Enquanto começa a disputa entre o que muitos consideram o pior e o melhor prefeito da história do Rio recente (a memória do carioca é curta e já não se lembra mais do Rio Cidade do Favela Bairro, carros-chefe dos governos Cesar Maia), a esquerda ainda cata os caquinhos e busca culpados pelo fato de ter ficado fora do segundo turno.
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Se a esquerda tivesse se unido, ou seja, juntado Martha, Benedita e Renata Souza, os votos das três se somariam e assim a esquerda teria carimbado seu passaporte pro segundo turno? Besteira. Em política, a aritmética não é tão simples.
Primeiro ponto. Martha Rocha está hospedada numa sigla tradicional de esquerda, o PDT, mas não tem a cara nem o histórico de uma candidata de esquerda carioca. O distintivo de delegada, realçado na sua campanha muito mais que a rosa da Internacional Socialista, ajudou a atrair o eleitor de centro, mas provocou rejeição do tradicional eleitor da esquerda, que associa o símbolo da polícia a opressão.
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Martha também não tem o carisma que a esquerda carioca tanto admira. Nos perfis que jornal O Globo produziu no domingo da eleição, perguntaram aos candidatos qual o bar/restaurante preferido deles. Eduardo Paes listou uma dezena deles: Caxambeer, Adonis, Bracarense, Jobi… Martha Rocha respondeu … La Mole da Tijuca.
Cariocas não gostam de dias nublados, sinal fechado e, com todo o respeito ao La Mole, onde não vou desde os anos 90, quem ainda frequenta o La Mole é tradicional família tijucana, que vota tradicionalmente em perfis de centro e não de esquerda. Ou seja, o sucesso eleitoral da delegada tinha muito mais a ver com a conquista desse eleitor do que com o tradicional voto da esquerda carioca. Benedita saiu-se muito bem nesse ponto com uma campanha que conseguiu resgatar de forma alegre a bandeira e a estrelinha do PT.
Martha saiu maior do que entrou, mas Benedita, aos 78 anos, tomou chá de juventude . “A Vó tá on” foi o meme que surgiu nas redes tão logo as pesquisas identificaram uma subida da petista nas pesquisas.
PDT, PT e Psol disputam o mesmo voto. Só que a delegada agregou votos do centro. Por essa razão, o discurso usado e viralizado pelos seus adeptos pelo o voto útil não foi “vamos colocar alguém da esquerda no segundo turno”, mas “vamos tirar o Crivella do segundo turno”. Não rolou.
Crivella cresceu impulsionado pelo óbvio. Máquinas da prefeitura e da Igreja e um pedacinho do rebanho bolsonarista que segue cegamente o que seu mestre mandar.
As pesquisas davam ao prefeito 16% na véspera da eleição e ele acabou com 21%. Mas como uma rejeição de 63%, não tem milagre que o faça vencer Eduardo Paes no segundo turno.
O mais rejeitado do Brasil já conseguiu uma vitória e tanto em chegar ao segundo turno. Se Paes continuar na toada que vai, do Dudu sem a arrogância tradicional (seu defeito principal), se Deus quiser dia 29 os cariocas terão um novo prefeito.
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