Temendo o impacto provocado pela infiltração de membros do movimento de extrema-direita Nova Resistência dentro do partido, o ministro da Previdência e ex-presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, determinou em maio um esforço concentrado na legenda para identificar e expulsar os envolvidos. O dirigente encarregado conseguiu garantir a remoção de ao menos 50 nomes desde então, e cobra iniciativa da justiça para lidar com o grupo.
Nascida em 2015, a Nova Resistência reivindica a defesa da “quarta teoria política”, corrente de extrema-direita de origem russa criada pelo filósofo Alexandr Dugin, principal ideólogo do governo Putin. Com discursos ufanistas e exaltando tanto a figura de Getúlio Vargas quanto o integralismo, o movimento busca espaço em partidos com pautas nacionalistas desde 2019, ocupando principalmente micropartidos como PCO e PCB, mas também conseguindo alcançar posições importantes no PDT. A sigla, porém, proíbe a filiação a movimentos alheios aos seus próprios segmentos, e já manifestou repúdio às pautas do grupo.
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Com aval de Carlos Lupi e do atual presidente André Figueiredo (PDT-CE), um dos diretores da Fundação Leonel Brizola e dirigente no PDT-RJ, Matheus Felippe, coordenou desde o início de 2023 o esforço para levantar ações contra os infiltrados no conselho de ética do partido. Em maio, porém, a direção central passou a cobrar uma ação mais incisiva.
“Em maio, o [ex] presidente Lupi me ligou pedindo uma lista com os nomes e o máximo de provas de cada pessoa envolvida com a Nova Resistência no partido, para que essa fosse apresentada ao Diretório Nacional que faria a expulsão imediatamente”, conta Matheus Felippe. Concluída a investigação, o partido determinou a criação de uma força-tarefa encarregada de permanecer acompanhando eventuais esforços de infiltração do grupo.
Entre as pessoas expulsas, estava inclusive a vice-líder do movimento, Amaryllis Rezende, que chegou a ocupar espaço na direção do segmento feminino do partido.
Investigados pelos EUA
Ao mesmo tempo que eram investigados pela direção do PDT, a Nova Resistência também foi alvo de um inquérito do Departamento de Estado [Department of State] dos Estados Unidos, órgão com funções equivalentes ao Ministério das Relações Exteriores, que divulgou um dossiê de 28 páginas na terceira semana de outubro acusando o movimento de compor uma rede de desinformação para elaboração de propaganda pró-Rússia na América Latina sobre a guerra na Ucrânia.
PublicidadeO governo estadunidense, que ressalta no documento o caráter pró-fascismo da Nova Resistência, também acusa o movimento de servir como plataforma de propaganda em favor de grupos paramilitares alinhados aos interesses do Kremlin, como as milícias separatistas no leste da Ucrânia e a companhia mercenária Wagner Group, que tem Moscou como seu principal cliente.
Em resposta, o movimento emitiu a seguinte nota:
Face às recentes repercussões envolvendo a NOVA RESISTÊNCIA (NR), organização política brasileira que atua nos marcos legais do Estado de Direito, cumpre esclarecer que:
1) Não recebemos financiamento de nenhuma espécie de qualquer governo estrangeiro. Apoiamos, no exercício Constitucional e Democrático da Livre Opinião e Expressão, Rússia, Palestina, Irã, Síria e outras nações em suas lutas contra o imperialismo.
2) Assumimos uma posição nacionalista, porém rejeitamos categoricamente o neonazismo e o neofascismo. Somos uma organização antirracista.
3) Assumimos ainda posturas conservadoras nos costumes e trabalhistas na economia. Posturas estas que refletem o anseio de grande parcela do povo brasileiro.
4) Por fim, diferente do que afirmam alguns jornais, não temos qualquer relação direta com o Partido Democrático Trabalhista – PDT; tampouco estamos “infiltrados” no mesmo.
Cobrança sobre a justiça
Apesar de considerar bem sucedido o esforço para retirada de membros da Nova Resistência no PDT, Matheus Felippe diz lamentar o fato de não haver esforço na justiça para lidar com o movimento. “O que o partido poderia fazer já foi feito. Nós expulsamos todos os nomes levados até nós. Outros movimentos já estão alertas sobre o que é esse movimento. Só que o trabalho precisa sair um pouco das burocracias partidárias e ir para a Justiça”, defendeu.
O dirigente ressalta que ainda em 2021 o próprio Banco Central já havia reconhecido a Nova Resistência como um fator de risco para a segurança nacional em um relatório de avaliação nacional de risco que classificou o movimento como um “grupo extremista violento não-islâmico”, categoria que também inclui neonazistas, neointegralistas e demais movimentos adeptos à quarta teoria política.
“Essa investigação não pode ficar só nas mãos dos partidos. Mas o que falta para a justiça começar a agir? Esse deveria ser o maior ponto de questionamento até agora. Partidos não são órgãos judiciários ou órgãos penais. Precisa haver uma colaboração das autoridades policiais”, declarou.
Sem uma ação coordenada do governo e do judiciário contra o movimento, Matheus Felippe teme que a investigação realizada em seu partido se transforme em um esforço para “enxugar gelo”, havendo a possibilidade de busca por parte da Nova Resistência por espaços em outras siglas para contornar os obstáculos enfrentados dentro do PDT.