O deputado e ex-presidente do PSDB Aécio Neves (MG) declarou nesta segunda-feira (15), em uma das primeiras entrevistas que concedeu desde 2017, quando foi atingido pelo caso JBS, que considera o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), um político com análises erradas e que pouco conhece a realidade de Brasília.
“Reconheço o mérito do governador. Acho que a questão da vacina, sem dúvida alguma, boa parte se deve ao esforço dele. Mas eu digo e repito: a obsessão pelo marketing do governador de São Paulo é tão grande que até as virtudes dele acabam não trazendo os ganhos e apoios que ele poderia ter”, disse o mineiro ao Congresso em Foco. “O velho Tancredo dizia que é preciso a gente sargentear antes de ser general”, afirma, citando o avô, primeiro presidente eleito após a redemocratização do país.
Aécio e Doria protagonizam diversos embates desde 2019. O paulista tem dito, em várias declarações públicas, que quer expulsar o ex-governador de Minas Gerais da legenda. Doria, que vem tentando ser candidato ao Planalto, moderou o tom em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no último sábado (13) e afirmou que pode tentar a reeleição em São Paulo.Leia também
“Ele precisa se dedicar a governar bem São Paulo. Ele próprio tem admitido, nesses últimos dias, um outro caminho para que nós possamos discutir a sucessão presidencial a partir da viabilidade de uma candidatura. Se a dele se confirmar até lá como viável, não haverá veto a ele. Mas, hoje, eu acho isso, pelo seu próprio perfil, ainda distante”, declarou Aécio.
Segundo o deputado, o PSDB pode abrir mão de lançar candidato a presidente em 2022. Como nomes fora do partido que podem unir o que ele chamou de “centro ampliado”, Aécio citou Ciro Gomes (PDT) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Na entrevista ao Congresso em Foco, o tucano também negou qualquer irregularidade no caso JBS, no qual é acusado de ter recebido propina do dono do grupo, Joesley Batista. Ele afirmou que a denúncia foi armada pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e que não houve dinheiro público envolvido.
“Aquilo foi uma das gravações mais calhordas e perversas da história política brasileira. Onde um desequilibrado, que conduzia a PGR na época, o senhor Janot, com Marcelo Miller, que era um dublê de procurador e advogado da JBS, montam uma gravação”, afirmou. Aécio é alvo de dois inquéritos derivados da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
Aécio diz ser de oposição ao presidente Jair Bolsonaro, mas reclama das constantes cobranças para que o partido adote uma atitude agressiva contra o presidente. “No Congresso, é natural compreender também que existem pessoas no partido que têm relação institucional com o governo. Isso não é crime”.
Aos 61 anos, o neto do ex-presidente Tancredo Neves já foi presidente da Câmara, governador e senador. Ele foi escolhido na última sexta-feira (12) como presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN) da Câmara em substituição a Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Leia a íntegra da entrevista ao Congresso em Foco:
Congresso em Foco – Quais serão as prioridades do senhor da presidência da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional? O deputado Eduardo Bolsonaro mencionou a tentativa do Brasil de entrar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), acha possível o colegiado auxiliar nisso?
Aécio Neves –O Brasil vem de um período de uma política externa subordinada ao que tem de mais arcaico no mundo, que é aquele bolivarianismo aqui na região melhor expressado pelo governo da Venezuela. Passamos durante três mandatos nos distanciando do mundo a partir desse alinhamento ideológico à esquerda e, a meu ver, ao atraso. Com exceção do hiato que tivemos com o governo Temer, evidentemente foi o PSDB quem conduziu as Relações Exteriores com Serra e Aloysio, onde houve ali um lampejo de luz, de racionalidade. Nós saltamos para o outro extremo. Temos agora uma submissão ao trumpismo, uma negação do multilateralismo, o que nos levou a um distanciamento de vários países do mundo.
Temos uma certa independência, seja ela comercial, econômica. Mas também, nesse momento de pandemia, até na questão do acesso aos insumos e à própria vacina, nosso papel na comissão é, nesse momento é nesse ponto de resgatar esse ponto de equilíbrio, atuarmos junto ao Ministério de Relações Exteriores nos vácuos que ele permite. Vamos trabalhar na questão da OCDE, que eu pessoalmente considero muito importante que, vez ou outra, vem fazendo questionamentos em relação ao governo.
