Após cumprir três mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao senador Marcos do Val (PODEMOS-ES) na quinta (16), a Polícia Federal inicia nesta sexta-feira (16) a perícia de computadores, celulares e documentos encontrados no gabinete localizado no 18º andar do anexo 1 do Senado, bem como em suas residências em Brasília e em Vitória, capital do Espírito Santo. A PF planeja primeiramente revisar e estudar o conteúdo das apreensões para ouvir o senador entre quinta e sexta-feira da semana que vem.
A operação foi determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, desafeto declarado do senador, conforme divulgado pelo próprio em inúmeras falas públicas e em postagens em redes sociais. Os mandados da PF incluem um pedido de interrogatório do senador, mas como do Val é parlamentar, ele tem o direito de escolher quando, onde e o horário para prestar depoimento.
Leia também
Algo que o congressista sinalizou formalmente que não pretende fazer, mesmo diante de ampla margem de defesa garantida por lei e demanda do órgão de investigação para que compareça.
A princípio, a PF tinha requisitado um pedido de prisão para o senador na quinta, mas Alexandre de Moraes julgou que não havia elementos necessários para deter o parlamentar. Além de a operação ter sido realizada no aniversário do senador, a sala de do Val que fica dentro de seu gabinete precisou de um chaveiro para ser aberta.
O que levou Marcos do Val a ser alvo da operação da PF?
1 – Em 1º de fevereiro, uma quarta-feira, Marcos do Val participou de uma live com integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) em que disse: “Ficava puto quando me chamavam de bolsonarista. E vocês esperem: Vou soltar uma bomba. Sexta-feira vai sair na ‘Veja’ a tentativa do Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele. Lógico que eu denunciei”. A informação causou alvoroço na mídia e no dia seguinte houve desdobramentos.
Marcos do Val afirmou à revista, em entrevista publicada no dia 2 de fevereiro, que participou de uma reunião com o ex-presidente e o ex-deputado federal Daniel Silveira em 9 de dezembro do ano passado. O plano consistia, segundo do Val, a pedido inicialmente de Bolsonaro, em gravar conversar com o ministro Alexandre de Moraes, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O objetivo era obter flagrantes ou algo que incriminasse o ministro para anular as eleições, uma vez que a gestão Bolsonaro buscava minar o processo eleitoral nacional.
O senador anunciou que renunciaria, mas não cumpriu a proposta.
2 – Marcos do Val presta depoimento à PF sobre a reunião com Bolsonaro e Silveira no dia 3 de fevereiro. O depoimento durou cerca de quatro e o senador mudou a versão inicial. Atribuiu ao então deputado federal Daniel Silveira o plano de gravar o ministro Alexandre de Moraes. Entretanto, o senador afirmou que Bolsonaro em nenhum momento se opôs ao plano. No depoimento, do Val se complicou ao não lembrar o local da reunião, ora teria sido no Palácio do Jaburu, ora no Palácio da Alvorada ou no Palácio do Planalto.
3 – Marcos do Val divulgou documentos sigilosos da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) em suas redes sociais na segunda-feira (12). “Vocês irão ver a prevaricação dos ministros Flávio Dias, Gonçalves Dias, Alexandre de Moraes e do presidente Lula! Agora vocês irão entender o medo que o governo do Lula estava e porque eles estavam tentando de tudo para para não ter a CPMI”, afirmou no twitter.
Ao todo, o senador difundiu quatro páginas de um relatório que circulou pelo Whatsapp no dia 8 de janeiro. Isso causou o bloqueio de seu perfil no twitter. Os documentos da ABIN são uma das estratégias em que a oposição bate mais forte para culpar o governo atual por omissão na data da tentativa de golpe de estado. O senador não deveria ter recebido, nem muito menos propagado as páginas sob sigilo.
4 – Histórico de declarações contra o ministro Alexandre de Moraes em redes sociais. Na quarta-feira (14), do Val afirmou no último tuíte de ser perfil, antes de sua conta ser removida, que o ministro, atualmente relator de um inquérito conduzido pelo STF sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, seria investigado na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da qual o senador faz parte como membro titular. Na semana passada, o senador declarou que vinha se unindo a outros parlamentares para abrir uma CPI para investigar atos de traição do STF ao acusar o ministro Moraes de atos inconstitucionais.
5 – Suspeita de obstrução de justiça. A reunião dos fatos acima deu ignição a uma operação para averiguar se o senador vem realizando movimentações consecutivas para criar múltiplas versões, cortina de fumaça e nuvens de informações desencontradas para criar empecilhos a assim atrapalhar o trabalho de instituições responsáveis por analisar o caso e culpar os reais culpados.