A proposta de criar um novo imposto sobre movimentações financeiras, nos moldes da extinta CPMF, revelada pelo economista Paulo Guedes a um grupo de investidores, causou mal-estar na equipe do candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL). Os jornais desta quinta-feira (20) destacam que Bolsonaro, que se recupera de uma facada no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, ligou para o economista e criticou o anúncio da medida sem que o assunto tivesse sido discutido entre eles.
A possibilidade de recriação da CPMF, cogitada pelo guru econômico de Bolsonaro, foi revelada pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. Assim que a notícia começou a circular, o candidato foi às redes sociais negar a intenção de criar mais imposto. “Nossa equipe econômica trabalha para redução da carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema! Somos e faremos diferente. Esse é o Brasil que queremos!”, escreveu logo pela manhã.
À noite, depois que seus adversários exploraram o assunto, Bolsonaro voltou às redes para negar a proposta de maneira mais incisiva. “Ignorem essas notícias mal intencionadas dizendo que pretendemos recriar a CPMF. Querem criar pânico pois estão em pânico com nossa chance de vitória. Ninguém aguenta mais impostos, temos consciência disso.”
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A versão de Guedes
Em entrevista ao jornal O Globo, Guedes tratou a tributação sobre movimentações financeiras como uma alternativa em estudo para substituir entre quatro a seis tributos. Segundo ele, a iniciativa concorre com a ideia de criar um imposto sobre valor agregado (IVA), em análise por outros candidatos.
“Não é a CPMF. A primeira diferença é que a CPMF é um imposto a mais. (A nossa proposta) seria um imposto único. Não é aumento de imposto de jeito nenhum, é uma simplificação (tributária) brutal”, afirmou o economista ao jornal.
“Estamos examinando pegar quatro, cinco, seis impostos e criar um imposto único federal. Não faz o menor sentido aumentar impostos, criar uma CPMF. Não foi isso que foi falado. A pessoa que passou a informação lá deve ter sido eleitor do PT, do Alckmin, ou coisa assim”, rebateu.
Outra medida levantada pelo economista em reunião com investidores foi a unificação do Imposto de Renda da pessoa física em 20%. Os presidenciáveis Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Fernando Haddad (PT) atacaram as duas propostas. “É um pequeno desastre. Um desastre porque vai fazer pobre, que já paga mais imposto que o rico, pagar ainda mais”, disse Haddad sobre a unificação do IR.
General
Bolsonaro também pediu ao seu vice, General Hamilton Mourão (PRTB), que apareça menos no noticiário. Mourão também deu declarações polêmicas nos últimos dias. Defendeu uma Constituição elaborada por não eleitos e a ideia de que filhos criados por mães e avós, sem a presença do pai, correm mais risco de entrar para o tráfico.
O general cancelou agenda de viagens no interior de São Paulo e no Rio Grande do Sul e ficará em sua casa, no Rio, nos próximos dias. O próprio Mourão considerou a ideia de se instituir novo tributo semelhante à CPMF, atribuída a Paulo Guedes, “um tiro no pé”. Segundo ele, não há crise na campanha. “Isso é uma tentativa de criar uma divisão que não existe. Estamos coesos.”