A questão do acordo Mercosul-União Europeia, que eu já na campanha de 2014 falava que preferia, o mais extraordinário instrumento de ampliação do comércio brasileiro com a ampliação de mercados de forma muito rápida, sobretudo, onde somos competitivos, o agronegócio em especial; que também está travado e nós vamos conversar. E tenho estimulado muito o debate da relação independente do viés ideológico. Queremos estabelecer relações com a China, ampliar nossa presença no Brics. Temos que avançar em acordos bilaterais. Aqui, por exemplo, com a Aliança do Pacífico, países aqui da região. Restabelecer o que a nossa Constituição prega: o latino americanismo, uma nação latino-americana, temos que fortalecer esses laços latino-americanos. Meu papel é ajudar que o Brasil resgate o equilíbrio w a isenção que sempre foram marcas da nossa política externa, desde Rio Branco, desde o nascedouro da nossa diplomacia.
O governo Bolsonaro tem uma agenda de Relações Exteriores diferente das gestões anteriores. O chanceler Ernesto Araújo costuma citar uma teoria da conspiração de que há uma agenda globalista. Há muito enfrentamento com a China.
Acho que esse discurso inicial já está se perdendo um pouco com a realidade. Estamos vendo que aquelas críticas muito ácidas e pouco diplomáticas, seja de ministros ou de membros de governo à China, já foram substituídas por um pedido de socorro recente feito por outros membros do governo; o Ministério da Saúde por exemplo. Acho que a realidade é o maior dos ensinamentos que a política nos traz. Não vamos fazer uma gestão de confronto. Até porque quem venceu as eleições é quem dá o tom da política externa. Mas, naquilo que o Brasil tem sido prejudicado ou nas oportunidades que estamos perdendo, caberá à comissão e isso vamos atuar junto com a mesma comissão no Senado. Tenho conversado com a senadora Kátia já nesses últimos dias, inclusive na questão da vacina. Vamos ter uma questão mais forte de identificação dos nichos, que não forem explorados pelo governo brasileiro, na obtenção de vacinas e insumos. Cobrar do governo de forma mais assertiva que apresente resultados. Vamos cobrar relatórios sobre resultados, sobre negociações externas, porque essa é a grande prioridade do momento. Esse tema vai vir também para a comissão: acesso a países e regiões que possam contribuir com o Brasil nessa hora, porque a ação isolada do governo está tendo resultado muito aquém da expectativa da sociedade brasileira.
O PSDB vai fazer pela primeira vez em outubro um processo de prévias. Quem o senhor apoia como candidato ao Planalto em 2022?
Essas prévias propostas pelo presidente Bruno Araújo serão muito mais um instrumento de mobilização interna do partido do que qualquer outra coisa. Na minha avaliação, essas prévias poderão no máximo apresentar um pré-candidato em condições de negociar com outras forças de centro. Tenho dito que não devemos considerar que temos cadeira cativa de candidato a presidente da República em um cenário tão alterado que será esse de 2022 em relação às últimas eleições. O PSDB tem que ter a grandeza, o desprendimento de avaliar com outras forças de centro, que estou chamando de centro ampliado. Vejo desde Ciro Gomes, passando por todos esses partidos de centro, chegando até ao DEM, por exemplo. Se encontrarmos nesse caminho uma candidatura que seja mais viável que a nossa, e é possível que isso aconteça, o PSDB tem que estar pronto para admitir a possibilidade de não ter uma candidatura própria.
Isso é natural na política. Nós, que recebemos apoio de tantos partidos de centro ao longo das candidaturas do PSDB, devemos nos preparar. Claro que é natural que os nomes se coloquem. É natural que o governador Doria se coloque como candidato; candidatura de Eduardo Leite. Arthur Virgilio se colocou como candidato. Mas nenhuma candidatura será imposta ao PSDB. Essa é a questão central que defendo, ninguém, por mais relevante que seja o cargo que ocupe, ou que ache que seja relevante esse cargo, vai impor ao PSDB uma candidatura que não seja natural, não seja uma candidatura fruto do convencimento. Política se faz através do convencimento e não da imposição e da força. O PSDB tem também que admitir a possibilidade de não ter candidato se isso ajudar as forças de centro. Se nós tivermos mais de uma candidatura de centro, aí nós estamos batendo palmas e consolidando a polarização.
Quais outros nomes? Luciano Huck é mesmo uma opção?
