O presidente Jair Bolsonaro interrompeu seu descanso no Guarujá (SP), neste domingo (27), para declarar que o Brasil ficará neutro em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia, que chegou hoje ao seu quarto dia. Em uma entrevista coletiva improvisada no início da noite, ele disse que ucranianos e russos são “praticamente irmãos”, que é “exagero falar em massacre” e que não quer tomar posição que possa trazer as consequências do “embate” para o país.
- “Estive falando há pouco com o presidente Putin, tratamos dos fertilizantes, do nosso comércio, ficamos duas horas ao telefone. Ele falou da Ucrânia, mas me reservo a não entrar em detalhes da forma como vocês gostariam”, disse. “Temos que ter responsabilidade em termos de negócios com a Rússia. O Brasil depende de fertilizantes”, acrescentou.
Ao comentar a posição favorável do Brasil a uma resolução contra a Rússia, na última sexta-feira (25), Bolsonaro afirmou que o voto do país não está definido e “não está atrelado a qualquer potência”. “Nosso voto é livre e vai ser dado nessa direção […]. A nossa posição com o ministro Carlos França é de equilíbrio. E nós não podemos interferir. Nós queremos a paz, mas não podemos trazer consequências para cá”, declarou.
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Na coletiva, Bolsonaro foi questionado se manteria o discurso de neutralidade mesmo diante do avanço de tropas russas sobre a Ucrânia e a o assassinato de civis. “São países praticamente irmãos. Um massacre de civis há muito tempo não se ouve falar. Não é tática de nenhum mundo fazer isso”, respondeu.
Bolsonaro disse que não há da parte de Vladimir Putin interesse em praticar um massacre e reforçou sua preocupação com as consequências de seu posicionamento em relação ao conflito para o Brasil. “Eu entendo que não há interesse por parte do líder russo de praticar um massacre. Ele está se empenhando em duas regiões do Sul da Ucrânia que, em referendo, mais de 90% da população quis se tornar independente, se aproximando da Rússia. Uma decisão minha pode trazer sérios prejuízos para o Brasil”, afirmou.
O presidente ironizou a escolha de um comediante, Volodymyr Zelensky, pelo povo ucraniano para comandar o país. “O comediante que foi eleito presidente da Ucrânia, o povo confiou em um comediante para traçar o destino da nação. Eu vou esperar o relatório da ONU para emitir a minha opinião”, disse.
Segundo ele, seria uma “suicídio” tomar partido em uma guerra como essa. “O mundo se preocupa com isso. Um conflito, ainda mais para a área nuclear, o mundo todo vai sofrer com isso aí. Então isso não interessa pra ninguém, seria um suicídio. Agora, nós devemos entender o que está acontecendo, no meu entender, nós não vamos tomar partido, nós vamos continuar pela neutralidade e ajudar no que for possível em busca da solução”, declarou.
PublicidadeBolsonaro passa o feriado prolongado no litoral paulista desde sábado. Ele só deve retornar a Brasília na quarta-feira. Durante a última semana, o presidente brasileiro foi pressionado internacionalmente a tomar uma posição dura contra a Rússia – coisa que não aconteceu nem deverá ocorrer. Ele passeou de jet ski, subiu em uma embarcação para tirar fotos com apoiadores e foi a uma pizzaria, onde foi chamado de “mito” por eleitores.
Neste domingo o embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa Filho, baixou o tom do discurso feito por ele há dois dias, quando apoiou a resolução do Conselho de Segurança da ONU, que acabou vetada pela própria russa. Ele criticou as sanções e ameaças feitas pela União Europeia contra a Rússia e defendeu uma saída negociada para restabelecer a paz na região.
“O fornecimento de armas, o recurso a ciberataques e a aplicação de sanções seletivas, que podem afetar setores como fertilizantes e trigo, com forte risco de aumentar a fome, acarretam o risco de agravar e espalhar o conflito e não de resolvê-lo. Não podemos ignorar o fato de que essas medidas aumentam os riscos de um confronto mais amplo e direto entre a Otan e a Rússia”, afirmou Costa Filho na reunião que aprovou convocação extraordinária do Conselho de Segurança da ONU para esta segunda-feira (28).
O resultado da votação deste domingo foi o mesmo de sexta: 11 votos a favor, três abstenções e o voto contrário da Rússia. Diferentemente do Conselho de Segurança, no qual membros permanentes têm direito a veto, caso dos russos, na Assembleia Geral da ONU não há bloqueio a resoluções. Mas, diferente do Conselho de Segurança, a decisão da Assembleia Geral não precisa ser seguida obrigatoriamente pelo Estado sancionado.