A iniciativa do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), de tentar reaproximar o ex-presidente Lula (PT) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) tem gerado incômodo entre petistas do estado. A deputada federal Luizianne Lins (PT), que foi prefeita de Fortaleza (CE) e tenta ser eleita para outro mandato, criticou a divulgação do encontro a duas semanas das eleições municipais.
“Isso não existiu, é fake news, esse encontro deve ter acontecido há muito tempo. Eles vivem de fake news, os Ferreira Gomes adoram fake news. Eles viram que eu estou em São Paulo, vim gravar com o Lula [para a propaganda eleitoral] e eles resolveram plantar isso aí como se fosse uma coisa recente e mandaram para a imprensa toda para desarmar nossa candidatura, para dar o efeito de confusão na cabeça das pessoas”, disse a ex-prefeita em entrevista ao Congresso em Foco.
Já a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, avaliou como positivo o encontro, mas cobrou de Ciro Gomes um pedido público de desculpas a Lula e ao PT.
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“Não sou porta-voz nem posso confirmar conversas de outras pessoas, mas todo gesto na direção de unir a oposição é positivo. Espero que os Ferreira Gomes façam um gesto nesta direção, pedindo a seu candidato em Fortaleza [José Sarto, do PDT] para cessar os ataques à candidata Luizianne Lins, do PT”, afirmou Gleisi ao site.
“Lula é um homem generoso, de coração grande. Mas eu, particularmente, penso que qualquer aproximação com Ciro Gomes passa por um pedido público de desculpas dele ao Lula e ao PT, pelo que ele disse, principalmente ao Lula”, completou.
De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada nessa quarta-feira (28), Luizianne está com 19% das intenções de voto, empatada em segundo lugar dentro da margem de erro com José Sarto (PDT), candidato do grupo de Ciro e que tem 22%. O deputado Capitão Wagner (Pros), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, lidera a pesquisa, com 31%.
PublicidadeO líder da oposição na Câmara dos Deputados, André Figueiredo (PDT-CE), vê como improvável que haja uma aliança entre PT e PDT nas eleições presidenciais de 2022.
“Evidentemente que seria muito boa a união das oposições para 2022, mas a minha crença nessa possibilidade é bem pequena porque o PT raramente abre mão de ser o hegemônico, é difícil. Eu gostaria, mas não vejo como grandes as possibilidades”, afirmou ao site.
O encontro entre Ciro e Lula foi articulado pelo governador petista e ocorreu em setembro, em São Paulo (SP). A notícia foi veiculada na edição de desta quinta-feira (29) do jornal O Globo e confirmada pelo site. Ciro e Lula romperam nas eleições presidenciais de 2018. Na época, Ciro criticou a estratégia de manter o nome do ex-presidente como candidato, apesar de ele estar barrado na Justiça por causa da Lei da Ficha Limpa. Atacado por petistas no primeiro turno, o ex-ministro viajou no segundo turno, sem declarar apoio ao candidato petista Fernando Haddad. Em entrevista ao Congresso em Foco em outubro de 2019, Ciro fez duras críticas a Lula e o chamou de enganador profissional.
Apesar de ser do PT, Camilo é mais próximo politicamente da família Ferreira Gomes do que de seu partido. O petista comandou as secretarias de Cidades e Desenvolvimento Agrário no governo de Cid Gomes (PDT) e foi eleito em 2014 seu sucessor com o apoio do mesmo grupo político.
“Este encontro foi articulado pelo Camilo Santana, não participei, mas sempre julgo que a política tem que ter diálogo e sempre acho bom que prevaleça a harmonia, até nas diferenças”, disse o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, evitando comentar sobre possível alianças nas eleições de 2022.
Nessas eleições municipais, Camilo Santana tem evitado endossar publicamente alguma candidatura. Os postulantes do PDT e do PT à prefeitura de Fortaleza disputam o seu apoio, mas Camilo adota neutralidade.
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