São Paulo, maior colégio eleitoral do país, elegeu a maior bancada do Psol em sua história, manteve uma relevante representatividade da esquerda na Câmara Municipal e pode conduzir, no domingo (29), Guilherme Boulos (Psol) à prefeitura. As pesquisas apontam disputa acirrada com o prefeito Bruno Covas (PSDB). Mas a situação nas cidades da Grande São Paulo, entretanto, é diferente: foram eleitos menos mulheres e menos vereadores e prefeitos ligados à esquerda.
Levantamento do Congresso em Foco com base nas votações das 39 cidades que compõem a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) mostra que, no primeiro turno, nenhum município elegeu prefeitos de legendas à esquerda. O número pode chegar a no máximo quatro no próximo domingo (29).
Em apenas dois municípios a Câmara Municipal tem uma bancada mais à esquerda que o registrado em São Paulo. Somente em Salesópolis, cidade de 16 mil habitantes a 100 km da capital paulista, há proporcionalmente mais mulheres que na Câmara de São Paulo. Ao todo, 14 cidades da região não elegeram uma mulher sequer, e oito não elegeram ninguém filiado a partido de esquerda.
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Os resultados apontam uma desconexão entre o discurso adotado na capital e nas cidades vizinhas – em sua maioria cidades-dormitório.
“As regiões metropolitanas têm ainda uma dinâmica mais personalizada do que partidária ou ideológica”, analisou Luiz Domingos Costa, professor de ciência política da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e da Uninter. “Mesmo sendo lugares com população imensa, alta taxa de urbanização e de escolaridade, a dinâmica é muito mais personalista do que programática.”
O resultado das eleições nestas cidades também apontam para uma gradativa perda de poder do PT, principal legenda de esquerda nos âmbitos municipais.
PublicidadePara fins de posicionamento político, o Congresso em Foco considerou como partidos de esquerda aqueles que considera como “Extrema esquerda” (PCO, PCB, PSTU e UP), “Esquerda” (PT, PCdoB e Psol) e “centro-esquerda” (PDT, PSB, Cidadania, Rede e PV). Apesar disso, a filiação partidária não tende, como regra, a determinar com exatidão a posição ideológica de um candidato eleito, principalmente em cidades menores.
Capital tem maior variedade
Em 2020, dos 55 vereadores eleitos em São Paulo, 13 são mulheres, duas a mais que em 2016. A bancada feminina chegou, portanto, a 24% da Câmara.
Apesar de proporcionalmente ser mais representativa em gênero, Salesópolis elege apenas 11 vereadores, um quinto da capital. Lá, três mulheres ocuparão cargos a partir de 1º de janeiro, contra apenas uma eleita há quatro anos.
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Entre as cidades com maior população, apenas Guarulhos chegou próximo da capital, ao eleger oito mulheres entre 34 vereadores (23,5% do total). De acordo com o portal G1, 14 dos 39 municípios da região não elegeram nenhuma mulher para o legislativo. Carapicuíba, com uma população de 403 mil habitantes, elegeu 17 homens para 17 vagas. Mauá, com 477 mil, não elegeu nenhuma mulher entre os 23 vereadores.
Na grande São Paulo, as mulheres serão um time de 71 vereadoras, pouco mais de 10,7% do total de 659 legisladores eleitos.
Esquerda fora de grandes prefeituras
Em 2008, quando comandava a Presidência da República, o PT elegeu prefeitos em Osasco e São Bernardo do Campo – duas entre as cinco maiores cidades da grande São Paulo – enquanto o PDT levou a cidade de Guarulhos (a capital ficou com Gilberto Kassab, então no Democratas).
O poderio de 12 anos atrás minguou nas eleições deste ano. No primeiro turno, nenhum prefeito de legendas à esquerda do espectro ideológico se elegeu e apenas quatro deles passaram ao segundo turno.
Além de São Paulo, onde Boulos disputa com Covas, Elói Pietá (PT) ficou em segundo lugar na disputa de Guarulhos, contra o atual prefeito Guti, do PSD; em Diadema, Filippi (PT) teve vantagem contra Taka Yamauchi (PSD) no primeiro turno e pode se eleger neste domingo; e em Mauá, único lugar onde uma vitória de esquerda é garantida, Átila (PSB) e Marcelo Oliveira (PT) disputam o segundo turno.
