O terrorista que se auto-explodiu em frente ao Supremo Tribunal Federal trouxe mais combustível para os que não aceitam a anistia para os terroristas do 8 de janeiro e nem também que Bolsonaro pegue carona nela e reverta a inelegibilidade e lhe permita concorrer à presidência da República em 2026. Aliás, desde a eleição de Donald Trump a extrema-direita, que já se assanhava toda com o bom desempenho nas eleições municipais daqui, se alvoroça com a possibilidade da aprovação da anistia. Sem esquecer que ambos os personagens, Trump e Bolsonaro, nem chegam a ter currículos, mas sim folhas corridas, tamanho o número de delitos praticados pelos dois. Trump já vai assumir com uma enorme carga de processos nas costas.
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Ele já é condenado por ter usado verba de campanha pra pagar o silêncio de uma atriz pornô com quem teve um caso e responde a três processos criminais e 88 acusações na justiça. Trump também é réu por estimular a invasão do Capitólio para mudar na marra o resultado da eleição. Que nem Bolsonaro, que apoiou os terroristas do 8 de janeiro.
Já Bolsonaro, lembre-se, tornou-se inelegível não pelo apoio aos imbecis do 8 de janeiro, mas por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, ao espalhar desinformação sobre o sistema eletrônico de votação e fazer ataques ao TSE na tentativa de obter ganhos eleitorais. Além de usar a estrutura da Presidência da República e do cargo para realizar uma reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada três meses antes do primeiro turno das eleições de 2022 para lançar dúvidas sobre a lisura das urnas eletrônicas.
Bolsonaro também responde por difusão de fake news com ataques a ministros do Supremo; de trocar a direção da PF para favorecer os filhos; de manter uma milícia digital para delas se beneficiar e se proteger; por vazar documentos sigilosos; por fazer lives nas quais desmereceu as vacinas; e por ter agredido verbalmente a deputada Maria do Rosário (PT-RS) ao afirmar diante das câmeras de TV que não a estupraria por ela ser “muito feia”; isso tudo além do chamado “escândalo das jóias”, entre outros processos.
Por esse quadro, é fácil perceber que a trajetória de Trump, mesmo eleito para o mais alto cargo da política mundial, não o credencia, como acredita Bolsonaro, cuja trajetória vai no mesmo rumo, para justificar a revogação pelo ministro Alexandre de Moraes da proibição de sair do país para ele poder ir à posse do futuro presidente dos Estados Unidos. Nem de Bolsonaro merecer uma anistia que que a bomba na praça dos Três Poderes implodiu de vez. É quase catatônico perceber que a vitória de Trump subiu tanto à cabeça de Bolsonaro que ele não teve pudor em afirmar: “Moraes vai falar não para o cara mais poderoso do mundo? Eu sou ex-presidente. O cara vai arranjar uma encrenca por causa do ex-presidente? Ele acha que vou para os Estados Unidos e vou ficar lá?”. Pois a resposta é sim, porque ele foi proibido de deixar o Brasil, segundo o despacho do próprio Moraes, por representar um “perigo para o desenvolvimento das investigações criminais”.
Trump e Bolsonaro se merecem na péssima trajetória de suas atuações tanto na vida privada como na vida pública. Bolsonaro teve seu passaporte apreendido durante operação da Polícia Federal no inquérito da tentativa de golpe. E não será pelo fato de Trump se tornar o homem mais poderoso que a justiça brasileira terá de se curvar a ele e passar por cima da nossa legislação. Que conversa é essa? Se Moraes se agachar e se sujeitar a isso estará cometendo crime de prevaricação. Além de ser um ato de profunda subserviência. Afinal, a autonomia, a independência e a soberania da justiça brasileira estão acima – acima, sim! – do homem mais poderoso do mundo. Como estão também acima do homem mais rico. E a prova disso foi a decretação por Moraes da suspensão das atividades do X-ex-Twitter por falta de um representante formal da plataforma em território brasileiro. Só voltou a funcionar depois de nomear esse representante, apesar dos esperneios do bilionário Elon Musk, o dono da X.
PublicidadeSe observada com a lente de sua trajetória, a frase de Bolsonaro sobre Trump ser o homem mais poderoso do mundo revela claramente sua forma autoritária de raciocinar. É bem do tipo: quem manda é o mais forte, independentemente de lei ou de ter ou não razão. E o mais fraco que obedeça ao mais forte e ponto final. Portanto, o simples fato de Trump estar perto de se tornar o homem mais poderoso do mundo, na cabeça de Bolsonaro, é motivo suficiente para se passar uma borracha na legislação legal brasileira. Ainda citando trajetórias, a de Moraes é sensivelmente melhor que a de Bolsonaro. Dá pra concluir que Bolsonaro vai esperar na chuva. Em primeiro lugar, porque é mais improvável do que nevar no Piauí que Trump vá ligar para Moraes “ordenando” a retirada da proibição imposta a Bolsonaro. E, em segundo lugar, que Moraes, nesta altura do campeonato, vá se curvar a um presidente estrangeiro só pelo fato de ele ser o homem mais poderoso do mundo. Além do que, anistiar Bolsonaro do caminhão de processos a que ele responde seria apenas ridículo, para dizer o mínimo.
Sim. Trump vai ser o homem mais poderoso do mundo. Aqui de Pindorama, Moraes simplesmente pode responder: Sim. Trump é o mais poderoso. E daí, cara-pálida?
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