O Huck acaba sendo alguém também com a possibilidade de uma penetração em regiões do país que outros candidatos não teriam. Resta saber se haverá essa disposição de candidato. Eu coloquei um nome novo para avaliação. Pode ser que o nome possa ganhar expressão daqui até lá: do presidente do Senado, Rodrigo. É uma novidade no jogo; ele vai ter muito protagonismo daqui até o ano que vem. Tem que estar aberto. O grande gesto, a novidade no PSDB é a seguinte: sabemos que não temos cadeira cativa; vamos fazer nossa mobilização interna, vamos, quem sabe, indicar o pré-candidato. Esse pré-candidato, quem sabe, vai ter a prerrogativa de conversar com outras forças de centro. Até mesmo para apoiá-la. A prévia não significa que o PSDB pode ter um candidato de forma definitiva.
Pacheco entrou há pouco tempo na política. A primeira vez que ele foi eleito foi em 2014 para uma vaga na Câmara dos Deputados.
Na verdade, o que nós temos é observando o horizonte, para ver o que nós enxergamos. O principal nessa hora, na minha avaliação, não é termos um candidato que já surja com grande potencial eleitoral. Isso não vai existir. Mas se um candidato consegue ouvir essas forças do centro, trazer não apenas forças partidárias, mas forças da sociedade, pessoas que pensam o Brasil, que não se veem representadas em nenhum dos extremos. Eu sou daquele que advoga a tese de que a virtude nunca está nos extremos, ela se aproxima mais do centro, do equilíbrio. Se surge uma pessoa de cara nova, passado inquestionável, que possa unir essas forças. Eu acho que o centro terá inegavelmente alguma coisa em torno de 30%. Eu calculo que os extremos mesmo terão 25% cada um. Claro que em havendo a polarização, os extremos, como aconteceu na última eleição com Bolsonaro, se aproximam do centro. Eu acho que existe um espaço vazio ainda para uma candidatura de centro, que cresça durante o processo eleitoral, que traga uma proposta para o país, liberal na economia, solidária na questão social, responsável na questão ética e resgate algumas coisas que perdemos ao longo do tempo. E esse nome – podem ser nomes já conhecidos ou podem ser de alguém que eventualmente estando em uma posição de relevo, como é o caso do presidente do Senado – possa se destacar. Também pode não acontecer. Mas eu quero com isso ampliar um pouco esse leque no qual estamos inseridos hoje.
Sem desprendimento, sem a compressão de que apenas nossa unidade nos dará alguma chance, nós estaremos na verdade consolidando a polarização entre dois extremos. E aí, talvez, o grande beneficiário dessa polarização ainda seja o presidente Bolsonaro.
O senhor e Doria protagonizaram vários embates nos últimos anos. Há mesmo um PSDB de Doria e outro de Aécio?
Acho que existe um certo exagero. Eu sou daqueles que acredita que política se faz com respeito mútuo e com discussão dos problemas. O que talvez falta ao governador Doria e não há aqui nenhuma crítica pessoal, mas é uma avaliação política, é que ele não tem uma compreensão muito clara das coisas em Brasília. O velho Tancredo [escolhido o primeiro presidente da redemocratização e que morreu antes de assumir o cargo e avô de Aécio] dizia que é preciso a gente sargentear antes de ser general. Vejo ele com umas análises muito equivocadas do quadro em Brasília, do próprio processo que levou à eleição de Arthur Lira. O que espero é que ele possa fazer um bom governo em São Paulo. Sem ampliar suas relações com outro mercado da federação, uma candidatura presidencial não existirá. Infelizmente, eu percebo que a maioria dos governadores ao invés de se aproximarem, se distanciaram dele. Reconheço o mérito do governador. Acho que a questão da vacina, sem dúvida alguma, boa parte se deve ao esforço dele. Mas eu digo e repito: a obsessão pelo marketing do governador de São Paulo é tão grande que até as virtudes dele acabam não trazendo os ganhos e apoios que ele poderia ter. Leva tempo para as pessoas compreenderem e analisarem os méritos da sua ação. Ele precisa se dedicar a governar bem São Paulo. Ele próprio tem admitido, nesses últimos dias, um outro caminho para que nós possamos estar discutindo a sucessão presidencial a partir da viabilidade de uma candidatura. Se a dele se confirmar até lá como viável, não haverá veto a ele. Mas hoje eu acho isso, pelo seu próprio perfil, ainda distante.
Como o senhor se considera em relação ao governo Bolsonaro? Base, oposição ou independente?
