Alvo da 15ª fase da Operação Lesa Pátria, que investiga quem incitou, fomentou e participou dos atos golpistas de 8 de janeiro, o deputado estadual Amauri Ribeiro (União-GO) responde a processo na Justiça Federal em Goiás por racismo na modalidade homofobia. Também virou notícia após ter agredido a filha de 16 anos, ter tomado posse com a esposa no colo, ameaçado uma vereadora e admitido ter feito sexo com animal. Em junho, chegou a dizer em plenário que deveria estar preso por ter ajudado bolsonaristas acampados. Ele é alvo, nesta terça-feira (29), de dois mandados de busca e apreensão nos municípios de Goiânia e Piracanjuba (GO).
Em junho, em discurso na Assembleia Legislativa de Goiás, declarou que deveria estar preso por ter ajudado bolsonaristas acampados. “Eu também deveria estar preso. Eu ajudei a bancar quem estava lá. Pode me prender, eu sou um bandido, eu sou um terrorista, eu sou um canalha, na visão de vocês. Eu ajudei, levei comida, levei água e dei dinheiro. Eu acompanhei lá e também fiquei na porta porque sou patriota”, disse o deputado.
Amauri deu a declaração ao responder a um questionamento do deputado estadual Mauro Rubem (PT) sobre quem teria financiado os atos golpistas. “Respondendo sua pergunta, o dinheiro não veio de fora. Veio de gente que acredita nesta nação e que defende este país mas não concorda com o governo corrupto e bandido”, declarou.
Leia também
Após a repercussão da fala, o deputado pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para não ser preso, alegando que sua fala havia sido descontextualizada.
“Inicialmente, é preciso ressaltar que a fala do parlamentar foi completamente tirada de contexto. Conforme Termo de Declaração anexo, o deputado disse não considerar ‘bandidos os que estavam acampados na porta do quartel em Goiânia; por questões humanitárias levei água e alimentos para os mais carentes que lá estavam; considero vândalos, bandidos e delinquentes os que participaram das depredações ocorridas em 8 de janeiro deste ano’”, diz trecho do pedido, assinado pelo advogado Demóstenes Torres (GO), ex-senador cassado.
Segundo Demóstenes, a PF apreendeu o telefone celular do deputado estadual nesta terça.”Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido e crimes da lei de terrorismo”, informou a Polícia Federal em nota sobre a nova fase da Lesa Pátria. Não foram divulgados detalhes sobre os indícios que levaram às buscas e apreensões.
PublicidadeEm um ato público em outubro, entre o primeiro e o segundo turno da eleição, Amauri disse que haveria uma guerra civil no país se Lula derrotasse Jair Bolsonaro. “E deixa eu te falar: se o seu presidente [Lula] ganhar, vai acontecer uma guerra civil no país. E eu sou reservista. Se eu for convocado, eu vou para a rua e vou empunhar uma arma. Deus que te livre de estar do outro lado nessa luta”, declarou. Depois da repercussão do vídeo, que circulou pelas redes sociais, o deputado disse que sua fala foi descontextualizada e que não defendeu pegar em armas.
Amauri Ribeiro é réu desde janeiro do ano passado por racismo, na modalidade homofobia, depois que publicou uma foto de uma mão branca apertando um punho negro com braço vestido com as cores do arco-íris, símbolo do movimento LGBTQIA+, com a frase “na minha família não”.
Em 2015, quando era prefeito de Piracanjuba, ele agrediu a filha de 16 anos. O caso ganhou repercussão após a divulgação de fotos da menina com lesões nas costas e na boca em redes sociais.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o então prefeito confirmou a agressão e disse que agiu assim como forma de dar um “corretivo” na filha por ela ter tirado uma foto íntima. “As fotos são verdadeiras. Minha filha tomou um corretivo e eu não me arrependo de ter dado esse corretivo. Qualquer pai que tenha amor pela moral e zelo pela sua família teria se desesperado ao ver o que eu vi”, diz Ribeiro em um trecho do vídeo.
Ele causou polêmica em 2019 ao manter sua esposa no colo durante a cerimônia de posse na assembleia. No ano anterior, durante entrevista a um programa, ele admitiu ter mantido relações sexuais com uma cabra. Em agosto de 2021, Amauri Ribeiro fez um discurso em tom intimidador contra a vereadora Luciula do Recanto (PSD-GO), de Goiânia, que atua na proteção dos animais. “Eu fico puto quando vejo uma vereadora invadindo a casa de um cidadão, igual a essa vereadora de Goiânia que se diz protetora de animais. Arrebenta o portão da casa de um cidadão, sem mandado, sem ordem judicial, porque ela também não é polícia, nem com ordem ela podia, e invade uma casa. Para mim, merecia um tiro na cara.” A Câmara Municipal de Goiânia repudiou a fala do deputado estadual na época.