A pesquisa Datafolha divulgada na noite de quinta-feira (1) confirma o que já dizíamos aqui e era esboçado antes por outras pesquisas. Não é na superfície que a corrida eleitoral se move. Essa movimentação acontece no momento nas suas placas inferiores, mais subterrâneas. Isso indica que a disputa segue sendo, como sempre foi, entre Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e Jair Bolsonaro, do PL, que tenta a reeleição. O que acontece é que a movimentação dos candidatos de baixo joga a eleição para o segundo turno. E o segundo turno é sempre uma nova eleição de apenas 28 dias.
O Datafolha é a primeira pesquisa a demonstrar os efeitos do debate da Band no domingo (25). E reforça o que desde o início já parecia um erro crasso de estratégia de Lula na sua atuação, e que também comentamos por aqui e no domingo no Twitter do Congresso em Foco.
Veja o comentário em vídeo:
Lula optou por jogar parado no domingo. Fazer o mínimo de movimentação para evitar polêmicas e provocações de Bolsonaro. Apostando que Bolsonaro acabaria errando e se enrolando nas próprias pernas. Bolsonaro, de fato, acabou errando e se enrolando nas próprias pernas, com o ataque misógino que fez à jornalista Vera Magalhães e à candidata do MDB, Simone Tebet. Bolsonaro apanhou. Só que quem bateu não foi Lula. E o resultado fica claro no Datafolha: só quem de fato cresceu nessa rodada da pesquisa foi Simone Tebet.
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Lula e Bolsonaro estão há algum tempo parados. Suas oscilações são dentro da margem de erro. Verdade que Lula tem oscilado para baixo e Bolsonaro para cima. Mas o que, de fato, vem acontecendo é a movimentação dos menores. Nenhum deles – nem mesmo Ciro Gomes, do PDT, que aparece mais bem posicionado – tem condições de virar o jogo e ultrapassar algum dos dois primeiros. Na verdade, pelo crescimento de Simone, Ciro talvez já devesse temer perder o terceiro lugar. O que essas movimentações mais abaixo provocam de fato é empurrar a disputa para o segundo turno.
PublicidadeE, aí, não parece haver sentido em Lula continuar no seu jogo na banheira. A cúpula da campanha de Bolsonaro pretende agora reforçar contra Lula dois pontos. Voltar a jogar sobre ele a pecha da corrupção e atacar na pauta de costumes. Nesse sentido, a primeira-dama Michelle Bolsonaro começou a aparecer na campanha de Bolsonaro. E, para entender o papel de Michelle, recomendo fortemente matéria que fizemos no Congresso em Foco explicando o que é a Teologia do Domínio adotada por alguns grupos evangélicos.
Para alguns analistas políticos, como Mara Telles, presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), é um erro Lula entrar na guerra santa proposta por Bolsonaro.
Mas não parece ser um erro a essa altura Lula responder à pecha de corrupção jogando essa pecha sobre Bolsonaro. Aquela cuja família, de acordo com levantamento feito pelo UOL, comprou mais de 50 de 107 imóveis usando dinheiro vivo. Aquele cuja família está envolvida em denúncias de rachadinha. Aquele cujo governo foi investigado em negócios estranhos de aquisição de vacinas. Aquele cujo governo é investigado pela ação escusa de pastores no Ministério da Educação. Aquele que tem como base aliada o Centrão e seu Orçamento secreto. Não tem sentido Lula temer que lhe respondam que o Centrão também esteve com ele. Quem está agora no governo é Bolsonaro e ele prometeu governar de modo diverso.
E é impressionante que pouco tenha sido explorado até agora na campanha a sucessão de barbaridades ditas e feitas durante a pandemia de covid-19. Que não se repitam as falas de Bolsonaro (“Não sou coveiro”, “Vai virar jacaré”, etc), as cenas dele correndo atrás das emas do Alvorada com caixa de cloroquina, imitando gente com falta de ar, apoiadores pulando com caixões, etc.
O resultado do Datafolha talvez mostre que falta um pouco de sangue nos olhos a essa altura à campanha de Lula. E que sangue nos olhos nas campanhas dos menores pode tornar o jogo eleitoral mais difícil.