Somos de oposição. Em Minas Gerais, nas últimas eleições por exemplo, não fizemos um Bolso-Anastasia. Até pagamos um preço por isso. Mas o que eu acho que seja equívoco é essa cobrança diária que o PSDB seja oposição, porque nós somos oposição. Mas a forma de fazer oposição do PSDB é uma forma racional. Acho até compreensível que governadores façam esse discurso um pouco mais duro e é natural. No Congresso, é natural compreender também que existem pessoas no partido que têm relação institucional com o governo. Isso não é crime. Por exemplo, temos afinidade na agenda econômica, votamos as reformas que nós próprios propúnhamos lá atrás e acabaram sendo encampadas por eles. Ao mesmo tempo, temos divergências profundas em relação à agenda de costumes, por exemplo, encampadas pelo governo.
Do ponto de vista político, o papel do PSDB é no centro. Eu próprio conduzi um projeto de país liberal na economia, avançando na área social, com os melhores e mais qualificados brasileiros que naquele tempo [2014] ouvimos e não estamos no mesmo lugar.
Repito: o que temos nesse momento, compreendendo da dinâmica da política e esses fatos novos inclusive com o ex-presidente Lula, que eu quero registrar aqui é, pode até anular seus processos e torná-lo elegível, mas não apaga o desastre que foram os governos do PT para o Brasil, sobretudo na fase final do governo Dilma, que nos levou a três anos consecutivos de recessão, um desemprego que passava de 11% no último ano. Tivemos um aumento de 70% da nossa dívida do Brasil no governo Dilma e não tinha pandemia. Os dados são trágicos. A presidente Dilma foi afastada do governo na minha avaliação muito sincera, menos até pelos crimes de responsabilidade que ela cometeu e acho que cometeu. Mas muito mais pela paralisia do país, pela incapacidade que ela demonstrou de estancar o processo de declínio econômico do Brasil. Isso que levou ao seu afastamento. E isso não será apagado. Acho que ainda existe espaço para uma construção no centro ir ao segundo turno e, no segundo turno, com boas chances de vencer as eleições.
O senhor apoiou Baleia ou Lira para presidente da Câmara?
Na verdade, eu ajudei, o presidente Rodrigo Maia teve a oportunidade de dizer isso mais de uma vez, que o partido ficasse no bloco do Baleia, mesmo sabendo que a maioria dos deputados ou pelo menos metade dos deputados já tinham opção pelo Arthur Lira. Não há um deputado ou deputada do PSDB ou de fora dele que tenha recebido uma palavra minha pessoal ou por telefone em favor da candidatura de alguém.
O que existiu? Uma candidatura que Arthur Lira vinha construindo há muito tempo. Eu disputei a presidência da Câmara. Esse é um voto individual, direto, não há terceirização desse voto, não é o líder que determina quem vota e ele avançou. O Baleia, que tem muitas virtudes, acabou sendo candidato em um tempo muito curto, até a própria questão da pandemia não permitiu que ele construísse, a meu ver, uma frente mais ampla. Foi uma coisa natural, previsível e assim tem que ser compreendido. Querer vincular isso a um apoio ao governo Bolsonaro é um erro de avaliação primário de quem não conhece a política de Brasília. Uma coisa é a eleição para presidente da Câmara, que o deputado vota em quem o conhece, com quem tem algum tipo de relação, que vai ter compromisso de dar espaço para sua atuação política. Querer vincular isso ao apoio ao governo Bolsonaro, repito, é muito desconhecimento da realidade política ou simplesmente má-fé.
O senhor teve em 2014 uma expressiva quantidade de votos, quantidade próxima da presidente que acabou sendo eleita. O PSDB acabou questionando no TSE o resultado da eleição. Quando o processo foi analisado, o presidente já era Michel Temer, e o partido recuou da pressão de contestar o resultado. Por quê?
Esse também é um episódio com uma leitura muito equivocada feita por muitas pessoas. O fato concreto: eu reconheci o resultado das eleições da presidente Dilma às 9 horas da noite do domingo que saiu a apuração. Meia hora depois do resultado oficial, eu liguei para presidente, reconheci a vitória, desejei a ela sucesso no desafio de unificar o país. Lamentavelmente, ela não entendeu nada disso, sequer cumpriu uma liturgia histórica desses momentos que é comunicar o recebimento já dos cumprimentos, o que finaliza do ponto de vista político a disputa. O momento que o derrotado reconhece a vitória, no momento do ponto de vista político, termina, estanca a disputa. Foi isso que eu fiz.
