Em discurso na Assembleia Geral da ONU, Jair Bolsonaro afirmou que a indígena e youtuber Ysani Kalapalo, sua apoiadora, tem autoridade imposta por diversas lideranças para representar os povos indígenas do Brasil. As maiores lideranças das 16 etnias da região do Xingu – onde Ysani nasceu- emitiram uma carta repudiando a escolha de Kalapalo e afirmando que ela não os representa.
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O presidente afirmou ainda que os indígenas não querem ser “latifundiários pobres em cima de terra rica” e citou as reservas minerais estimadas nos territórios Yanomami e Raposa Serra do Sol. “Muitas comunidades estão sedentas para que desenvolvimento ocorra sem amarras ideológicas e burocráticas”, mencionou o Bolsonaro, que também associou a situação pobreza de povos indígenas ao “ambientalismo radical e indigenismo ultrapassado”.
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“O governo brasileiro ofende as lideranças indígenas do Xingu e do Brasil ao dar destaque a uma indígena que vem atuando constantemente em redes sociais com objetivo único de ofender e desmoralizar as lideranças e o movimento indígena do Brasil”, afirmam os povos indígenas da região.
Em outro ponto do documento, os xinguanos reivindicam a autonomia para escolherem, segundo suas tradições, as lideranças que poderão falar em nome dos povos. “Os 16 povos indígenas do Território Indígena do Xingu através de seus caciques reafirmam seu direito de autonomia de decisão através de seu próprio sistema de governança composto por todos os principais caciques dos povos xinguanos”.
Bolsonaro também atacou a figura de Raoni Metuktire, reconhecido por muitos como uma das maiores lideranças indígenas do Brasil. “Acabou o monopólio do senhor Raoni”, discursou Bolsonaro ao fim da leitura.
As mulheres indígenas do Xingu, também publicaram uma carta de repúdio, tanto pela escolha de Ysani, quanto pelas críticas que o presidente fez ao líder Raoni.
“O presidente da república do Brasil, desde que assumiu o poder, vem recusando a se encontrar com um dos nossos maiores líderes indígenas do Brasil, o Raoni Metuktire, reconhecido nacionalmente e internacionalmente. No entanto, o presidente anuncia que vai incluir uma indígena sem expressão política entre os povos indígenas do Xingu na delegação do governo para ir na ONU”, diz o documento. “Lamentamos profundamente que o Bolsonaro utiliza de suas estratégias mais baixas para colocar uma mulher indígena como seu fantoche. Não queremos ser representadas por essas pessoas”, afirma a carta.
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Durante os meses de maio e junho deste ano, o líder indígena Raoni Metuktire, 87 anos, etnia kayapó, percorreu a Europa denunciando a política ambiental e indígena do governo Bolsonaro, assim como avanço dos madeireiros e do agronegócio sobre o Parque Nacional do Xingu. Ele também buscava recursos financeiros para proteger a área. Raoni foi recebido pelo presidente francês, Emmanuel Macron, assim como pelo Papa Francisco, chefe da igreja católica apostólica romana. O líder indígena brasileiro esteve ainda na Bélgica, Suíça, Luxemburgo, Mônaco e Itália. Nos anos 1980, Raoni combateu a ditadura militar no Brasil.
A carta das mulheres indígenas do Xingu afirma ainda que as mulheres que representam os povos e que estão em Nova York são: Sônia Bone Guajajará, Cris Julião Pankararu e Ngajhwantxi Kisedjê.
Assinam a carta os caciques Tafukuma Kalapalo (Povo Kalapalo) Aritana Yawalapiti, (Povo Yawalapiti), Afukaká Kuikuro (Povo Kuikuro), Kotok Kamaiurá, (Povo Kamaiurá), Atakaho Waurá (Povo Wauja), Tirefé Nafukuá (Povo Nafukua), Arifira Matipu (Povo Matipu), Awajatu Aweti (Povo Aweti), Mayukuti Mehinako (Povo Mehinako) Kowo Trumai (Povo Trumai), Melobo Ikpeng (Povo Ikpeng), Kuiussi Suya (Povo Kisedje), Sadeá Yudjá (Povo Yudja) e Mairawe Kaiabi (Povo Kawaiwete).
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