Orion Teixeira, especial para o Congresso em Foco
Do PSDB ao PT, desde amigos e aliados a inimigos históricos, todos estão de acordo sobre a principal causa que afastou Minas Gerais da disputa nacional, derrubando aquela máxima segundo a qual, na Velha e na Nova República, a sucessão presidencial sempre passava pelo estado. É consenso entre eles que a perda da histórica influência mineira na disputa é resultado do chamado “efeito Aécio Neves”, senador tucano que entrou em desgraça após denúncias de corrupção. Seu desgaste afetou toda a classe política de Minas, que, há tempos, vinha perdendo gradativamente a influência nas decisões nacionais. No atual governo, do qual o tucano foi e é um dos maiores apoiadores, não há um mineiro sequer no ministério.
Quatro anos depois de dois mineiros brigarem, intensa e acirradamente no segundo turno das eleições presidenciais – a petista Dilma Rousseff e o próprio Aécio Neves –, desta vez não há nenhum representante de Minas Gerais na disputa. Na história recente da política brasileira, o estado ficou fora do páreo somente quatro vezes desde a redemocratização.
Estado síntese
Em 1989, na primeira eleição após o fim da ditadura, participaram dois mineiros. O ex-vice-presidente Aureliano Chaves saiu derrotado, mas Itamar Franco foi eleito vice do presidente eleito Fernando Collor, que, dois anos depois foi cassado, abrindo passagem para que o mineiro chegasse ao poder. Em 2002 e 2006, outro mineiro, José Alencar, foi eleito e reeleito vice-presidente. Perto da reta final das definições da campanha deste ano, quatro nomes foram cotados em vão para ser candidato a vice-presidente.
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Tudo somado, da decantada presença mineira na sucessão presidencial, sobrou apenas o fato que o estado é o segundo maior colégio eleitoral do país, com 15,7 milhões de eleitores. Por essa razão, os analistas preveem que quem vencer em Minas ganhará as eleições presidenciais. De acordo com o cientista político Adriano Cerqueira, além da importância como colégio eleitoral, Minas é um estado síntese do eleitorado brasileiro.
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Declínio
Depois de ser o grande nome nacional, alcançar 50 milhões de votos em 2014, cerca de 3,5 milhões a menos do que a vencedora Dilma, Aécio contestou as eleições e comandou o processo que culminou no impeachment da presidente. A partir daí, entrou em declínio por conta de sucessivas denúncias. Virou réu numa ação penal no Supremo Tribunal Federal e é investigado por outras seis acusações. Numa delas, ele foi gravado pedindo R$ 2 milhões para o empresário Joesley Batista, da JBS, seu principal delator e algoz.
Hoje, disputa o cargo de deputado federal, que requer, em média, menos de 100 mil votos para ser eleito, desistindo da reeleição ao Senado. A previsão é de que se eleja. Mas, como ficou menor, nunca mais deverá recuperar a liderança de outrora. Além disso, enfrentará processos que manterão o desgaste pelo mesmo tempo de tramitação.
Sem cacife político
Entre os mineiros que estiveram cotados para compor chapa presidencial neste ano, estavam o ex-prefeito Marcio Lacerda (ex-PSB), sondado para ser vice de Ciro Gomes (PDT), e o empresário Josué Gomes (PR), convidado para ser vice de Geraldo Alckmin (PSDB). Além desses, foram lembrados o advogado Castellar Guimarães Filho (PHS), como vice de Marina Silva (Rede), e o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PSL), cogitado como companheiro de chapa de Jair Bolsonaro.
Nada deu certo. Lacerda foi engolido pelas articulações nacionais, que ignoraram seu nome e até barraram sua candidatura a governador. Filiado ao PR e filho do ex-vice-presidente José Alencar, Josué recusou todos os convites, optando por ficar fora da disputa eleitoral. Foram frustradas também as negociações em favor de Castellar e Marcelo Álvaro Antônio.
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Junto à queda de Aécio, o resultado é um reflexo da falta de importância dos políticos mineiros no cenário nacional. Não apareceu liderança nova, seja no Congresso Nacional, seja fora dele, alguém que fale para fora do estado.
Acerto de contas
Já a eleição estadual reúne, em Minas, os principais personagens da maior crise política nacional, que foi o impeachment de Dilma Rousseff. A petista transferiu seu título, do Rio Grande do Sul para Minas, onde lidera a disputa por uma das duas vagas ao Senado. O senador Antonio Anastasia, que foi o relator do impeachment, é candidato a governador pelo PSDB, e lidera as pesquisas contra Fernando Pimentel (PT), que busca a reeleição.
Aécio perdeu o prestígio até mesmo dentro de seu partido e entre aliados. Apadrinhado político e sucessor dele, Anastasia impôs, como condição para disputar de novo o governo de Minas, que Aécio não estivesse na chapa majoritária como candidato à reeleição ao Senado. O presidenciável Geraldo Alckmin também o evita. A saia justa é explorada pelo governador Fernando Pimentel, que compara os dois senadores mineiros a “goiabada e queijo”, uma combinação indissociável do imaginário popular. Anastasia reage dizendo que é independente e que é o candidato e responsável pela montagem da chapa majoritária e de sua equipe de campanha.
Dilma, por sua vez, quer fazer da eleição estadual, em Minas, um acerto de contas com os seus antagonistas. “Nós vamos, aqui em Minas, combater esse golpe que tem dois dos principais protagonistas. Um que perdeu a eleição, outro que destruiu o orçamento e entregou ao Pimentel um governo falido. Aqui vai se travar a luta decisiva. Porque, se nós não ganharmos aqui, nós perderemos o Brasil”, disse a ex-presidente na convenção partidária que homologou seu nome na chapa de reeleição de Pimentel.