Vivemos a era das incertezas plenas. Se alguém souber algo sobre para onde vamos, escreva um livro rápido, será best-seller global. As coisas andam um tanto embaralhadas. No século 20 tínhamos a Guerra Fria e sua bipolaridade clara. Essa referência naufragou, embora alguns insistam em enfrentar falsos moinhos de vento ideológicos. A globalização enfraqueceu a autonomia dos estados nacionais. A internet e as redes sociais radicalizaram a integração global. As criptomoedas e a mobilidade do capital financeiro desafiam a capacidade dos Bancos Centrais.
A democracia, ideia supostamente consolidada e vitoriosa, sofre ameaças em vários cantos. O desemprego estrutural e a migração dos que fogem da miséria provocam temores e instabilidade. Será que apenas mercadorias e capitais podem ter ampla circulação? As pessoas não? Que liberalismo é esse? O nacionalismo autoritário ressurge das cinzas entre vácuos e interrogações do mundo contemporâneo. O que nos reservará o futuro?
Quem diria que na terra de George Washington, Thomas Jefferson, Abraham Lincoln, Franklin Roosevelt, Eisenhower, Kennedy, Clinton e Obama, iria surgir um líder disruptivo como Trump? Ele e seu desprezo pela democracia e pelas instituições. Ele e sua desestabilizadora guerra comercial. Ele e seus preconceitos, idiossincrasias e agressividade. E os democratas com dificuldades de erguer um projeto alternativo de poder. Como será o mundo se tivermos mais quatro anos de Trump à frente da nação líder do mundo ocidental?
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E o reinado de 20 anos de Vladmir Putin na Rússia? Seus métodos heterodoxos asseguraram a estabilidade política e o progresso econômico e uma relação contraditória com os EUA de cooperação e conflito. Democracia, pra quê? Pode se esperar daí alguma resposta?
De outro lado, o “capitalismo de Estado”, o “socialismo de mercado”, ou seja lá o que for da China e seu exuberante crescimento econômico que prenuncia uma nova hegemonia, à custa do sacrifício da democracia e de um pragmatismo que incomoda meio mundo.
A Europa, berço da democracia, enfrenta seus dilemas e desafios patinando numa crise crônica sem oferecer horizonte seguro. Sinais contraditórios são emitidos pelo “Velho Mundo”. O Brexit e seus impasses. A Itália dando um chega pra lá no líder ultradireitista, Matteo Savini. Macron, o reformista francês, enfrentando súbita queda de popularidade. A “Geringonça” portuguesa apresentando resultados inesperados. O Psoe de Pedro Sánchez tentando assegurar governabilidade na Espanha. A maior estadista europeia, Angela Merkel, preparando sua retirada de cena com perspectivas sombrias para a próxima eleição nacional. Da Europa também não recebemos respostas animadoras para as angústias do século 21.
PublicidadeSem falar nos mistérios do mundo árabe, na miséria desafiadora da África e do ocaso do bolivarianismo na América Latina.
Muitas perguntas, poucas respostas animadoras. E o Brasil? Ficará deitado em berço esplêndido assistindo aos conflitos e tensões do mundo globalizado. Há muito estamos perdendo oportunidades. Perdemos a rota do desenvolvimento, possuímos desigualdades sociais absurdas, erguemos uma economia diversificada, mas com um grau de fechamento dos maiores e com reformas macroeconômicas necessárias e inconclusas.
Se alguém tiver respostas sólidas, escreva rápido, aguardamos ansiosos. E La nave va!
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