O que nós fizemos no TSE, em razão de inúmeras denúncias que chegaram em relação a resultados de urnas, foi uma busca de uma investigação se era ou não possível haver alguma burla, alguma manipulação nas urnas. Foi feita uma auditoria interna. O TSE delegou ao PSDB que indicasse peritos. Qual foi a conclusão final? É que elas são inauditáveis. Não há como auditar as urnas, não há como saber se pode ou não ter havido algum tipo de manipulação. Foi absolutamente inconclusivo esse questionamento nosso e, depois, o TSE por bem achou que deveria negar provimento àquela ação.
Isso não tem a ver, como uma leitura rasa pode propor, que não aceitamos o resultado da eleição. Muito pelo contrário. Eu liguei para a presidente às 9 horas da noite para dizer para ela que eu estava à disposição, inclusive, desse esforço de unificação do país depois de uma eleição tão dividida. Mas ela ou não quis, ou realmente não compreendeu o sentido das minhas palavras. Sequer registrou essa manifestação que demonstra que eu aceitei o resultado das eleições.
Há uma reação da sociedade em relação a denúncias de corrupção envolvendo o senhor, o caso JBS. Como o senhor pretende lidar com isso ao mesmo tempo que volta a ter um protagonismo político?
Aquilo foi uma das gravações mais calhordas e perversas da história política brasileira. Onde um desequilibrado que conduzia a PGR na época, o senhor Janot, com Marcelo Miller, que era um dublê de procurador e advogado da JBS, montam uma gravação.
Na verdade, o Joesley havia pedido para se encontrar comigo para responder uma proposta que eu tinha feito a ele da compra de um apartamento da minha família. Na mesma semana, esse mesmo apartamento foi oferecido a figuras com as quais nós tínhamos relação pessoal e tinham condições de adquiri-lo. Eu cito nominalmente: senador Tasso Jereissati, insuspeito nessa questão; doutor Pedro Moreira Salles, um dos diretores do Itaú; doutor Robson Andrade, presidente da CNI; Rubens Menim, na época empresário importante de Minas Gerais e hoje dono de um grande grupo de comunicação no Brasil [CNN]. A todos eles, fizemos o mesmo que oferecemos ao senhor Joesley, oferecemos um apartamento porque não tínhamos condições de pagar os advogados.
Por que eu precisava pagar advogados? Porque todas as acusações desses delatores que foram pegos com a boca na botija tendo cometido crimes no governo, não nosso obviamente, mas no governo do PT, falavam que tinham contribuído para a nossa campanha. E contribuíram efetivamente, porque as contribuições eram contribuições oficiais. Os inquéritos das delações chegaram a acontecer com doações de caixa 1 do partido e eles diziam que aquilo no futuro poderia gerar algum benefício, bastava isso para que um inquérito fosse aberto. Eu não tinha como arcar com isso. Tentamos vender o apartamento. Só que quando ofereço ao senhor Joesley, ele, pelos outros problemas que tinha com a Justiça, estava em processo de delação e orientado pela PGR a fazer aquela gravação. O que é aquilo? É um empréstimo sugerido por ele, da forma que ele propôs, obviamente já tinha acertado com a Procuradoria, em dinheiro vivo, foi da forma que ele propôs.
Agora, o fato crucial, ao qual eu peço destaque, sem que houvesse dinheiro público envolvido, como ele próprio diz na gravação, é dinheiro de seus negócios, suas lojas, sem qualquer contrapartida. Portanto, não há crime. O que houve foi uma exploração midiática terrível. Uma indução para que parecesse, mas eu jamais, em toda a minha vida, me apropriei de um centavo sequer de dinheiro público. Fiz um governo em Minas extremamente exitoso e reconhecido. Os inquéritos que respondo, todos eles, dizem respeito a doações de campanhas eleitorais, não minhas apenas, do PSDB, de centenas de candidatos a deputados, de candidatos a governador. Isso vai ficar provado. A verdade vai vencer. Estou muito determinado, cada vez mais, em fazer que a verdade prevaleça e fique claro que eu não cometi qualquer ilegalidade. Foi um crime, Na verdade, fui vítima de uma enorme ilegalidade patrocinada por autoridades públicas. Elas é que têm que responder ao final pelo crime que cometeram.
Aécio presidirá a Comissão de Relações Exteriores da Câmara
PSDB antecipa prévias para escolha de presidenciável e pressiona Doria