O presidente Jair Bolsonaro tem uma extensa lista de pretendentes a ocupar a vaga do ministro Celso de Mello, que se aposenta do Supremo Tribunal Federal (STF) no próximo dia 13, após 31 anos de serviços à corte. Esta será a primeira das duas oportunidades que Bolsonaro terá, em tese, de indicar um ministro ao Supremo no atual mandato. A próxima cadeira ficará vaga em julho, com a aposentadoria compulsória de Marco Aurélio Mello, que completará 75 anos. O presidente não pretende antecipar nomes para evitar que seu indicado sofra “processo de fritura” e ele se veja obrigado a rever sua decisão.
Entre os postulantes, estão ministros de Estado e de outros tribunais superiores, evangélicos, juízes e o procurador-geral da República. Alguns deles já tomaram decisões que agradaram ao presidente. Em relação a um dos favoritos, Bolsonaro disse ter sentido “amor à primeira vista” quando o conheceu. Para chegar aos nomes abaixo, o Congresso em Foco ouviu analistas dos bastidores do Judiciário e da política em Brasília. A lista deve engrossar nas próximas semanas com a proximidade da escolha do presidente. O indicado por ele precisará ter seu nome aprovado pelo Senado após sabatina. Até hoje, no entanto, os senadores nunca recusaram uma indicação do Planalto para o Supremo.
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Veja o perfil de alguns dos cotados para a vaga de Celso de Mello.
Jorge Oliveira – advogado e policial militar da reserva, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência tem 44 anos, é amigo e homem de confiança do presidente. Seu pai assessorou Bolsonaro por 20 anos na Câmara. O ministro foi assessor jurídico do atual presidente, quando este era deputado, e chefe de gabinete de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Entrou para o governo como subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República. Foi nomeado ministro em junho de 2019. Foi cotado para substituir Sergio Moro na Justiça.
André Mendonça – advogado e pastor presbiteriano, o ministro da Justiça, de 47 anos, é doutor em direito pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Foi assessor especial do ex-ministro Wagner Rosário (CGU) no governo Michel Temer e professor de Direito. Assumiu a Advocacia-Geral da União (AGU), cargo com status de ministro, assim que Bolsonaro foi empossado. É lembrado como o nome “terrivelmente evangélico” que o presidente prometeu um dia indicar para o Supremo.
Augusto Aras – procurador-geral da República indicado por Bolsonaro, já teve seu nome lembrado para o Supremo pelo próprio presidente em maio. Na ocasião divulgou nota em que manifestou “desconforto” com a citação. No Ministério Público desde 1987, foi o primeiro procurador a assumir a PGR sem figurar na lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) desde 2003. Nos últimos meses intensificou seu discurso contra a Lava Jato e passou a ser acusado por integrantes da força-tarefa de Curitiba de tentar acabar com a megaoperação.
PublicidadeWilliam Douglas – juiz federal da 2ª Região (TRF-2), é autor de 50 livros, entre eles, os best-sellers Como passar em provas e concursos e As 25 leis bíblicas do sucesso. Também é popular na internet, onde acumula mais de 800 mil seguidores nas redes sociais. Professor universitário, foi advogado, delegado de polícia e defensor público. Tem 53 anos e é considerado o nome preferido pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, e pelo pastor Silas Malafaia. É membro da Igreja Plena de Icaraí e defensor da afixação de crucifixos em órgãos públicos.
João Otávio de Noronha – presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), fez carreira na advocacia para o Banco do Brasil e chegou à corte em 2002, após indicação do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Bolsonaro declarou este ano que teve um “amor à primeira vista” quando o conheceu. De janeiro de 2019 a maio de 2020, levantamento do jornal O Estado de S. Paulo indicou que Noronha julgou a favor dos interesses do governo Bolsonaro em 87,5% de suas decisões individuais. Em julho, determinou a passagem para prisão domiciliar do ex-policial Fabrício Queiroz, amigo de Bolsonaro e ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
Ives Gandra Filho – ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), é ministro da corte desde 1999. Filho do jurista Ives Gandra, assim como o pai, é ligado à ala mais conservadora da Igreja Católica, a Opus Dei. Foi professor da UnB e assessor especial da Casa Civil da Presidência da República. Já defendeu publicamente a extinção da Justiça trabalhista e comparou a união homoafetiva ao “bestialismo”. É apoiado pelo ministro Gilmar Mendes e tem a simpatia de militares. Cotado para o Supremo em 2017, no governo Michel Temer, perdeu apoio após a repercussão de algumas de suas posições, consideradas extremamente conservadoras.
Benedito Gonçalves – ministro do Superior Tribunal de Justiça desde 2008, foi papiloscopista da Polícia Federal e delegado de polícia do DF. Virou juiz em 1988. Foi promovido para o Tribunal Regional Federal da 2ª Região em 1998. É o único ministro negro de tribunal superior atualmente. Em 28 de agosto determinou o afastamento do governador Wilson Witzel (PSC-RJ), em meio às investigações da Operação Placebo, sobre irregularidades na contratação de hospitais de campanha, compra de medicamentos e respiradores. Na ocasião, negou o pedido de prisão de Witzel. Tem 66 anos.
Maria Elizabeth Rocha – ministra do Superior Tribunal Militar (STM) desde 2007, foi a primeira mulher (a única até hoje) a assumir o cargo e a presidir a corte. Pós-doutora em Direito constitucional e casada com um general da reserva, fez carreira na Advocacia-Geral da União e assessorou ministérios antes de chegar ao STM. Votou a favor de reivindicações de militares homossexuais. Por causa de suas posições, que muitas vezes se chocam com as do presidente, corre por fora na disputa. É vista como uma possibilidade somente se o presidente resolver indicar uma mulher.
Luis Felipe Salomão – ministro do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No último dia 5, ao assumir o cargo de corregedor-geral eleitoral, defendeu que se julguem “o quanto antes” as ações que investigam a campanha de Bolsonaro à Presidência em 2018. O ministro é o novo relator dos processos que investigam, entre outras suspeitas, o disparo de mensagens em massa pelo WhatsApp. No STJ desde 2008, foi promotor de Justiça de São Paulo, juiz da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro e desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). Tem 57 anos.
Indicado por Bolsonaro ao STF pode herdar processos de interesse do presidente