Dez dias após atacar, em um debate com presidenciáveis, a jornalista Vera Magalhães e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), o presidente Jair Bolsonaro voltou a constranger uma mulher em público. Em entrevista à Jovem Pan nesta terça-feira (6), Bolsonaro se irritou com os questionamentos feitos pela jornalista Amanda Klein sobre o uso de dinheiro vivo na compra de imóveis por integrantes de sua família.
“Amanda, você é casada com uma pessoa que vota em mim. Não sei como é o teu convívio com ele na sua casa”, disse o presidente. A jornalista retrucou: “Minha vida particular não está em pauta aqui”. Bolsonaro insistiu: “E a minha [vida] particular está em pauta por quê?”. A jornalista respondeu: “Porque o senhor é uma pessoa pública, o senhor é presidente da República”. O presidente classificou a pergunta da jornalista como “leviana”. Bolsonaro fez referência ao empresário Paulo Ribeiro de Barros, casado com Amanda, que, segundo ela mesma contou em entrevista anterior, é eleitor do presidente.
Leia também
Assista à entrevista:
O candidato à reeleição disse que a jornalista queria imputar a ele o rótulo de corrupto. “Você quer me rotular de corrupto, Amanda?”, questionou. “Se a Folha faz essa investigação sem pé nem cabeça para me atingir, me perseguem há mais de quatro anos, agora você, da Jovem Pan, vai querer endossar a Folha de S. Paulo?”, prosseguiu ele.
Ele continuou: “Amanda, você está convidada a conhecer minha mansão na vila história de Mambucaba, que vale, segundo a Folha, milhões de reais. Vá lá conhecer, você é casada por uma pessoa bem-sucedida economicamente, eu te vendo hoje a casa que vale milhões de reais. Você vai acreditar na imprensa, Amanda?”.
PublicidadeBolsonaro afirmou que não pode ser responsabilizado por compras feitas por familiares e sugeriu que há uma tentativa de criminalizar suas condutas para influenciar no resultado das eleições. Ele disse, ainda, que tem “quase certeza” de que haverá busca e apreensão contra parentes deles.
“Agora, o que eu posso fazer 30 dias antes das eleições? Entrar na Justiça [contra a reportagem]? Não vai ter eficácia nenhuma daqui a 30 dias… Só falta daqui a uma semana, semana que vem, fazerem busca e apreensão na casa desses parentes meus no Vale do Ribeira. Acho eu, tenho quase certeza, que vão fazer busca e apreensão na casa de parentes”, declarou.
Desde os anos 1990, a família de Bolsonaro negociou 107 imóveis, dos quais ao menos 51 foram adquiridos com o uso de dinheiro vivo, de maneira total ou parcial. De acordo com o levantamento feito pelo UOL, os repasses totalizaram R$ 13,5 milhões, o que equivalem a R$ 25,6 milhões em valores corrigidos pelo IPCA.
Desses, 26 imóveis que totalizam R$ 986 mil — R$ 1,99 milhão em valores corridos — não tiveram o modo de pagamento inserido nos documentos de compra e venda registrados no cartório. 30 imóveis foram adquiridos em transações que utilizaram cheques ou transferências bancárias, totalizando R$ 13,4 milhões (R$ 17,9 milhões corrigidos pelo IPCA).
Ao menos 25 imóveis, adquiridos pelos filhos do presidente e suas ex-esposas, são investigados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro e do Distrito Federal por fazerem parte das investigações sobre as “rachadinhas”. Desde 2018, a segunda ex-esposa de Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, e dois de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), são investigados por um suposto esquema de repasse ilegal do salário de funcionários dos gabinetes.