O governo israelense responsabilizou a Organização das Nações Unidas (ONU), o Egito e o grupo Hamas pelo bloqueio de suprimentos enviados por vários países, inclusive o Brasil, como ajuda humanitária para a Faixa de Gaza. Mesmo assim, admitiu que retém produtos que considera uma ameaça à sua segurança.
Em resposta encaminhada ao Congresso em Foco nesta quarta-feira (6), a Embaixada de Israel em Brasília alega que parte do material é liberada sob “estrita supervisão para evitar a entrada de equipamento destinado a elementos terroristas”. O governo israelense diz não ter informação sobre a retenção de 30 caixas com freezers e filtros de água enviados pelo Brasil. “Em relação a uma entrega específica é muito difícil saber. Israel não limita a quantidade de ajuda que entra em Gaza”, afirma em nota (veja a íntegra mais abaixo).
400 caixas retidas
O governo israelense também refuta a acusação feita pelo deputado italiano Angelo Bonelli de que as forças de segurança do país estão impedindo a entrada de 400 caixas de alimentos e outros produtos em Al Arish, na fronteira entre Egito e Faixa de Gaza. Entre elas, as 30 caixas brasileiras.
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“Israel está agindo para evitar uma crise humanitária e está permitindo a transferência de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, após inspeção”, afirma. Segundo a embaixada, há duas razões diferentes que não se devem ao lado israelense: “A taxa de controles de segurança do lado egípcio ou a lentidão da distribuição pela ONU dentro da Faixa”.
Segundo a embaixada, Israel criou hospitais de campanha e hospitais flutuantes para atendimento das vítimas palestinas. O órgão que representa o país no Brasil ainda acusa o Hamas de “roubar” os produtos enviados como ajuda humanitária e vendê-los por “preços exorbitantes”. “A ONU não denuncia nem repreende estas ações”, reclama.
PublicidadeItaliano contesta
Essa, porém, não é a realidade local, segundo Angelo Bonelli. O deputado italiano afirma que, na fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza, as autoridades israelenses também estão barrando a entrada de alimentos, enquanto crianças e outros palestinos morrem de fome. “Vetaram até biscoitos de chocolate porque não eram produtos de necessidade básica”, afirma.
“No armazém estão retidos cilindros de oxigênio, camas para cuidados de longa permanência, incubadoras, geladeiras, barracas, muletas. Qualquer coisa que produza energia, incluindo painéis solares, não chegará a Gaza”, explica Bonelli. Medicamentos também estão impedidos de chegar ao destino.
Além do Brasil, também têm carga retida na fronteira com a Faixa de Gaza países como França, Alemanha, Kuwait, Singapura, Espanha, Itália e Arábia Saudita estão mantidas em um galpão da Cruz Vermelha na cidade egípcia de Al Arish, a cerca de 20 km de Rafah.
Em troca de mensagens com o Congresso em Foco, Bonelli, que esteve esta semana na região, encaminhou fotos e vídeos mostrando o produto apreendido na barreira. “Há uma situação catastrófica. Dois mil caminhões estão bloqueados há mais de um mês e aguardam para poder entrar em Gaza para entregar ajuda humanitária. Uma loucura”, resume o parlamentar do Partido Verde.
Veja a íntegra da nota enviada pela Embaixada de Israel ao Congresso em Foco nesta quarta-feira:
“Israel está agindo para evitar uma crise humanitária e está permitindo a transferência de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, após inspeção. Isto ocorre sob estrita supervisão para evitar a entrada de equipamento destinado a elementos terroristas.
Há duas razões diferentes que não se devem ao lado israelita: a taxa de controles de segurança do lado egípcio ou a lentidão da distribuição pela ONU dentro da Faixa. Em relação a uma entrega específica é muito difícil saber. Israel não limita a quantidade de ajuda que entra em Gaza.
Desde o início da guerra, mais de 15.000 caminhões transportando mais de 274.540 toneladas de ajuda humanitária entraram na Faixa de Gaza. Uma zona humanitária foi estabelecida no sudoeste da Faixa, para minimizar os danos aos não envolvidos e para aumentar acesso à ajuda humanitária. Foram criados hospitais de campanha e hospitais flutuantes e estão sendo feitos esforços para criar mais.
O Hamas é responsável pela situação humanitária em Gaza, devido aos seus esforços para maximizar o sofrimento da população, como forma de pressão para parar a guerra.
O Hamas rouba uma parte significativa da ajuda humanitária que entra na Faixa de Gaza, para seu próprio uso, e vende o resto por preços exorbitantes. A ONU não denuncia nem repreende estas ações.
Ao permitir a transferência de ajuda humanitária, Israel também ajuda a prevenir a poluição por esgotos, bem como o desenvolvimento de doenças.”
Crise diplomática e críticas
Desde que o Hamas atacou Israel, deixando mais de 1.400 pessoas mortas e sequestrando outras 240, já se passaram 150 dias de guerra. Nesse período, mais de 30 mil pessoas foram mortas e cerca de 72 mil ficaram feridas na Faixa de Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde da Palestina.
O governo de Benjamin Netanyahu tem ficado mais isolado internacionalmente. As críticas se intensificaram na semana passada, vindo inclusive de aliados, como os Estados Unidos, após o chamado “massacre da farinha”, quando cerca de 120 pessoas morreram e outras 750 ficaram feridas em meio a um bombardeio sobre população civil de palestinos que faziam fila para receber ajuda humanitária. Comunidades judaicas no Brasil também repudiaram o ataque.
Brasil e Israel vivem uma crise diplomática desde que o presidente Lula acusou Israel de promover um genocídio, e o governo de Benjamin Netanyahu, em resposta, chamou o embaixador brasileiro em Tel-Aviv e declarou o petista “persona non grata“. O embaixador de Israel em Brasília também foi chamado para dar explicações ao ministro das Relações Internacionais, Mauro Vieira.