido.
Neste dia, convido os leitores a fazerem uma autoavaliação de suas condutas. Convido os empresários a reverem suas posturas frente à equidade em suas empresas. Convido os amigos a refletirem suas ações na rotina de trabalho e pessoal. Convido os namorados e maridos a refletirem sobre as palavras ditas e decisões tomadas em uma simples discussão de relacionamento. Convido os pais de meninas a refletirem sobre seu papel para a formação de suas filhas no fortalecimento da personalidade e autoconfiança. Convido os pais de meninos a buscar a formação de uma nova geração de homens, que respeitam e tratam as mulheres como iguais para que esse ciclo de violência e desrespeito se encerre de uma vez por todas.
Dedico esse artigo à todas as grandes profissionais que trabalharam e ainda trabalham ao meu lado. Dedico à Roberta, minha querida mãe, mulher forte e batalhadora que desempenhou jornada dupla de trabalho e nem sempre contou com meu justo reconhecimento. Dedico à minha avó, que apesar de ter se concentrado nas tarefas do lar, nunca deixou de exercer atividades paralelas para aumentar a renda da família. Dedico à minha ex-mulher, pela paciência ao longo de quase uma década às minhas imperfeições. Dedico às minhas irmãs, que sempre foram mulheres fortes e de grande personalidade. Dedico ao meu filho, para que ele possa ser um homem melhor do que eu fui. Em especial, dedico à Beatriz Gagliardo, atual presidente do Mulheres RelGov, que luta pela participação inclusiva e de equidade na política do país e foi a maior responsável por me indicar caminhos de melhoria como pessoa, pai, amigo e empresário.
Mulheres, vocês não estão sozinhas! As conquistas estão longe de serem dignas de comemoração, mas celebrar os pequenos passos faz parte do processo. Feliz dia Internacional da Igualdade Feminina e que nos próximos anos as conquistas sejam cada vez maiores.
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