O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) considera inevitável que o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) apresente denúncia contra ele, a qualquer momento, por apropriação de parte do salário de servidores de seu gabinete na Assembleia Legislativa (Alerj). Flávio tem admitido a aliados que este é o “caminho natural” e que dificilmente o Ministério Público deixará de pedir à Justiça a abertura de ação penal contra ele e o seu ex-assessor Fabrício Queiroz, suspeito de operar o chamado esquema das “rachadinhas”.
“A expectativa é de que em algum momento a denúncia será apresentada. O inquérito já foi concluído. É uma questão de tempo. Agora é esperar para ver o que o Ministério Público tem para saber do que ele será acusado”, disse ao Congresso em Foco uma fonte ligada a Flávio sob a condição de anonimato. “O senador tem demonstrado tranquilidade e dito o que externa nas redes sociais: que é uma questão mais política do que jurídica”, acrescenta.
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Este também é o cenário com o qual sua defesa trabalha. Conforme a fonte ouvida pela reportagem, o atual advogado de Flávio, Rodrigo Roca, e sua equipe atuam com uma estratégia mais silenciosa, sem querer chamar para si os holofotes, ao contrário de Frederick Wassef, que deixou o caso após policiais descobrirem que ele abrigava Fabrício Queiroz no interior de São Paulo.
O senador considera que sua principal vitória no caso, até o momento, foi levar o processo das rachadinhas para a segunda instância. Em junho, por dois a um, os desembargadores aprovaram foro especial que leva o inquérito ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça, que decidirá sobre a eventual transformação de uma denúncia em ação penal contra ele. O filho do presidente conseguiu, assim, sair da mira do juiz Flávio Itabaiana, que conduzia com rigor o caso na primeira instância.
Procurada pela reportagem para comentar sobre o rumo das investigações, a assessoria do senador afirmou que nem ele nem seus advogados comentariam o assunto.
Na última segunda-feira (29) o Congresso em Foco publicou nota com a informação de que o senador e o ex-assessor haviam sido denunciados pelo Ministério Público naquele dia. Minutos depois, no entanto, o MPRJ divulgou comunicado negando que a denúncia tivesse sido protocolada.
PublicidadeNa noite dessa segunda-feira (29) o site do jornal Valor Econômico publicou reportagem que afirma que o processo de entrega da denúncia foi interrompido, na segunda-feira, por determinação do procurador-geral do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, após o vazamento da informação à imprensa.
“O motivo, segundo uma fonte que acompanha o caso confirmou ao Valor, foi o fato de informações sobre a denúncia terem sido divulgadas pela imprensa antes mesmo de a peça ter sido formalmente entregue à Justiça. Isso teria irritado o procurador-geral, que então teria determinado a suspensão temporária da apresentação da denúncia. Gussem teria criticado internamente o vazamento de informações à imprensa”, diz trecho da reportagem do Valor.
O Congresso em Foco procurou a assessoria do MPRJ, mas ainda não houve retorno.
O jornal O Globo afirma que a denúncia tem cerca de 300 páginas e aponta Flávio como líder da organização criminosa e Queiroz, como o operador do esquema. Segundo a reportagem, os dois devem ser denunciados por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
De acordo com o jornal, a partir dos dados das quebras de sigilo bancário e fiscal, os promotores concluíram que o senador usou, pelo menos, R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo do esquema das rachadinhas. O Congresso em Foco também procurou o advogado Paulo Emílio Catta Preta, que defende Fabrício Queiroz, mas ele também não retornou o contato.
> Ministério Público nega ter denunciado Flávio Bolsonaro e Queiroz