No próximo sábado (10) completam-se dois anos de uma das principais promessas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro a parlamentares da bancada evangélica: indicar um ministro “terrivelmente evangélico” ao Supremo Tribunal Federal (STF). Na primeira oportunidade de indicar um ministro para a mais alta corte do país, Bolsonaro preferiu o desembargador católico Nunes Marques, nome que à época causou insatisfação entre líderes evangélicos. Dessa vez, Bolsonaro sinaliza que indicará o ex-ministro da Justiça e atual advogado-geral da União, André Mendonça.
Caso isso ocorra, será a primeira vez que um pastor será sabatinado pelo Senado para uma cadeira no Supremo. Ocupando cargos no governo, Mendonça participou de pregações de várias denominações religiosas. Pastor, André Mendonça já pregou na Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília, e acompanhou o presidente em um culto de comemoração aos 110 anos da Assembleia de Deus, em Belém.
Autor de publicações na área do Direito, André Mendonça coleciona ampla produção em vídeos em que prega para fiéis da mesma igreja.
Em um deles, publicado no perfil da Assembleia de Deus de Goiânia, Mendonça fala por 32 minutos sobre Adão, Eva, o jejum de 40 dias e 40 noites de Jesus no deserto, hostes e potestades – para uma plateia que ele mesmo define ter senadores e deputados.
“Nós não podemos nos curvar a qualquer poder que não seja o poder de Deus”, disse Mendonça, durante sua fala. “A nossa responsabilidade é muito grande diante de Deus, até porque a quem muito é dado a muito lhe será cobrado”, acrescenta.
Em abril, Mendonça valeu-se da bíblia, no STF, para defender decisão política de Bolsonaro de abrir templos religiosos mesmo com a escalada da pandemia. Em sustentação oral no Supremo Tribunal Federal, o pastor utilizou a retórica cristã para defender a abertura irrestrita de igrejas, mesmo com o avanço das mortes por covid-19 no país.
“A Constituição Brasileira não compactua com o fechamento absoluto e a proibição das atividades religiosas; não compactua com a discriminação das manifestações públicas de fé, tanto é assim que remédios excepcionalíssimos da própria Constituição não admitem sequer este tipo de medidas adotadas regionalmente”, disse.
A fala do advogado-geral da União agradou a Bolsonaro, que republicou sua argumentação em seu canal do YouTube. “Não há cristianismo sem vida comunitária. Não há cristianismo sem a casa de Deus. Não há cristianismo sem o dia do Senhor. É por isso que os cristãos não estão dispostos, jamais, a matar pela sua fé, mas estão sempre dispostos a morrer, para garantir a liberdade de religião e culto”, disse. “Que Deus nos abençoe e tenha misericórdia de nós. E eu começo por mim.”
Advogado e pastor
Aos 48 anos, Mendonça foi ministro da Justiça entre a saída de Sergio Moro, em abril de 2020, e a reforma ministerial de março deste ano, quando voltou a comandar a AGU no lugar de José Levi. Ele havia deixado a Advocacia-Geral da União para substituir Moro em meio à denúncia do ex-ministro contra o presidente Bolsonaro de tentar intervir politicamente na Polícia Federal para blindar aliados e familiares.
Como ministro, Mendonça encampou ainda mais as pautas bolsonaristas: coube a ele assumir que a pasta produzia dossiês contra membros da administração pública que se denominavam “antifascistas”. Uma decisão do próprio STF proibiu que o governo mantivesse a prática.
Mendonça entrou para os quadros da AGU, segundo seu próprio testemunho, em 7 de fevereiro de 2000, no mesmo mês em que entrou na faculdade de Teologia em Londrina (PR). “Ao assumir, eu não queria nem fazer faculdade: queria ir para o seminário, após cumprir os requisitos e compromisso para que meu pai e minha mãe autorizassem eu ir ao seminário”, disse durante a pregação na Assembleia de Deus, relembrando que, na época, tinha 27 anos.
Em 2006, já ordenado pastor, recebeu um convite para ficar definitivamente na capital, na corregedoria da Advocacia-Geral – e recusou três vezes, sempre cercado “de muita oração e dúvida”. Acabou aceitando e sedimentando sua carreira na AGU. Em novembro de 2018, atraiu os olhos do presidente eleito para comandar a instituição.
“Não estava nos meus planos, muito menos nos meus sonhos ser ministro – mas em vários momentos, eu acreditei nesta palavra: ‘Vós sois a luz do mundo’, e ‘quer ser o maior, seja aquele que sirva'”, conclui Mendonça, em sua pregação, emendando uma anedota. “Quando eu estava no doutorado, ainda a um ano de acabar, o professor me pergunta o que eu quero fazer antes do doutorado, e minha resposta se inicia aos nove anos de idade. Terminando a história, disse que não sei. Disse que quero servir a Deus e meu país.”
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