A mudança no comando da Petrobras ainda não aplacou a insatisfação dos caminhoneiros com a gestão Bolsonaro frente aos sucessivos aumentos nos combustíveis. A avaliação é do presidente da Frente Parlamentar Mista dos Caminhoneiros, o deputado federal Nereu Crispim (União-RS), e compartilhada por uma das principais lideranças do setor, o caminhoneiro Wallace Landin, também conhecido como Chorão.
De acordo com ambos, até que haja uma revisão da política de preços praticada pela empresa, que adota como base de reajuste o valor do dólar, a resistência persiste. Em oposição, a categoria deve intensificar a pressão na justiça para conseguir a derrubada da Política de Paridade de Preços (PPI) e barrar, via ações civis públicas a suspensão imediata do aumento dos preços de combustíveis.
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“Eu quero lançar um desafio a esse Adriano [novo presidente da Petrobras], quero ver se ele tem coragem de colocar na pauta do Conselho a retirada do PPI”, disse o caminhoneiro Chorão. “E eu vejo essa mudança com muita preocupação. É mais uma falácia do presidente Bolsonaro que quer ganhar tempo. O Adriano vem na minha linha do ministério [da Economia] e já ficou provado que Paulo Guedes só trabalha para o mercado”, completou.
Para o deputado Nereu Crispim, a postura do presidente Bolsonaro é uma “negação” do discurso que o elegeu e isso tem sido fator crucial, ainda na visão do parlamentar, para que ele perca lastro político entre os caminhoneiros.
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“Temos diversos vídeos do presidente quando era candidato falando da retirada do PPI e criticando a política [da Petrobras] baseada na flutuação do dólar e do barril de petróleo. Mas agora ele se sujeita a essa política trazendo essa desgraça para os caminhoneiros que acreditaram em Bolsonaro. Ele tem sim o poder da caneta, tanto que está aí trocando o presidente da Petrobras”, disparou.
Nereu Crispim também rememora a defesa de Bolsonaro à criação de um Fundo de Estatização de Preços, pauta que não avançou. “Nós tínhamos todos os instrumentos para mudar essa política de preços. Teve audiência pública na comissão com o projeto que cria o fundo de estabilização que foi divulgado por ele [Bolsonaro] naquelas lives e as manifestações quando ele era candidato. E nada”.
O parlamentar comentou que tem trabalhado dentro da Frente para mobilizar as diversas categorias afetadas com o aumento no preço dos combustíveis. “Estamos conversando com os diversos segmentos, os motoristas de app, os motoboys, trabalhadores do fretamento, porque não está bom pra ninguém”.
Internacionalização dos preços
Na segunda-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro mexeu no comando da Petrobras trocando o então presidente e general do Exército, Joaquim Silva e Luna, pelo economista Adriano Pires. A mudança ocorreu após quase um mês de fogo amigo do Palácio contra à estatal e um aumento de 18,8% no litro da gasolina e de mais de 24,9% no litro do diesel para as refinarias.
As críticas públicas à empresa por parte de Bolsonaro foram frequentes. Em uma de suas últimas falas antes de determinar a mudança de chefia, Bolsonaro falou: “eu tenho uma política de não interferir. Sabemos das obrigações legais da Petrobras e, para mim, particularmente falando, é um lucro absurdo que a Petrobras tem num momento atípico no mundo”.
O lucro ao que o presidente se referiu foram os cerca de R$ 106 bilhões em 2021, montante considerado recorde e decorrente justamente do PPI.
Para aplicar o reajuste nos combustíveis, a empresa alegou uma defasagem de quase 30%, que se agravou com a Guerra na Ucrânia e a disparada do preço de petróleo no mercado internacional.
Greve fora da pauta dos caminhoneiros
Apesar da insatisfação, o caminhoneiro Chorão nega a intensão de promover uma nova greve da categoria. “Estamos focado na judicialização dessas questão que falei”, resumiu.
O presidente Bolsonaro foi eleito com uma larga margem de apoio entre os caminhoneiros. A relação entre o Palácio e a categoria, no entanto, tem sido tensa desde o início da gestão, com diversas ameaças de greve e rompimentos com lideranças.
Chorão foi um dos caminhoneiros que chegou a falar, em entrevistas, ter se arrependido de votar no presidente.