Depois de ter contrariado o PDT ao não apoiar João Campos (PSB) na disputa pela prefeitura de Recife, o deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE) defende que a sigla supere as divergências internas para tentar construir uma aliança nacional entre a esquerda nas eleições de 2022. “Olhando no contexto nacional, a gente tem que superar as posições de determinados quadros do partido, de determinados parlamentares, inclusive, para tentar construir uma aliança ampla”, afirmou em entrevista ao Congresso em Foco.
“Não vamos conseguir sair do lugar, nessa ilha, isolados. Isso aconteceu em 2018 e não pode acontecer em 2022. A gente tem que dialogar com o campo progressista, com o Psol, com o PT, com o PCdoB, com a Rede, com o PV e, inclusive, com o próprio PSB”, disse ele.
Gadêlha disse não ter a intenção de construir pontes com o deputado e prefeito eleito de Recife, João H. Campos, em caráter pessoal, mas defendeu a proximidade institucional do PDT. “Eu acho que o partido tem que construir institucionalmente. Eu não tenho interesse de construir uma relação política de alianças com um grupo político que usa daquelas práticas. Não tenho interesse algum, mas o PDT, visando a construção e uma aliança ampla, precisa, sim, estabelecer essas relações.”
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Para ele, o PSB jogou uma campanha suja, com coação de servidores públicos e disseminação de fake news. “Acho que essa mácula vai ficar”, avaliou. “Acho que o João começa muito mal, pode ter tido uma vitória eleitoral, mas a forma como ele fez campanha foi, sem dúvidas, uma derrota política absurda para um jovem, como ele, que assume uma grande responsabilidade de administrar uma cidade e que começou agora sua trajetória política.” O PSB e o PDT foram parceiros preferenciais um do outro nas eleições de 2020.
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Novatos na política, Túlio Gadêlha e João Campos foram eleito em 2018 para a Câmara dos Deputados. Ambos perseguiam a prefeitura de Recife em 2020, mas a candidatura de Gadêlha ficou pelo caminho devido à falta de respaldo de seu partido. Gadêlha, então, apoiou a principal oponente de João Campos, a petista Marília Arraes. A decisão contrariou a direção nacional do partido, visto que a vice de João, Isabella de Roldão, é do PDT.
PublicidadeJoão Campos é filho do falecido Eduardo Campos (PSB) — ex-governador de Pernambuco e ex-presidenciável —, bisneto do também ex-governador Miguel Arraes e primo de segundo grau de Marília Arraes, a quem derrotou no segundo turno do pleito municipal. Aos 27 anos, ele é o mais jovem prefeito eleito em uma capital nesta eleição e também será o prefeito mais novo a governar Recife.
Divisões no PDT
Pelo apoio declarado de Gadêlha à petista, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, ventilou a possibilidade de levar o nome do deputado ao conselho de ética. Ele ainda não foi notificado pela direção nacional da sigla. “Acho que o partido agiria precipitadamente se isso se configurar”, disse o deputado ao Congresso em Foco.
Ele se defende afirmando que apoiou uma candidatura do campo progressista, o que não contraria as posições internas da sigla. Na visão dele, há contradições mais graves que precisam ser repensadas, como alguns apoios do partido a candidatos de direita.
Túlio Gadêlha cita, por exemplo, os casos de cidades como Goiânia, em que o PDT apoiou Maguito Vilela (MDB), e de João Pessoa, em que se aliou a Cícero Lucena, do PP, além de Eduardo Braide, do Podemos, em São Luís. Todos eleitos no último domingo.
“Isso, ao meu ver, é mais grave do que apoiar candidaturas do campo progressista, principalmente candidaturas de jovens parlamentares, como Marília, que vem se destacando, que vem se construindo como uma liderança política do estado de Pernambuco. Não dá para ter dois pesos e duas medidas”
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No ano passado, a deputada Tabata Amaral (PDT-SP) recebeu uma punição após votar a favor da reforma da Previdência do governo Bolsonaro. Apesar da dissidência com a direção nacional, ela permanece nos quadros do partido e não recebeu punições mais graves. Questionado se há alguma semelhança entre os dois casos, Gadêlha refutou a comparação. “A minha posição em nada contradiz as questões programáticas do partido”, defendeu.
Ele considera que as arestas com o PDT já estão aparadas e cita divisões internas do partido em eleições passadas. Em 2014, na disputa para o governo de Pernambuco, o presidente estadual do PDT declarou apoio à candidatura de Paulo Câmara (PSB), sendo que o vice de Armando Monteiro, Paulo Rubem, era do PDT.
“Essa divergência sobre alianças sempre aconteceu. É natural. É um momento conflitivo que existe no período eleitoral, mas depois as relações se reestabelecem”, pontuou Gadêlha.
Em visita à capital pernambucana no dia 22 de novembro, Carlos Lupi disse, sem citar nomes: “Quem for do PDT e não estiver com esta chapa não tem mais o que fazer no PDT”.
Gadêlha reconhece que a fala pode ter sido um recado a ele, mas minimiza. “Ele sempre falou isso, em toda eleição. É uma forma de tentar enquadrar parlamentares e dirigentes partidários, mas a nossa posição é respaldada pelo estatuto do partido.”
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A respeito do episódio em que seu ex-chefe de gabinete o contradisse, Túlio disse que é o ex-funcionário quem vai precisar responder. Ele garante que há uma ata registrada em cartório que comprova sua versão dos fatos.
Túlio foi ao Twitter para acusar o PSB de procurar seu chefe de gabinete para tentar comprar o seu silêncio, ou seja, para que não declarasse apoio a qualquer dos candidatos. Citado, o chefe de gabinete de Túlio, Rafael Bezerra, recorreu minutos depois à mesma rede social para contestar a declaração do pedetista e anunciar que estava consternado e pedia sua exoneração do cargo.
“Eu já tive alguns assessores que foram desligados do mandato por desvio de conduta moral. Inclusive, já foram contratados pela gestão do PSB”, afirmou, sem revelar quais.