Documentos enviados à CPI da Covid pelo Ministério de Relações Exteriores (MRE) mostram que a comitiva brasileira enviada a Israel entre 7 e 9 de março de 2021 para tratar sobre um spray nasal contra o vírus, também teve reuniões com autoridades do país sobre terrorismo estatal, liberdade de culto e missão espacial.
Apesar de negar que houve qualquer conversa sobre armamentos e munições, trecho do documento mostra que a delegação foi recebida pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para tratar sobre temas como saúde, educação, ciência, tecnologia e inovação, defesa, segurança, cooperação espacial e agricultura.
“Reafirmaram ademais, a relevância da coordenação política entre os dois países em fóruns internacionais; a preocupação com o terrorismo estatal e o crime transnacional em suas respectivas regiões; e o compromisso conjunto de salvaguardar o princípio da liberdade de culto e lutar contra o antissemitismo”, diz o documento.
Parte dos documentos entregues à comissão está sob sigilo. Já aqueles que estão públicos, não detalham o que foi debatido nos encontros.
Missão espacial
Os documentos mostram ainda que, a pedido do governo israelense, a delegação brasileira manteve duas reuniões adicionais na segunda-feira (8). Na primeira, com representantes do “lsrael Export Institut”, órgão financiado pelo governo e setor privado israelenses, responsável pela promoção das exportações do país na área de equipamentos médicos e de saúde, e que decidiu-se formar grupo
de trabalho com o objetivo de estabelecer plano conjunto de ações para 2021, com foco em soluções para o combate à pandemia.
O segundo encontro foi com o diretor da Agência Espacial lsraelense, Avi Blasberger. O documento diz que na ocasião “foram traçadas as perspectivas da cooperação Brasil-lsrael no campo espacial, com ênfase na participação do Brasil no projeto israelense Beresheet-2 (Gênesis 2), que envolve o desenvolvimento e o envio de módulo à Lua, com pouso planejado em 2024”. Também foi discutida a eventual negociação de acordo amplo entre as Agências Espaciais Brasileira e lsraelense.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcos Pontes, participou desse encontro por videoconferência.
Covid
Os documentos mostram que a comitiva cumpriu agenda com autoridades, empresas e entidades locais para discutir sobre o desenvolvimento de vacinas, tecnologias utilizadas no campo da saúde, além de soluções no desenvolvimento de antivirais, telemedicina, terapias avançadas e saúde digital. Não há, porém, detalhes sobre essas ações e acordos.
Durante a viagem foi assinada uma carta de intenções entre o MCTI e o Hadassah Medical Organization, voltado para cooperação científica e troca de informações relacionadas a novas vacinas e tratamentos antivirais com foco no enfrentamento da covid. “O entendimento também prevê participação da RedeVírus do MCTI nessas pesquisas”, diz o documento.
A delegação brasileira se reuniu com o diretor do Hospital lchilov/Sourasky, Dr. Ronni Gamzu. lchilov é o hospital responsável pelo desenvolvimento do spray nasal EXO-CD24. No encontro, diz o Ministério, tratou-se, sem chegar à finalização, a uma de carta de intenções que previa o compartilhamento de informações, boas práticas e apoio técnico, analítico e logístico com contraparte brasileira, com vistas à participação do país no desenvolvimento conjunto do produto (fases 2 e 3 dos estudos), caso a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) autorizassem ensaios clínicos no Brasil.
Iniciativa
Em resposta aos requerimentos dos senadores da comissão, o MRE afirmou que a iniciativa da viagem partiu do próprio presidente Jair Bolsonaro, sob a justificativa de que desde o início de seu governo, “o Brasil procurou elevar a patamar inédito o nível do relacionamento bilateral com lsrael nos mais diversos domínios”.
“O dinamismo e a profundidade do relacionamento bilateral justificaram a realização da missão oficial ministerial”.
Os senadores questionaram a pasta sobre o papel de cada membro da delegação brasileira na viagem. O MRE respondeu que a escolha dos integrantes levou em conta critérios políticos, técnicos e a “capacidade de cada participante, em suas respectivas funções institucionais de colaborar para o diálogo político em alto nível e para o diálogo técnico e científico entre os dois países.”
E justificou que a presença dos deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Helio Lopes (PSL-RJ) refletiram “a importância do Congresso Nacional nas ações de política externa desenvolvidas pelo Executivo, nos termos da Constituição Federal, que atribui ao Legislativo a competência para a tramitação de acordos internacionais negociados pelo Executivo”.
Participaram da viagem o então secretário especial de Comunicação Social, Fábio Wajngarten; o assessor especial da Presidência Filipe Martins; os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Hélio Lopes (PSL-RJ); o embaixador Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega; o secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto; o secretário de Pesquisa e Formação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcelo Marcos Morales, o assessor Especial da presidência da República, Max Guilherme Machado de Moura; e o introdutor diplomático, secretário Pedro Paranhos. Todos capitaneados pelo ex-chanceler Ernesto Araújo.
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