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Para este problema, Luiz Domingos aponta que o foco de partidos de esquerda (e ele aqui aponta PT, PDT, PCdoB e Psol como os mais ativos) foi eleição ao legislativo nas grandes cidades, com foco em minorias, dando maior espaço para campanhas de representantes de movimentos feministas, negros e LGBTQIA+. A corrente, uma resposta ao que seria um ataque mais agudo do bolsonarismo, teria dado frutos em sua visão. “Embora sejam quatro ou cinco pessoas numa Câmara de dezenas, houve um crescimento em alguns casos de zero para quatro ou cinco pessoas”, analisou o professor. “Não foi trivial o que aconteceu.”
O maior vencedor na grande São Paulo foi o PSDB, com nove prefeituras, podendo chegar a 12 nesse domingo. Para o professor Luiz Domingos, tal fenômeno se explica com a necessidade de prefeitos se alinharem ao governo estadual em busca de maior visibilidade e verbas para seu município. Assim, seria possível entender a conexão partidária entre estes prefeitos e o partido que comanda o estado há 26 anos.
Campanha do Psol teve pouca entrada
Considerado uma das grandes novidades políticas em 2020, o Psol, partido que Guilherme Boulos representa no segundo turno da capital paulista, elegeu mais representantes na capital paulista sozinho que nas 38 outras cidades da grande São Paulo.
Ao todo, o partido elegeu cinco vereadores, nas cidades de Osasco, São Caetano do Sul, Santo André, Mogi das Cruzes e Guarulhos – que tem 1,6 milhão de habitantes e é a maior cidade do país que não é capital de estado.
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O resultado é inferior aos seis representantes que o partido elegeu na capital. Em São Paulo, o partido triplicou o número de vereadores desde 2016 e elegeu a primeira mulher trans e negra da história da Câmara (Thammy Miranda, do PL, será na mesma legislatura o primeiro homem trans da Casa). O PSol terá a terceira maior bancada do legislativo municipal, atrás de PT e PSDB.
Eleições pouco competitivas
Com cerca de 21,5 milhões de habitantes, um em cada 10 brasileiros vive na Região Metropolitana de São Paulo. Além da capital, 11 cidades estavam habilitadas para um eventual segundo turno para prefeitos.
Mas apenas em São Paulo, Guarulhos, Taboão da Serra, Diadema, Mauá e Mogi das Cruzes voltarão às urnas neste domingo. Nas outras, a eleição foi decidida em 1º turno, com a reeleição de prefeitos ou a manutenção de nomes tradicionais em suas regiões.
Em Osasco, que possui 700 mil habitantes e tem o 2º maior PIB do estado, o candidato à reeleição Rogério Lins (Podemos) venceu com 61% dos votos. O caso osasquense também aponta o desgaste do PT na cidade: Emídio de Souza, nome histórico do partido e que já dirigiu a cidade entre 2004 e 2012, acabou em terceiro, com 13% dos votos. A cidade, que teve três mandatos do PT entre 2004 e 2016, não elegeu nenhum vereador do partido pela segunda eleição seguida.
Em São Bernardo do Campo, que tem 844 mil habitantes, Orlando Morando (PSDB) foi reeleito com 67,2% dos votos. Morando se valeu de uma coligação com outros 17 partidos – uma das maiores do país. Luiz Marinho (PT) acabou com 23% dos votos, em segundo lugar, e o partido tem dois dos oito vereadores de esquerda da cidade (em 2016, tinha 5 vereadores).
Barueri, com 276 mil habitantes, era outro município que poderia ter segundo turno. A cidade, no entanto, reelegeu Rubens Furlan (PSDB) com 85,6% dos votos, dando ao político de 68 anos seu sexto mandato como prefeito. Toninho Furlan, que é do PDT mas é irmão do prefeito, também foi reeleito para o sexto mandato na Câmara local. A filha de Rubens, Bruna Furlan, é deputada federal pelo PSDB.
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